quinta-feira, março 22, 2007

Miscelânea de dias e acontecimentos


Dias confusos.

Corridos, preocupantes, ocupados ao extremo, agravados pela implantação de três pontes de safena em meu sogro, e depois um AVC, felizmente leve, mas, assim mesmo, traumatizante e muito preocupante. Lentamente a vida vai voltando ao seu eixo, e até por conta disso, acabei ficando bastante tempo em Santa Rita do Passa Quatro, dividido entre o sítio e a cidade.

Choveu, finalmente, e choveu bem, a chuva certa, do jeito certo, na hora certa. Mansa, sem causar enxurradas, sem provocar erosão, caindo levezinha por horas a fio. As noites já ficaram mais frescas ainda no verão que findou, dando lugar a esse outono que começa gostoso: fresco e úmido.

Março e abril parecem meses em que se torna mais fácil avistar animais que moram em nossa região. Nesse final de semana, contrariando minhas instruções, o rapaz que cuida dos cascos e ferraduras do Brioso viu uma jararaca próxima à mina e matou-a. Inutilmente, atrevo-me a dizer, apesar de sua ponderação que ela “ia sair dali e podia pegar uma vaca, uma novilha...” Sim, é verdade, ela poderia sair dali, do entorno da mina e do córrego, no meio do capão de mato que protege a água. Mas, por que sairia do seu habitat natural e predileto? É raro encontrarmos jararacas fora da matinha da mina, onde o gado não entra, a menos que por acidente (até porque o gado não deve ter acesso à água em córregos ou açudes, e sim nos cochos). Curiosamente, porém, é comum encontrarmos jibóias nas proximidades da mata, e até no barracão do curral há algumas semanas. E cascavéis, claro, mas, apesar desse plural, vi somente uma cascavel nesses anos todos, e dentro do barracão. Consegui capturá-la e trouxe-a para o Butantan, uma senhora cobra de 1,3 m de comprimento.

Também nesse final de semana avistei, uma vez mais, o que me parece ser uma irara, já terminando de cruzar o asfalto e entrar na macega que margeia o Rio Clarinho. Não foi a primeira vez que avistei esse animal, de corpo esguio e preto, pelo brilhante, cauda longa. E esperto como o diabo, pois nunca consegui flagrá-lo de corpo inteiro, sempre só a metade traseira e o rabo, já adentrando a vegetação que margeia a estrada. Perto da chácara do meu sogro, como gosto de entrar por uma estrada de terra que corta uma área que deveria ser uma reserva, avistei um mutum-pinima bebendo água numa das poças d’água criadas pelas chuvas. Tão logo viu o bico do meu carro, virou-se e entrou no cerradão que marca o local. Aqui, na Granja Viana, eles eram comuns, inclusive freqüentando as árvores do terreno ao lado de casa, mas agora sumiram. Creio que a construção de mais casas e o conseqüente desmatamento, afastou-os daqui; uma pena, e em breve os sagüis – que hoje apareceram cedo em busca de comida – terão sua área tão diminuída que irão, simplesmente, desaparecer.

No sítio fechamos o primeiro silo, uma mistura de capim com milho. Ficou pequeno e muito caro. Incrível como o dinheiro é consumido em qualquer coisa, qualquer atividade realizada no sítio. E, para entrar... Bom, velha e triste história. Pronto o silo, descobri que seria 40% mais barato comprar silagem pronta, de milho, de qualidade muito superior à recém-feita. Agora, Inês é morta e não adianta chorar. Nos próximos dias terei de fazer outro silo, esse de cana, e no tamanho certo: por volta de 45 toneladas. Vai ficar caro, também, mas não há outro jeito, pois a seca já se avizinha e, de repente, não mais que de repente, a gente acorda e vê que não tem pasto algum pras vacas.

E a vida vai seguindo enquanto isso.

Doei um bezerro Jersey pro leilão de arrecadação de fundos para ajudar as obras da reforma da igreja de Santa Rita. Dá dó ver o bichinho ir embora.

O pessoal admirou-se com sua mansidão e docilidade. Basta dizer que nem precisamos tocá-lo para o embarcadouro: o motorista do caminhão, o Ismael e eu conseguimos levantá-lo e colocá-lo no caminhão. Ficou na memória seus grandes olhos escuros olhando para mim e para os irmãos no piquete, comendo o feno que ele também estava comendo. Não gosto dessa parte da vida no sítio, mas é assim que ela é, seja no sítio ou na cidade. O Gilberto, nosso leiloeiro “oficial”, disse que procuraria destacar que o bichinho é bom para ser criado como touro para cobrir vacas mestiças ou holandesas. Tomara que seja esse seu destino e viva confortavelmente.

Isso, por sinal, consolidou minha decisão de trabalhar com inseminação artificial o mais breve possível, usando sêmen sexado, ou seja, sêmen que vai gerar fêmeas com 95% de certeza. Custa caro, é claro, mas mesmo assim compensa, pois é mais barato criar uma fêmea do que um macho, além de evitar o dissabor de ter de se livrar de bezerros machos.

Peguei uma caixinha de leite no mercado...

R$ 1,70...

Para pagar essa única caixinha, preciso produzir e vender cerca de 18 litros de leite, pois, se estiver ganhando muito bem, estou ganhando coisa aí duns oito ou dez centavos por litro produzido.

A caixinha é “longa vida”, chique no úrtimo, coisa de país rico. Em países pobres, como os Estados Unidos, o leite é comprado em embalagens plásticas com um galão de capacidade (quase 4 litros). Essa embalagem custa mais barato que uma única das nossas caixinhas “longa vida”. Coisa de gente rica essa de comprar tudo em caixinhas “longa vida”. Um dia,ainda, os americanos chegarão ao nosso nível.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Bom ter você de volta. Melhoras para o sogro e que a vida siga tranqüila no

sítio.Maria Helena