Domingão e de Carnaval, ainda por cima, não que isso faça
alguma diferença. Às seis e dez, com pequeno atraso, a ordenhadeira já
funcionava.
As baixadas próximas estavam encobertas pela névoa, sinal de
mais um dia quente pra burro, com um Sol senegalês. Se bem que, embora não
conheça o Senegal, diria que lá o Sol forte é chamado “Sol de Bangu”. Ou o “Sol de Carinhanha”, igualmente quente,
quente pra dedéu.
Estou lavando uns equipamentos e entra uma mensagem no
whatsapp. É da Rosa, que foi mais cedo hoje pra casa da sua mãe. Da porteira,
onde ela parou para abrir o cadeado e depois deixa-la aberta, ela diz que tem
um grande galho caído e que vai impedir a passagem do caminhão do leite, além
de dificultar muito a passagem do carro.
Ok, logo mais o marmitão aqui vai lá pra ver o que pode ser
feito.
Estou pondo a leitura em dia, preparando alguma coisa pra
escrever e entram duas ou três mensagens no zapzap...
É o caminhoneiro do leite. Está tentando me ligar no celular, mas não
conseguiu.
Claro que não! O sinal da TIM é a mesma coisa que uma nota
de sete reais.
Aí ele lembrou do zapzap e...
Ele está com o caminhão cravado, atolado, no alto da estrada
de ligação da Usina Ferrari com a vicinal do Brejão, cuja continuação é a nossa
vicinal, a Jayme Nori. Está tentando ligar pra casa do Rubens e do Renato pra
pedir auxílio, mas não consegue.
Normal. Eles têm telefone fixo. Ou melhor, eles “têm”, pois
o fixo da Vivo é o mesmo que uma nota de três reais. Passo pra ele os celulares
dos dois e digo pra ele ligar via whatsapp. Embora distante, principalmente para
ir de trator, é a ajuda mais próxima à qual ele pode recorrer.
Em pleno domingão, claro...
Ligo pra usina... O telefone que tenho só funciona nos horários
comerciais. Que beleza...
Ligo pro celular do responsável da prefeitura pelas
estradas, mas ele não atende. Pena. Não ia pedir pra socorrer, ia pedir o
telefone do “operacional” da usina, pois em 10 ou 15 minutos eles teriam um
trator onde o caminhão do Thiago está atolado, poupando o Renato de umas duas
horas, ida e volta, só de estrada.
Entra outra msg: o Thiago conseguiu falar com o Renato –
santo whatsapp – e ele já está a caminho.
Ótimo.
Ao invés de um domingo estragado, temos dois.
Resolvida essa questão, e agora o Thiago vai chegar aqui
tarde pra burro, sem falar que vai chegar de volta no laticínio ainda mais
tarde, depois de sair dali no auge da madrugada (legal, né?), vou lá pra fora
ver o tal galho.
Pego o celular, claro, não só por ligações, mas pra atender
um programa idiota que ele tem que vive me enchendo os picuás pra caminhar
mais, ser mais ativo.
Ora, vá se catar, bicho besta!
Enfim, ponho o trem no bolso do calção, pego um facão afiado
e lá vou eu em busca do galho caído, um Indiana Jones roceiro e sem chapéu.
Quem me vê de média distância pensa, com certeza, que sou um
pescador de atum de mares quentes em plena faina a bordo do barco.
Bota preta, dinamarquesa, de borracha, até o joelho, com
biqueira de aço protegida por borracha; calção; camiseta; óculos escuros.
Chique. E, cá pra nós, bonitão. Pelo menos é o que minha avó
diria.
(Lembrando da “doce” avozinha do Sheldon, no episódio dessa
semana de The Big Bang Theory – esse é um trecho só pros iniciados.)
No caminho vou decepando todos os pés de joá-amarelo que
vejo. Malditos joazeiros-amarelos e seus espinhos! Delenda est joazeiros!
Viro a “esquina” das duas figueiras e a meio caminho entre
elas e a porteira está o galho tombado, mas ainda preso à árvore.
Saco!
Um galhão cheio de galhos e galhinhos. Vou ter que quebrar
galho a dar com o pau.
Nunca serei tão brasileiro como nesses próximos minutos...
Quebrando galhos.
Na verdade, cortando, mas o quebrando ficou mais legalzinho.
Esse pobre braço direito que já dói ao digitar as usuais mal
digitadas de todo dia, doía ainda mais pelos ataques aos invasores de frutinhos
amarelos e espinhos mortíferos.
Decepar os galhos e empilhá-los acabou de completar a obra.
Deixando de lado o chororô, finda a quebração de galhos fui
até a porteira, mais pra satisfazer o programa imbecil implantado em meu
smartphone.
Até que foi bom.
As lofanteras da entrada estão bem floridas.
As pessoas passam e perguntam e até telefonam, como ocorreu
duas vezes nessa semana que passou, perguntando que árvore é aquela.
Lofantera. Ou lanterneira. Nativa do Tapajós, mas bem
adaptada aqui nessas terras altas de Santa Rita do Passa Quatro.
Fiz as fotos abaixo e voltei pra casa. Agora é esperar o
caminhão, lavar o tanque e... ops, já será hora de começar a ordenha da tarde.
2 comentários:
oi Emersom ,na escola que trabalho tem um pé de munguba quero saber quando posso colher os frutos ,qual mes eles estarão bons?
Aqui no sítio, interior de São Paulo, elas já estão com os frutos quase maduros nesse meados de fevereiro. Eu só presto atenção e sei que amadureceram quando vejo um ou mais caído no chão.
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