sexta-feira, maio 01, 2009

Coisas da doce vida campestre





O dia no sítio ontem foi típico: quase passei mais tempo ao volante da Saveirinho do que fazendo qualquer outra coisa. Fui a Porto e voltei com 500 kg de farelos e adubos, além de um feixe de balancins para a cerca da divisa. Um feixe com respeitáveis 30 kg, diga-se. Dizem que a pickupinha suporta 600 kg, é o que dizem. Mas a minha é meio velha, os pneus traseiros, descobri anteontem, além de velhinhos não são os indicados para ela, e mais isso e mais aquilo... Parei na estrada, peguei um saco de adubo na carroceria e coloquei no chão em frente ao banco do passageiro. Peguei outro saco, este de sal mineral, com apenas 30 kg, e coloquei no banco do passageiro. Aliviei a caçamba em 80 kg e toquei pro sítio. Coisas da vida e os pneus agüentaram direitinho.

Vê uma coisa, faz outra, isso e aquilo, era hora de ir até Santa Rita do Passa Quatro.

A vida no sítio é intimamente ligada à cidade, especialmente quando você tem que fazer alguma “obrinha” na propriedade. Um ranchinho sem custo, de repente já custou 800 reais. Coisas da vida e a conta bancária ainda agüenta. Ainda...

Na volta da cidade, com a caçamba carregada de fardos de feno – finalmente uma boa compra, pois o fardo ainda está a caros 6,50, mas esses fardos estão pesados de verdade, com 17 kg cada um, na média, e não demora muito estarão a 8 reais com apenas 10, 11 ou, com sorte, 12 kg – parei num vizinho que está colhendo milho. Não tenho onde estocar, infelizmente, mas assim mesmo comprei 600 kg. O preço, como diria o ministro do imexível, é imperdível. Falando em imexível: ao digitar a palavra, o corretor ortográfico simplesmente aceitou-a. Antigamente rejeitava, mas por erro dele, não do ministro, que também acertou por mero acaso. Outra curiosidade: o Houaiss data sua aparição como circa 1990. O ministro, vítima sofrida de todos os humoristas dessa república, fez história. Quem diria.



De volta ao milho: o jeito vai ser estocar tudo nos tambores que ainda estão vazios e colocar a trituradora em ação para fazer o fubá que será misturado à ração das vacas e à outra para os bezerros. Essa ração, basicamente, é composta hoje por milho moído, farelo de soja com 46% de proteína bruta (PB), farelo de algodão com 38% de PB e sal mineral. Essa composição, hoje, é a mais econômica ou, melhor dizendo, a menos cara. Atualmente formulo uma ração com 18% de PB, mas a partir de agora vou fazê-la com 20%.

Cerca de 1 km antes da porteira, vi o vizinho e dono do sítio pelo qual passávamos parar o carro no acostamento. Parei, também, para ver se era algum problema e porque queria perguntar se ele tinha recebido umas vacas boas – o negócio dele é negociar gado. Estava tudo bem e ele parara para ver a novilha perto da cerca parir. De fato, a bichinha – uma holandesa bonitinha, não muito grande – estava ainda com a bolsa e parte da placenta pra fora, lambendo a cria no chão.

- Olha aí, aproveita e compra ela, te faço baratinho. Só que ela tem só 3 peitos (ou seja, perdeu um dos quartos do úbere), mas mesmo assim vai ser muito boa de leite.
- Hummmmmmmmmmm... Sei não, pegar mais uma vaca com 3 peitos... Já tenho duas no rebanho.
- Isso não é problema, tá cheio de vaca com 3 que dá muito mais leite que outras com 4.
- É, eu sei disso.
- Tem mais: se for uma fêmea que nasceu, é só você criar direitinho até a desmama e ela já te paga metade da vaca, quase.
(O problema é o tamanho desse “quase”, mas isso é detalhe...)

Varamos a cerca de farpado para ver a cria, ainda sendo lambida, mas já bem espertinha, cabeça levantada olhando para esse mundo cheio de novidades, a começar pelos dois bípedes engraçados que estavam chegando perto.

Olha daqui, olha dali, a vaca afastou-se um pouquinho e deu para levantar uma das pernas: uma fêmea.

- Taí, olha que beleza de bezerra!
- É, bonitinha mesmo, e parece esperta.

Foi dizer isso e a bichinha levantou-se, bem disposta, apesar das pernas ainda bambas.

- Bom, vou dar uma pensada, amanhã a gente se fala.
- Olha, demora muito não, porque esse bichinho tem comprador de monte.

No sítio, ainda deu tempo de ajudar com uma coisa e outra na ordenha da tarde, ajudar a picar cana e de repente já estava escuro. Entrando no banheiro, meio moído de cansaço, ansiando pela água quente batendo nas pernas e nas costas, escuto o berreiro do Minuto, o touro Jersey, ficar mais forte. Estranho...

O jeito foi botar calça e botina e ver o que acontecia. E assim começou uma noite daquelas...

O enorme touro branco do vizinho de baixo havia varado a cerca e invadido nossos pastos, território exclusivo do Minuto, assim como as senhoras que por ali pastavam, uma das quais entrando em cio. O que mais impressionou-me é que o bicho já deve estar com mais de 800 kg e continua crescendo, e assim mesmo pulou uma cerca – não muito alta, é verdade – partindo de uma base mais baixa, pois o terreno tem um declive razoável. Foi a primeira vez que isso aconteceu em muitos anos.

E tome canseira e trabalheira. No escuro, usando a lanterna de forma intermitente, andando no meio de pasto alto, entrando em áreas de macegas, a gente nem pensa em cobras, simplesmente avança, mas o meu medo era com os muitos buracos, novos e antigos, de tatus. Um pisão de um de nós ou de uma das vacas e pronto! Fratura. No nosso caso basta ir pro hospital e ficar uns tempos de molho. No caso de uma vaca, tudo que resta é o sacrifício. Para meu medo, a Maga, a Graciosa e a Florinda estavam acompanhando o bonitão invasor. As três prenhes, sendo que a Maga e a Graciosa já estão “chegadinhas” e podem parir a qualquer momento.

Depois de peripécias mil, não conseguimos isolar o touro branco na parte de cima do sítio, mas conseguimos fazer isso com o Minuto. As vacas ficaram ora assustadas, ora curiosas, mas de uma coisa já tinha certeza: o leite hoje cairia bem. Dito e feito: 20% a menos na produção.

Finalmente, consegui ir tomar meu banho. Não sentia cansaço, assim como não senti medo ao tentar conduzir o touro branco para longe no meio do pasto, na escuridão. Puro efeito da adrenalina, circulando “a mil” pelo meu sangue.
A mesma adrenalina que ajudou nossos ancestrais a sobreviver no meio de tigres-dente-de-sabre, mamutes, leões, crocodilos, lobos e outras ameaças terríveis. Sem adrenalina estaríamos extintos.

E assim se foi mais um doce e agradável dia no campo.

Coisas da vida, a doce vida campestre, mas o corpo aguenta e pede mais, até porque hoje é um novo dia.




Minuto, Gracinha, garças-brancas-pequenas e seriemas

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá meu querido amigo blogueiro!!

Quanto tempo!!!!!!!!

Terminei o mestrado, estou agora no doutorado... continuo perdida nas artes africanas...
E vc???
Como vc está???
manda notícia!!!

Bj

Marilia

Susana disse...

Boa tarde Emerson, hoje me deu uma nostalgia e estava lembrando da infância, aí resolvi jogar na net uma coisa que me intriga, mas que nem a net conseguiu explicar. Eu sei o que o chiniqueiro faz, mas não o que é um chiniqueiro, o que significa. Pode clarear minhas idéias?
Obrigadinha