A princípio eu não queria,mas como precisava, aceitei.
Coloquei o sítio à venda. As vacas também.
Tudo ia bem, aquele “bem” em que deixamos tudo como está para ver como é que fica, até que num mesmo dia, numa manhã de sexta-feira, as vacas foram compradas, justamente as minhas melhores, as originais. E, ao mesmo tempo, enquanto o comprador olhava a Feiticeira, a Imagem & Cia. bela, na cozinha, tomando um café, recebi uma oferta firme pelo sítio. À vista, bem perto do que eu pedia.
Foram dias de angústia a partir de então.
Fui tomado pela sensação dolorosa de perda.
E foram dias, também, de ouvir recriminações ao meu apego às coisas.
Bom, o sítio nunca foi uma coisa e as vacas menos ainda, assim como meus livros.
Não são coisas, jamais serão, e sempre terei apego a todos eles, esteja isso certo ou errado em termos materiais, filosóficos, espirituais, administrativos, econômicos, o que seja. Carro, por exemplo, é uma coisa, um mero monte de lata e plástico e já vendi inúmeros sem a mínima dor ou má-vontade, muito pelo contrário.
No caso do sítio fiz uma contraproposta. Coisa pouca para o comprador (compradores, pai e filho), mas grande para mim. Queria mais dez por cento em relação à proposta. Vários sinais indicavam que o negócio estava fechado, principalmente pela posição do lado de lá. Que recebeu o dinheiro da safra de laranja e...
Bom, começaram a demorar um pouco. Mas, enquanto isso, vistoriavam o sítio mais uma vez e outra, avaliavam, olhavam a casa, ponderavam, agora já com a presença de uma das filhas. Estava tudo certo, logicamente, afinal, não é por nada, não, mas o Sítio das Macaúbas é recanto de muitos encantos, até mesmo para plantar tudo com laranja ou cana e ganhar dinheiro.
Responderam à minha contraproposta anteontem, sábado, com um valor ligeiramente menor e dizendo que do lado deles estava tudo certo. Bom, ok, está bem, está de bom tamanho. Fiquei de ir ao sítio na segunda (hoje) ou terça-feira para a gente sentar e acertar. Ainda pretendia mais um troquinho, mas já me acostumava ao valor proposto. Na verdade, já estava aceito.
Ontem pela manhã, pleno domingão, tudo mudou.
Ligaram desistindo do negócio.
Coisa estranha em se tratando desse pessoal que conheço bem e há muito tempo.
São sérios, não voltam atrás, têm solidez. A voz do meu interlocutor, o filho e que está à frente do trabalho propriamente dito, todo santo dia, demonstrava constrangimento, muito visivelmente. Reclamou que os custos estão altos, o dinheiro não dá para nada e coisa e tal. É verdade, tudo isso é verdade. Falou mais um pouco até que contou o verdadeiro motivo da desistência: duas das outras irmãs reclamaram, dizendo que estão com problemas de dinheiro, que era loucura comprar mais terra e coisa e tal. Como se trata de negócio em comum de vários irmãos, embora só um trabalhe e conduza tudo (o meu interlocutor), a decisão acabou sendo pela desistência da compra, com certeza para evitar mais atritos familiares. Talvez a irmã que disse ser loucura comprar mais terra ache melhor comprar um carro. Sei lá, tudo é possível.
Bom, agora é voltar à vida real.
Já estava acostumado à necessidade da venda, já estava acostumado à idéia de sua realização, bem no íntimo já contava com o dinheiro para várias coisas. Para chegar a esse ponto, contudo, durante 24 dias vivi um processo muito doloroso de aceitação da perda, do reconhecimento do fracasso, do afastamento de coisas às quais dou imenso valor, embora pareçam tolas. Como o pé de oiti, cuja muda ganhei de um grande amigo, e que plantei perto de casa, já bonito e grande, com sete anos de idade. Ou o pé do meio raro genipapo, que plantei bem ao lado do curral e as minhas araucárias e outras árvores, cada uma com um propósito, cada uma com sua própria história.
Doía, sobretudo, saber que tudo viria terra abaixo para dar lugar a pomares de laranja. Preocupava-me a sobrevivência dos ouriços brigões da matinha. Enfim, era muita coisa para ser processada e quando, finalmente, eu já estava em relativa paz a respeito de tudo isso, vem essa desistência.
Paciência, o sítio continua sendo meu, continua sendo o Sítio das Macaúbas.
Nesses dias, pensei muito, pensei em meus fracassos, mas também nos sucessos, que existiram, sim. Repassei os muitos pontos positivos do sítio, bem como também repassei os negativos, que já havia esquecido e cuja volta à lembrança ajudou-me no processo de aceitação. Há muita coisa nos dois lados, vantagens e desvantagens, como tudo na vida. O que resta, agora, é encarar as vantagens e nelas buscar ânimo. Encarar, também, as desvantagens, e começar a eliminá-las. Pois a vida segue, com o sítio, mas sem as minhas melhores e mais queridas vacas.
Fica, agora, somente a torcida pela venda da casa.
Quanto antes, melhor.
Sim, porque em nenhum momento passou pela minha cabeça desistir, muito pelo contrário. Tanto que já tinha outro sítio em vista, pronto para entrar em negociação, com algum prazo para quitar e algum dinheiro em mãos para começar a tocar, corrigindo erros do passado. O que já está mais do que decidido, é sair de São Paulo, sair da Grande São Paulo, e dar um novo rumo à vida, o rumo, na verdade, com que sonho a minha vida inteira. Está na hora.
Ah, sim, também espero recobrar a vontade e o prazer de escrever, que andaram amortecidos. O motivo vocês agora entendem.
Obs.: as fotos Google, tiradas de satélite, são bem antigas; desde então o Sítio das Macaúbas mudou bastante, mas servem como referência.
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5 comentários:
Parabéns, Emerson! fiquei feliz de não ter vendido o sítio, mas feliz mesmo ficou toa fauna e flora maravilhosa existente à sua volta.Estou torcendo por vc. Gi - Coffe
...Olhe, em seu jardim, as flores que se abrem e nunca as pétalas caídas.
Contemple, em sua noite, o fulgor das estrelas e nunca o chão escuro.
Observe, em seu caminho, a distância já percorrida e nunca a que ainda falta vencer.
Retenha, em sua memória, risos e canções e nunca os seus gemidos.
Conserve, em seu rosto, as linhas do sorriso e nunca os sinais da mágoa.
Guarde, em seus lábios, as mensagens bondosas e esqueça as maldições.
Conte e mostre as medalhas de suas vitórias e encare as derrotas como uma experiência que não deu certo.
Lembre-se dos momentos alegres de sua vida e não das tristezas.
A flor que desabrocha é bem mais importante do que mil pétalas caídas.
E um só olhar de amor pode levar consigo calor para aquecer muitos invernos.
Seja otimista e não se esqueça de que é nas noites sem luar que brilham mais forte nossas estrelas.
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em texto atribuído a Charlie Chaplim e em mensagem de autoria desconhecida.
Obrigado, Gi, bonitas palavras.
Tudo não voltou à estaca zero.
Novas perspectivas e possibilidades apareceram, algo como luzes no fim de um túnel que se divide em ramais, possivelmente saídas. Vamos ver...
:o)
Emerson,que inicio de ano profundo!Poucas pessoas nessa vida passam pela oprtunidade de reavaliar suas atitudes dessa forma.Por esse pto de vista,esse seu momento foi valiosissimo e se torna fonte para muitas mudancas ,mesmo q algumas fiquem somente no interior do seu ser.Por outro lado ,essa grande expectativa ser estourada como um balao de ar e´coisa braba pra alma.
2007 foi um ano assim pra mim,2008 comecou diferente.O problema nao foi solucionado ,mas existe em mim uma certeza q existem coisas q realmente abalariam o meu interior,mas elas tem a ver com a vida dos q eu amo.A comida,a roupa ,o sucesso e o fracasso:tudo passa.
Um grande abraco.Monica r.
Puxa, só estou sabendo agora.Como é que ficou? Se ainda não vendeu, não dá para comprar as vacas de volta?!
Esse ano de 2008 vai ser um ano marcante, pelo visto; pelo menos para nós dois. Eu começando vida nova com um joelho velho, você às voltas com o sítio. Caramba!
Que le vaya bien, querido.
Debaixo dos céus ha um tempo pra tudo ..tempo de comprar e tempo de vender ..diria o autor do Eclesiastes. Ainda sonho conhecer Sapezal-MT, algo me impele ir lá ainda que por curiosidade..
Isto feito te reportarei minha impressão sobre o mencionado lugar..
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