sábado, agosto 18, 2007

Raiva e Desânimo versus Indignação

Tenho escrito pouco porque tenho tido muitos momentos de raiva.

E, acreditem, raiva e escrita não são coisas que combinem.

Quando a raiva passa vem um sentimento de desânimo, outro poderoso impeditivo da escrita com um grau mínimo de legibilidade.

Um sentimento que ajuda a escrever é a indignação. Victor Hugo, muito provavelmente, estava indignado quando sentou-se e escreveu “J’Acuse”. Estivesse ele enraivecido e teríamos uma obra-prima a menos na literatura universal. Mas a indignação precisa de um ambiente propício, não para aparecer, mas para se impor. E o nosso problema, hoje, partindo desse ponto de vista, é que vivemos em terreno fértil para indignações mil, mas, justamente por serem tantas, tão abundantes, tão diversificadas, uma sucedendo a outra em velocidade vertiginosa, nenhuma indignação consegue empolgar, consegue sobrepor-se às demais por um tempo mínimo que seja para surtir efeito.

E aqui, possivelmente, pode estar a chave do sucesso governamental: afoguemo-los com indignidades, uma maior que a outra, serão tantas que, num certo momento, deixarão de ser percebidas como tal e simplesmente farão parte da paisagem, estarão incorporadas aos usos & costumes sociais.

Essa teoria explica muita coisa, sem dúvida, mas não me ajuda a escrever algo decente e legível.

Ontem à noite, mesmo, dedilhei um irônico e virulento comentário sobre a diretora da ANAC, aquela senhora flagrada em alegre festa soteropolitana fumando respeitável charuto, enquanto milhares de brasileiros penavam nos aeroportos da vida. E porque escrevi tal ataque? Porque Dona Denise citou um de meus ídolos, Winston Spencer Churchill, ao defender-se e explicar-se sobre o porque do charuto. E, ao citá-lo, Dona Denise disse que ele, Churchill, provinha de família humilde.

Ora, faça-me o favor! Como pode tão alta autoridade republicana, dona de currículo de 13 minutos de duração para ser lido em audiência do Senado, dizer tamanha abobrinha? Nem o fato não-curricular de ter sido colega de faculdade de Zé Dirceu, ex-primeiro-ministro e atual primeira-eminence-grise da República, a perdoa por erro tão crasso. Quanto ao resto, prefiro nada falar, pode ser mais saudável.

Porém, como dizia, ontem à noite escrevi um monte sobre e contra Dona Denise. Reli, reli, reli e deletei. Aí fui dormir, coisa até meio custosa, pois ainda estava raivoso.

As manhãs têm sempre o dom de deixar-me motivado. Um novo dia é sempre o habitual clichê, na linha de promessas que com ele nascem, patati patatá. Clichê ou não, um novo dia é sempre algo animador, além de bonito. Mesmo que logo cedo eu dedilhe algumas mal traçadas e nelas entre Dona Denise.

Estou indignado? Apenas o de sempre.

Mas não estou raivoso. Nem enraivecido.


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2 comentários:

Rafael Calvin disse...

Você pode até achar que não escreve bem e que tem vários lugares-comum na sua escrita, mas eu penso que seu argumento foi muito bom e bem construído!
Parabéns!
Vou te add, posso?

Calvin

Emerson disse...

Obrigado pelas palavras.

Quanto ao add imagino que seja o msn?
Sem problemas, embora eu use muito pouco.

:o)