Lamento.
Lamento por várias coisas, entre elas ter deixado esse Olhar Crônico meio abandonado. A alternativa teria sido escrever ranhetices, tristezas, reclamações. Sequer consegui um tom irônico às coisas que até pensei em postar. Sendo assim, fui empurrando com a barriga, empurrando, empurrando... Nem mesmo sei se o momento certo de retorno é esse, mas, vamos lá. A vantagem da internet é que o teclado é cheio de recursos para deixar um texto chato de lado.
Bom, entrou a Abertura do “Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, e é sempre um bom motivo para passar boas imagens para o papel. Papel eletrônico, nesse caso.
Bombinhas
Paradisíaca, ou quase isso, nesse início de século XXI. Nem tanto pela praia, muito mais pelas águas cheias de vida, que permitem mergulhos facílimos e simplesmente fantásticos. Os experts vão me perdoar pelo aparente exagero, é claro que há locais com muito mais vida, sem dúvida. Pensando, porém, no turista comum, praticamente de qualquer idade, Bombinhas permite belas visões do mundo subaquático, apenas beirando as pedras, algumas das quais em meio á areia da praia. Vi, por baixo, mais de vinte diferentes espécies de peixes, além de anêmonas, coral-cérebro – esse, infelizmente, com muitas áreas mortas, algumas delas pelos pés com nadadeiras de turistas desinformados –, estrelas-do-mar, ouriços, carangueijos e até mesmo um pepino-do-mar.
Não só. Vi, também, águas-vivas. Milhões, acho, não me dei ao trabalho de contar, nem poderia. Foi assim: fazia o primeiro mergulho do dia, usando uma camiseta para proteger-me dos raios solares (que penetram, sem problema algum, a até 40 centimetros de profundidade, queimando tanto quanto se a pessoa ficar na areia, “bronzeando-se”). Em certo momento comecei a sentir umas picadas incômodas, uma ardência em vários pontos do corpo, todos mais ou menos próximos ao pescoço. Cheguei a ficar preocupado, achando que estivesse com algum processo alérgico em andamento, mas não dei muita atenção. Um pouco depois fui obrigado, sim, a dar atenção. Os pontos se multiplicavam e só então foi que pensei no óbvio (e que já tinha esquecido...): água-viva, eu estava sendo alvo, ou vítima, de um ataque de águas-vivas. Tive a confirmação ao levantar a cabeça – faço snorkeling com a cabeça enfiada na água, literalmente, olhando para baixo, principalmente onde há motivos para isso, como em Bombinhas – e, favorecido pela incidência da luz no ângulo certo, vi montes de minúsculos guarda-chuvas, pouco mais que microscópicos. Em alguns pontos a água tinha uma aparência leitosa. Bom, tempo de cair fora, claro. Foi o que fiz, mais que depressa. Na praia, vários mergulhadores reclamavam, também. Foi, todavia, uma passagem fugaz, vieram com uma corrente e um vento, voltaram com outro.
E o que fazer nessas horas?
Como eram pequenos celenterados, nada de extraordinário, um pouco de urina jogada sobre a área já seria suficiente para aliviar a queimadura. Certo, fora o lado curioso, isso é bom pro Tom Hanks abandonado numa ilha deserta. No meu caso, fui pra casa, a poucos metros da praia (Santa Catarina é ótima!) e joguei vinagre por cima da camiseta mesmo. O alívio foi imediato e total. A uréia da urina e o ácido acético do vinagre, pelo que sei, aliviam a sensação de queimadura.
Em casos mais graves, como os dos banhistas na Praia Grande, no reveillon, o certo e imediato é procurar socorro médico.
De águas-vivas para beija-flores.
Os danados estão sumidos. O verão é bem mais farto em oferta de alimentos e eles devem permanecer em áreas mais fechadas por aqui. No inverno é diferente e eles freqüentam as árvores e arbustos plantados pelos jardineiros, o que facilita sua visão, sem dúvida.
Na caminhada de hoje, fazendo o circuito “completo” da Fazendinha, nada fotografei. Por incrível que pareça.
Caminhar pela Granja Viana tem me deixado meio deprimido, meio triste, meio revoltado, meio sem-vontade de caminhar. As placas “Vende-se” sucedem-se
Curiosamente, falta visão ou algo parecido aos granjeiros, boa parte dos quais podem ser chamados de pessoas com recursos. A eles e às prefeituras de Cotia e Carapicuíba, se bem que esperar visão desse pessoal...
A compra dos terrenos e a manutenção dos mesmos como áreas de preservação poderiam manter a Granja com suas características, mantendo os preços dos imóveis em alta, ainda mais num horizonte de dez anos (que passam voando). Infelizmente, não há visão e desprendimento de um lado, e visão e inteligência do outro. Sobra apenas o imediatismo por mais dinheiro no bolso e mais dinheiro nos cofres. Uma pena.
Esse, hoje, é meu maior desencanto, pela proximidade com minha vida cotidiana.
Sobre o Sítio das Macaúbas falarei
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2 comentários:
Emerson,
É muito bom fazer uma passeio bucólico pelo seu blog.
Concordo plenamente com você quanto à devastação que o homem faz na Natureza (sim, com N maiúsculo). A ganância humana nos coloca em reclusão, ainda que contra nossa vontade.
Pelo visto, essa devastação nunca terá fim. Pobre de nós, conscientes da nossa pequenez!
Abraços,
Lilly
Olá Emerson, é com muito pesar que li este post no seu blog, sempre adorei viajar lendo seu blog, me sentia lá no Sítio da Macaúbas, é inacreditável que em tempos de conscientização do aquecimento global, em tempos de Al Gore e seu "Uma Verdade Incoveniente", esteja acontecendo isso.
Abraço
Gi - Coffe
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