Finalmente, chegou o horário de verão oficial. Eu gosto dele, mesmo porque já estamos vivendo o horário de verão aqui em casa, e também no sítio, há um bom tempinho. A passarinhada ignora os relógios oficiais, não ligam para o Jornal Nacional, tampouco para a novela das oito, religiosamente às nove, toda noite, exceto aos domingos, quando, presume-se, descansam os atores e descansamos nós, embora o fantástico show da vida não seja muito chegado a descansos, nem mesmo os semanais. Pergunto-me por que cargas d’água ainda dizemos que a novela é das oito? Digressões filosóficas à parte, a passarinhada acorda e começa sua algazarra ainda antes dos primeiros raios do sol invadirem a cozinha.
A cachorrada não fica atrás e, se há luz, é hora do sagrado café-da-manhã, o pão com leite de todo dia. Para as vacas, é a hora de levantar, preguilçosamente, e esperar pela ordenha matinal, dando leite para os humanos e para os bezerros. Para os gatos, é chegada a hora de dormir, antes, porém, também eles têm direito ao café da manhã, no caso leite puro. Barriga cheia, ou mais cheia, é procurar a cama mais próxima para repor as energias gastas durante a noite de caça.
Os dias agora são mais longos, mas não são mais gostosos por causa disso. Não ainda, pois falta o essencial: a luz chegou, mas as chuvas estão atrasadas. De nada adianta esse mundo de luz sem água. É difícil, também, encontrar a beleza repousante de pastos e árvores verdes, plenos de vida, apesar da explosão de flores dos ipês brancos e rosas, dos jacarandás e várias outras árvores, uma mais bonita que a outra. Não adianta, mesmo que os olhos se concentrem na beleza das flores, outros sentidos apontam para a secura do ar, a poeira que as vacas levantam nos seus trilhos preferidos, e uma vaga sensação de inquietude, impaciência, ansiedade.
No tempo certo, já chegaram o primeiro chocotone e o primeiro panetone. Para mim, é o sinal que o ano terminou, daqui pra frente, agora, são apenas pequenos detalhes para fechar o calendário. 31 de dezembro está logo ali adiante, e com ele, o primeiro dia de um novo ano.
E nada das chuvas, só ameaças e pingos esparsos.
Um pouco como a tal da felicidade.
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