terça-feira, abril 21, 2009

Feriadão no sítio



Dia de Tiradentes, numa terça-feira, mas nem parece. Ontem, segundona de feriadão, o dia foi de uma normalidade absoluta, o que pode ser traduzido por “um dia de muito trabalho”, normalíssimo. Saí atrás de peças para a picadeira de cana, inclusive um eixo absurdamente gasto pelo uso intensivo e uma manutenção que pode ser descrita como pouco cuidadosa.


Mexer com essas coisas para mim é novidade, tal como ir a uma tornearia.

Conheço muito sobre tornos: já gravei muitos deles funcionando, controlados por cérebros eletrônicos (desculpem, ainda sou do tempo em que se chamava computador de cérebro eletrônico) e sei que são usados para um monte de coisas importantes, sem as quais nossa vida seria muito pouco confortável.

E, claro, bem informado que sou, sei de tudo o mais importante: ser torneiro-mecânico pode dar acesso à presidência dessa república.


Ou seja, nada sei sobre tornos.


O Toninho, de uma revenda de tudo para agricultura, disse-me que não tinha aquele eixo em estoque, mas que era só levar na oficina que o pessoal “enchia” e ele ficaria perfeito. Carreguei minha ignorância para a oficina e lá fiquei, olhando e admirando o trabalho do torno e do torneiro. Não há cérebro eletrônico na máquina, só o cérebro do operador, controlando suas mãos e seus olhos. Primeiro ele encheu o eixo com metal derretido pela solda elétrica. Depois colocou-o no torno e foi acertando, pouco a pouco, o enchimento feito pela solda. Em menos de meia hora lá estava meu eixo, novo em folha, pronto para trabalhar na picagem de umas 80 toneladas de cana, no mínimo, no decorrer dessa seca que se avizinha.


Na roça não tem jeito: você precisa mexer com mecânica, com torno, com eletricidade, com encamentos, com limpeza de minas e de caixas-d’água...

Tendo um pouco de sorte você consegue mexer até com vacas e plantas.


Minha Saveirinho 95 álcool anda esperta, pra cima e pra baixo. Toda vez que vou a Porto (Porto Ferreira, para os não-iniciados) volto com 300, 400 e até 500 kg de carga na caçamba, sempre farelos para ração. Com chuva, tudo “envelopado” por uma lona plástica, cordas por todo lado para o vento não levantar e a água não entrar.



Pela manhã, ao sair para dar uma forcinha pro Zé Divino, blusa, camisa e camiseta são obrigatórias. O frio já chegou, mas o sol esquenta tudo e o jeito é tirar a blusa e depois a camisa, deixando a camiseta já suada. Dias quentes, noites frias, gosto disso, as vacas também. O Zé já nasceu em lugar parecido, Andradas, em Minas Gerais. faltam algumas montanhas, mas temos nossos morros.


Apesar da trabalheira, dá para ver muita coisa.

As seriemas cresceram seus filhos e já fica difícil distinguir quem é quem. Andam os quatro juntos, o tempo todo. No mundo das seriemas como no mundo dos homens, os filhotes adotaram a moda “canguru” e só deixam o lar paterno já bem crescidos, muito crescidos. Garotada esperta, essa.


A proximidade do final da tarde traz os jogos de luz e sombras. Um pouco a gente tem que parar e observar. Tenho sorte, faço isto desde sempre.


Basta olhar para encontrarmos a beleza.


Ah, é verdade, hoje é feriado, mas eu já falei isso, né?

Nem parece, exceto pelo fato de ir filar a boia na minha sogra.

No mais, a vida segue seu ritmo.



Um comentário:

Anônimo disse...

Moço, como seu blog está chic com esse contador de visitantes catalogados por países! Como vai? Tudo bem? Na correria de sempre, há muito não passo por aqui. Mas os seus escritos continuam ótimos! Pena que não os leio com calma, saboreando um café no Turmalina ou no Frango Assado, pois quando passo já nem páro...mesmo porque estou quase chegando.
Um abraço.