quinta-feira, janeiro 17, 2008

Senado? Para que?


Eram dois senadores por estado, ao lado de uma Câmara com um monte de deputados.

Em 1977, numa manobra destinada a tirar poder da oposição que crescia, o governo militar criou o terceiro senador por estado. Mexeu, também, na representatividade da Câmara, fazendo com que estados mais desenvolvidos e populosos, São Paulo, principalmente, ficassem sub-representados. Foi criado o eleitor brasileiro de 2ª classe, o eleitor brasileiro que reside e vota em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, embora com perdas menores.

Ao lado de tudo isso, no Brasil existe uma excrescência chamada “suplente de senador”. Geralmente é um sujeito endinheirado, que financia campanhas dos sujeitos bons de voto e, se esses morrem ou vão para alguma sinecura ainda mais interessante que a senatorial, os suplentes assumem, sem voto, sem representatividade, sem mandato legítimo, mas dotados de poder, voz e voto como qualquer outro senador. Nem sempre o suplente é um sujeito endinheirado, pode ser um parente querido, também. Aliás, é o caso presente: Edson Lobão – que não se perca pelo nome – foi indicado para assumir o Ministério das Minas e Energia. Em seu lugar, no Senado, assumirá Edson Lobão Filho.

Bom, se o pai nada entende de energia e confessa candidamente sua ignorância, o filho, por sua vez, mais com cara e jeito de playboy do que de vetusto senador da república, assumirá a cadeira do papai a bordo de acusações de sonegação, desvio de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica. O bravo rapaz, com o luxuoso auxílio de seu tio, irmão de seu pai, transferiu uma empresa e todas as suas imensas dívidas para uma empregada doméstica, analfabeta funcional, dona do portentoso salário mensal de 380 reais e uma dívida de 5,5 milhões de reais só para bancos, fora as dívidas fiscais não anunciadas. O garotão assume, reconhece a laranjice, e dela se arrepende, dizendo que hoje não faria a mesma coisa.

Qui bunitinho! Qui gracinha, não é mesmo?

Como prova de sua honestidade e firmeza de propósitos e caráter, ele diz que não pode ser penalizado por essa dívida bancária, pois nem usufruiu do dinheiro. Coitadinho... Claro, nada disso impediu-o de continuar rico – deve ser fortuna antiga, de família, algo que remonta aos tempos de criação das capitanias hereditárias – e comprar um helicóptero. Mas não para seu deleite, apressa-se a dizer a doce figura filian, e sim para uso de mamãe em sua campanha eleitoral.

Ah, sim, mamãe é deputada federal.

Para quem não sabe, a família Lobão é do Maranhão, aquela capitania hereditária da família Sarney, e também o estado com o menor IDH do Brasil pelo menos até o ano retrasado. Confesso que não tive estômago para procurar o atual IDH maranhense.

Portanto, brasileiras e brasileiros – ops, foi maus... – meus estimados leitores, essa doce criança assume uma cadeira no senado, com papai ministro e mamãe deputada federal. No mesmo senado – melhor usar letra minúscula – que absolveu Renan Calheiros, que continua ativo e influente como se nada tivesse acontecido. O mesmo senado que não passa de um clube de velhos – em sua maior parte – amigos, algo como uma Academia Brasileira de Letras, com o agravante de custarem centenas e centenas de milhões de reais à República. Ou, melhor ainda, bilhões e bilhões de reais. Tudo isso para fazer o que?

Nada.

Nada que seja relevante.

Nada que não pudesse ser feito por uma Câmara dos Deputados atuante e composta por pessoas sérias.

Mas esperar o que de uma Câmara que, nesse ano, com boa vontade, trabalhará somente 4 meses? Ah, sim, pois o resto do tempo estará tomado por férias, recessos e a dedicação em tempo integral à campanha eleitoral, pois 2008 é ano de eleições, pois a pujante democracia brasileira, ano sim, outro não, pára o país por conta das campanhas eleitorais.

É...

Pois é, esse texto tem um cheiro ruim, tem um ranço perigoso de aversão à democracia, não tem?

Até pode ser feita tal leitura, mas não é o que eu penso. Sou radicalmente a favor da democracia e de todas as liberdades democráticas, pelas quais militei boa parte de minha vida. Porém, isso tudo que aí está provoca-me engulhos. Sendo mais direto:

Me dá nojo!

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Um comentário:

Anônimo disse...

Emerson,

Nojo é pouco para toda essa sem-vergonhice.
Perdão, mas dá vontade de "expelir pela boca em golfadas".
Abraços,

Lilly