sexta-feira, agosto 17, 2007

Voando no CAN - Primeira Parte

Congonhas estava ótimo na noite de terça-feira, dia 14.

Céu claro, estrelado, pouca gente no desembarque, pouca gente no embarque.

O check in foi rápido e tranqüilo, o vôo estava no horário, tudo estava bem. Parecia que tínhamos voltado dez anos ou mais.

Pouca gente na livraria e assim circulei com calma, vendo um livro aqui, outro ali. Tudo tranqüilo também na passagem pela revista eletrônica, exceto pela desatenção ou prepotência da funcionária com o detetor manual.

Uma mulher logo à minha frente disparou o alarme ao passar. E a funcionária desatenciosa ou prepotente ou tudo junto, o mais provável, mandou-me passar novamente. Ciente que com essas pessoas investidas de alguma autoridade todo cuidado é pouco, reclamei que o alarme não tocara para mim já obedecendo, como bom carneirinho. Passei novamente, olhando-a diretamente nos olhos, com a cara fechada, recém-terminando uma frase sobre aquilo ser um absurdo.

Grande coisa. Ela nem deve ter dormido de tanta preocupação com meu olhar “assusta burocrata” número 27.

O piso superior de Congonhas é muito bonito e, por que não dizer? – bem luxuoso. Chega a ser chique mesmo. Custou caro e, aleluia, as cadeiras têm descanso para os braços independentes, portanto, dá para sentar sem ficar encostado, disputando espaço com o cara do lado. Pensei em comer um sanduíche, mas desisti. O preço é tão luxuoso quanto as instalações e achei um abuso pagar onze reais e não sei quantos centavos por um sanduichinho bonitinho, mas, provavelmente, ordinário.

Tudo caminhava bem, eu estava sentado, lendo um livro fascinante quando meu sexto ou sétimo sentido (o mesmo que uma única vez falhou e por causa disso voltei de Porto Alegre de jatinho) alertou-me para um aviso: devido a remanejamento de aeronaves, patati, patatá, o embarque para o meu vôo dar-se-ia por outro portão. Meno male que seria, também, num dos portões que dão acesso direto aos aviões, via “finger”.

Ok, vamos para o outro portão. E lá se foi a manada, termo exagerado, claro, mas que, posteriormente, revelar-se-ia muito adequado. E chega de mesóclises nesse texto. Duas já é passar do limite do razoável.

Outros vôos também mudavam de portão. Aliás, pelo jeito da coisa, todos os vôos estavam mudando de portão de embarque. Uma festa.

Falemos a verdade: se colocar esse pessoal da INFRAERO e da ANAC num serviço de estacionamento, a empresa vai à falência no primeiro mês. Os caras não conseguem sequer distribuir os aviões pelas duas dúzias de vagas, o que dirá de estacionar duzentos carros em hora de pico? É um mais perdido e mais incompetente que o outro. Ainda não me saiu da cabeça o “técnico” de não sei qual das duas que deveria verificar a lâmina d’água de Congonhas e o fez de dentro do carro, quebrando o galho para o encarregado do serviço que tinha faltado.

De volta à sala de embarque.

O vôo atrasou.

Normal, não? Faz parte, claro. Sem comentários adicionais.

Atrasou pouco, quase uma hora, apenas. Embarcamos e decolamos já batendo onze da noite. Péssima notícia, claro, afinal, ainda teríamos de pegar um táxi para nos levar de Curitiba até Araucária. É perto, mas mesmo assim chegaríamos de madrugada. Eis que em pleno vôo vem a boa notícia: Joinville estava fechado e pousaríamos em Curitiba.

A notícia pegou a tripulação de surpresa, com o serviço de bordo em andamento e que precisou ser interrompido às pressas. Tive sorte, consegui comer meu sanduíche e enganar a fome que não valia onze reais.

Pena que não consegui comer lendo meu livro. Não cabia, o espaço era insuficiente. Antes, tinha tentado ler a revista de bordo, com bela matéria sobre Bonito e o Pantanal – aliás, matéria para ser vista, pois a leitura, descobri, era pouca e fraca, típica das revistas de bordo ou típica da nova era, apesar dos calhamaços que são cada um dos Harry Potter? – e tampouco consegui. Como o passageiro da frente reclinou sua poltrona, o espaço que sobrou não era suficiente para manter a revista aberta. Isso, dirá a companhia aérea, foi porque eu não reclinei minha poltrona. Verdade, eu não gosto, minha coluna é chata e prefere os encostos mais próximos de um ângulo reto. Bom, como o novo ministro da defesa já tocou nesse assunto do espaço, tá tudo resolvido, ou seja, nada mudará, exceto se for para pior.

Descer direto em Curitiba foi sorte para uns, azar azar para outros. O pessoal que contava estar nas camas joinvilleanas antes de uma da manhã iria de ônibus para a bela cidade catarinense. Cama mesmo, que é bom, só depois das quatro.

E foi assim que o vôo chegou em Curitiba, onde um táxi e seu motorista já meio cansado e sonolento aguardava os passageiros de São Paulo.

Fim da primeira parte.


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