Passei pela porteira e parei a pickup. Desliguei o motor, apaguei as luzes e desci para fechar a porteira. Não voltei para o carro, fiquei parado olhando a Lua. Cheia, imensa, dourada. É a terceira noite da cheia plena e o espetáculo desse começo de noite foi de emocionar. Assim como a visão dela nos dois últimos começos de dia, prateada, fechando a madrugada e revelando a neblina fraca que cobre as grotas e algumas encostas. Os pastos adquirem a mesma tonalidade prateada, o frio já se faz sentir, exige blusa, mas ainda não é intenso. As vacas sentem-se confortáveis, principalmente as Jersey, com sua origem nas ilhas do Canal, frias e úmidas. Os bezerros dormem profundamente, alguns meio escondidos pela grama abundante do bezerreiro.
Nesses finais de madrugada, nesses começos de noite, fico em paz, sinto uma tranquilidade que há muito não sentia, talvez nunca tenha sentido. Aqui é meu lugar, aqui estou fazendo o que sonhei fazer por toda a vida. Demorou, demorou muito, mas essa paz comigo mesmo compensa tudo.
Não gosto de luzes fora de casa, sou um bicho do mato que gosta da claridade difusa das estrelas e do luar, e essas noites claras de outono são quase tão perfeitas quanto as de inverno. Pensando bem, são ainda melhores porque há umidade por toda parte, mesmo depois de alguns dias sem chuva. Poucos insetos ainda incomodam e sentar na varanda para simplesmente olhar a paisagem banhada pelo luar é bom demais. Temos feito isto, mas ainda pouco. Sem uísque, sem cerveja, sem charuto, sem música, apenas luar e paisagem. Trilha sonora não falta, desde um bezerro ranheta até os grilos e algumas aves noturnas. Para mim, assim é o mundo, assim deveria ser sempre.
Há milhares de anos, em noites como essa, saímos da proteção da caverna e olhamos para um céu igual a esse. Nada sabíamos sobre os astros, sobre essas luzes, mas sentimos o seu mistério e seu esplendor. Abstraio as explicações cientificas, elimino-as de meus pensamentos e percebo que estou muito próximo de ancestrais remotos. Evoluímos, associamos astros a deuses e agora explicamos tudo em detalhes tão minuciosos quanto inatingíveis. Nessa hora penso que ciência e religião são a mesma coisa, apenas o homem tentando explicar tudo que vê, tudo que sente.
Bobagem. Melhor sentir, apenas.
2 comentários:
Concordo é melhor mesmo sentir e só. Mais simples, mais gostoso e tão mais fácil. Nos distanciamos demais da nossa Mãe Natureza. Ela nos faz só bem, eu acho....rsrs
Bom, gostei do teu blog e te convido a conhecer meu flog, onde serás muito bem vindo.
Feliz Páscoa e tudo de bom...
Bjs na alma,
Soso
www.soso.omeu.com.br
Boa noite.
Estava no VDK, quando li o teu comentário chamando atenção para este texto "Sob a beleza serena do luar", me despertou saudades e lugares, logo vim bater aqui, é um fato ! Existem coisas na vida da gente de tão simples as vezes nos passam despercebidas, ao ler o texto viajei no tempo indo parar na Fazenda da Grama, perto de Passa três e Rio Claro na antiga Rio- São Paulo,da varanda tínhamos a felicidade de contemplarmos um céu lindamente estrelado, a dama da noite se fazia presente com seu cheiro peculiar, o silêncio só era quebrado quando algum vizinho chegava para prosa, e aí começávamos a falar da causos e assombrações.
Bem Emerson, aproveite, e vez em quando nos fale desta linda vida, que você vai levando aí na roça.
Neste tema estou com você, e não abro!
Um abração.
STSF Olavo
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