Bom dia. Nada melhor que começar esse domingo momesco (ainda
existe isso?), sétimo dia do segundo mês do décimo-sexto ano do vigésimo –primeiro
século da Era Cristã, com essa manchete da Folha de S.Paulo:
“País caminha para a
pior recessão de sua história”
Essa, sem dúvida é a maior – e única, analisando bem –
conquista do lulopetismo.
E antes que alguém de esquerda ou direita fale alguma coisa,
isso não tem a ver com o Bolsa Família, criação de Dona Ruth Cardoso,
implementada no governo Fernando Henrique, ampliada no primeiro governo Lula.
Até aqui nada demais.
O erro, que leva muita gente a criticar o programa, foi sua
transformação em curral eleitoral, ferramenta
chique dos modernos “coronéis” de
uma esquerda atrasada, ultrapassada e muito mais ignorante que a média das
esquerdas burras do planeta. E, transformado em ferramenta eleitoral, foi ampliado além do limite da razão e transformado em esmola ao invés de
ferramenta transitória para melhoria de vida de boas parcelas da população.
Há esquerdas inteligentes? Sim, há, e são saudáveis para a
democracia, gostem disso ou não os radicais que se julgam de direita.
A verdade, porém, é que não temos direita e esquerda modernas
e inteligentes em Pindorama. Pelo menos não organizadas partidariamente.
Há coisa de um ano,
já imaginava, pressentia, que o PIB cairia 4%, o dobro do que pensavam alguns
analistas sérios.
Pessimismo meu? Antes fosse.
O fato é que “lavouras” como Inflação e Queda do PIB se
auto-adubam. Se auto-alimentam. Crescem como bactérias malignas, por
multiplicação celular.
Quando a inflação atinge a marca fatal e diabólica dos dois
dígitos, as pessoas começam a perder a noção da realidade de custos.
Começam a se
defender.
Já contei a história do brócolis que compro muitas semanas
do ano de um mesmo fornecedor há pelo menos 3 anos.
Em setembro de 2014, quando esse indivíduo da espécie Mulher
sapiens investida em presidente dessa república autorizou o aumento do
diesel em 5 ou 5,5% (algo assim), o vendedor de brócolis aumentou o preço de
seu produto de 2,00 para 2,50.
Era o “custo do frete”.
Ora, pílulas, o novo custo do frete deveria impactar o preço
de venda de seu produto em meros, ridículos, 3 ou 4 centavos e isso já com
grandiosa margem de lucro.
Mas, esperto e inteligente, esse agente econômico, que vou
chamar de player, gostem ou não alguns puristas, percebeu que se não aumentasse
bem o preço de seu produto ele ficaria para trás e começaria a perder dinheiro,
pois ele mesmo já começaria a pagar mais caro por outros insumos. E preveniu-se,
claro.
De 2,00 para 2,50. Um
aumento de 25%.
Há quase um mês, esse mesmo player econômico estava com a
cabeça de brócolis a 4 reais.
R$ 4,00
Um aumento de 100%
sobre o preço de setembro de 2014, apenas 17 meses antes.
100% de aumento! O produto dobrou de preço.
Nesse mesmo período de 17 meses, a inflação acumulada foi de
15,26% pelo INPC.
Se usarmos o IGP-M, o índice é de 14,15%.
Todavia, se usarmos o
IPBPP – Índice do Produtor de Brócolis Prevenido e Preventivo – o aumento
foi de 100,00%.
Curiosa, trágica e desgraçadamente, nesses 17 meses caiu o
nível de emprego. Caiu a renda média das pessoas. Caiu a produção industrial. Caiu
a economia. Caiu o PIB.
O meu fornecedor de brócolis não é o único a se comportar assim.
Como produtor de leite eu vivi um processo inverso: o preço pago pelo meu produto caiu nominalmente aos valores de 2011 e de 2012. Se descontar a inflação acumulada, conta que, por motivos de ordem médica recusei-me a fazer, devo estar recebendo hoje o mesmo ou até menos do que recebia em... 2009. Feliz ou infelizmente, não é a realidade de uma produção primária e basicamente doméstica, como essa, que determina o comportamento do mercado.
O que determina o mercado e o comportamento dos preços, porém, é a postura do player padrão, que vem a ser o meu fornecedor de brócolis.
É isso.
Transcrevo, a seguir, alguns trechos da matéria da Folha:
o 0 o 0 o
“A economia brasileira corre o risco de
mergulhar em um período de três anos seguidos de contração, fato inédito desde
1901, início da série histórica.
Dados muito negativos de atividade
econômica referentes ao fim de 2015 e o início deste ano têm levado as
projeções de analistas para o desempenho do PIB em 2016 (Produto Interno Bruto)
a continuar piorando.
O banco Credit Suisse esperava
contração de 3,5% do PIB, mas agora já trabalha com número mais próximo de 4%,
mesma estimativa da instituição para 2015. E, para 2017, projeta um terceiro
recuo, entre 0,5% e 1%.
A última vez que o PIB encolheu por
dois anos seguidos foi no biênio 1930-1931, quando a economia global passava
por crise severa após a quebra da Bolsa de Nova York. Um período de três anos
de contração nunca ocorreu.”
o 0 o 0 o
“O Itaú Unibanco anunciou na sexta (5)
esperar contração de 4% do PIB em 2016. Antes, projetava recuo de 2,8%. Para
2017, estima expansão modesta de 0,3%.
A consultoria MB Associados trabalha
com cenários alternativos: com e sem a presidente Dilma Rousseff.
Se a presidente deixar o governo,
espera queda de 3% do PIB neste ano e expansão de 0,6% no próximo.
Caso Dilma sobreviva ao processo de
impeachment, os números mudam para duas contrações de 4,1% e 1%.”
Uma
observação minha: será que o governo vai pressionar a MB Associados para
demitir seu economista-chefe, Sergio Vale, responsável por essas projeções? Lembram
do ridículo, grotesco caso da analista do Santander que foi demitida a pedido
do grande líder lulopetista? Pois é...
E, vejam só, as previsões daquela profissional revelaram-se até muito mais favoráveis
do que o que veio a acontecer realmente.
o 0 o 0 o
“...nações cujos mercados de trabalho se
comportam de forma semelhante ao brasileiro tiveram, em média, alta anual na
taxa de desemprego de 2,9 pontos percentuais quando viveram contrações maiores
que 2% por, pelo menos, dois anos seguidos.
O resultado ajuda a embasar a
expectativa do Credit Suisse de que a taxa de desemprego —medida pela pesquisa
Pnad Contínua (IBGE)—, que foi de 6,8% em 2014 e deve ter chegado a 8,3% em
2015, alcançará 13,5% em 2017.
O Itaú Unibanco também espera que o
desemprego ultrapasse 13% no próximo ano. ”
o 0 o 0 o
Era isso.
Bom domingo. Bom Carnaval.
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