39º
Aniversário da Revolução dos Cravos
Até hoje canto e sei de cor e salteado a letra de
“Grândola, Vila Morena” (aqui,
no youtube), a música de Zeca Afonso que “meio” que transformou-se em hino do
movimento militar que veio a derrubar a ditadura fascista de Salazar em
Portugal, à época comandada pelo professor Marcelo Caetano.
O ano de 1974 foi duro para nós, brasileiros, que
ansiávamos por liberdades democráticas e vivíamos sob o tacão da ditadura
militar.
Em fevereiro, se a memória não me trai (não vou
pesquisar, escrevo com a memória que tenho e posso cometer um erro ou outro),
um grupamento militar comandado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho
insurgiu-se contra o regime. Foi derrotado sem luta e o major Otelo foi preso.
Transformou-se em nosso herói, meu herói, algo mais que natural para quem tinha
19 anos. Mas o levante de Caldas da Rainha foi o sinal que a ditadura
salazarista não duraria mais muito tempo.
Os militares estavam organizados no MFA – Movimento
das Forças Armadas – que era liderado por um general que tinha lutado nas
colônias africanas, Antonio Spinola.
“Em Portugal é a mesma melodia,
Salazar e a sua democracia.
Com Caetano é a mesma porcaria,
As moscas mudam, mas a merda não varia.”
Essa cantiga virou o meu hino e de muitos outros
jovens. Cantava-o na escola, para desagrado da direção. Muitos colegas
aprenderam e virou um hit (é isso, né?... hehehe).
O clima político em Portugal era tenso – vale uma
pesquisa e uma leitura, pessoal – e alguma coisa pairava no ar além dos aviões
de carreira. Mesmo aqui, tão longe, com um mar imenso a nos separar, sentíamos
isso.
Abril chegou.
De 24 para 25 de abril o movimento eclodiu.
“Grândola” foi uma das músicas transmitidas por uma
rádio, sinalizando para as tropas o início do movimento.
E no dia 25 a ditadura caiu.
O general Spinola assumiu o governo, o resto é
história. Como disse, vale uma pesquisada e a leitura.
Posteriormente, como é natural e humano, os heróis
dos cravos decepcionaram a muitos, a começar pelo major Otelo. A Revolução dos
Cravos feneceu, mudou, transformou-se, Portugal evoluiu, cresceu, as colônias d’África
viraram nações, outras guerras aconteceram...
É a vida.
Hoje relembro aquele ano, relembro discursos
entusiasmados, relembro conhecimentos travados com pessoas que viriam a fazer
parte de minha vida por muito tempo.
Aquele foi um ano, foi uma época, em que acreditávamos
no Brasil. Lutar por democracia era contagiante e bom demais.
O tempo passou e hoje, muitos lutadores de outrora não
passam de reles mensaleiros.
Minha cabeça mudou, minha visão de mundo mudou, meu
conhecimento, ainda minúsculo, é menos minúsculo do que era.
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