sábado, março 16, 2024

Uma lembrança, uma reposição: A história do "menino do MEP"

 Em 27 de novembro de 2009, a Folha de S.Paulo publicou um texto do Cesar Benjamin. Deu bastante bochicho, muito nhenhenhém e ficou por isso mesmo. O cara, em tese atingido pelo texto, seguiu sua vida, foi condenado por corrupção e depois solto, pena anulada, por conta de... Bom, por conta de.

Voltando ao texto da Folha, postei-o nesse Olhar Crônico na época, mas, sumiu. Alguns posts da época sumiram, mas nada de extraordinário, alguma bobagem feita por esse "jenyo" informático. Pelo sim, pelo não, aqui está o texto novamente. Nem que seja somente para arquivo.

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ANÁLISE

Os filhos do Brasil

Divulgação

Cena do filme "Lula, o Filho do Brasil", do diretor Fábio Barreto, que narra a trajetória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

CÉSAR BENJAMIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A PRISÃO na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de "boi"; a única água disponível era a da descarga do "boi". Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade.
Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano.
Oriundos de São Paulo, Caveirinha e Português disseram-me que "estavam pedidos" pelo delegado Sérgio Fleury, que provavelmente iria matá-los. Nelson, um mulato escuro, passava o tempo cantando Beatles, fingindo que sabia inglês e pedindo nossa opinião sobre suas caprichadas interpretações. Repetia uma ideia, pensando alto: "O Brasil não dá mais. Aqui só tem gente esperta. Quando sair dessa, vou para o Senegal. Vou ser rei do Senegal".
Voltei para a solitária alguns dias depois. Ainda não sabia que começava então um longo período que me levou ao limite.
Vegetei em silêncio, sem contato humano, vendo só quatro paredes -"sobrevivendo a mim mesmo como um fósforo frio", para lembrar Fernando Pessoa- durante três anos e meio, em diferentes quartéis, sem saber o que acontecia fora das celas. Até que, num fim de tarde, abriram a porta e colocaram-me em um camburão. Eu estava sendo transferido para fora da Vila Militar. A caçamba do carro era dividida ao meio por uma chapa de ferro, de modo que duas pessoas podiam ser conduzidas sem que conseguissem se ver. A vedação, porém, não era completa. Por uma fresta de alguns centímetros, no canto inferior à minha direita, apareceram dedos que, pelo tato, percebi serem femininos.
Fiquei muito perturbado (preso vive de coisas pequenas). Há anos eu não via, muito menos tocava, uma mulher. Fui desembarcado em um dos presídios do complexo penitenciário de Bangu, para presos comuns, e colocado na galeria F, "de alta periculosia", como se dizia por lá. Havia 30 a 40 homens, sem superlotação, e três eram travestis, a Monique, a Neguinha e a Eva. Revivi o pesadelo de sofrer uma curra, mas, mais uma vez, nada ocorreu. Era Carnaval, e a direção do presídio, excepcionalmente, permitira a entrada de uma televisão para que os detentos pudessem assistir ao desfile.
Estavam todos ocupados, torcendo por suas escolas. Pude então, nessa noite, ter uma longa conversa com as lideranças do novo lugar: Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari dos Macacos (ou Ari Navalhada, por causa de uma imensa cicatriz que trazia no rosto) e Chinês. Quando o dia amanheceu éramos quase amigos, o que não impediu que, durante algum tempo, eu fosse submetido à tradicional série de "provas de fogo", situações armadas para testar a firmeza de cada novato.
Quando fui rebatizado, estava aceito. Passei a ser o Devagar. Aos poucos, aprendi a "língua de congo", o dialeto que os presos usam entre si para não serem entendidos pelos estranhos ao grupo.
Com a entrada de um novo diretor, mais liberal, consegui reativar as salas de aula do presídio para turmas de primeiro e de segundo grau. Além de dezenas de presos, de todas as galerias, guardas penitenciários e até o chefe de segurança se inscreveram para tentar um diploma do supletivo. Era o que eu faria, também: clandestino desde os 14 anos, preso desde os 17, já estava com 22 e não tinha o segundo grau. Tornei-me o professor de todas as matérias, mas faria as provas junto com eles.
Passei assim a maior parte dos quase dois anos que fiquei em Bangu. Nos intervalos das aulas, traduzia livros para mim mesmo, para aprender línguas, e escrevia petições para advogados dos presos ou cartas de amor que eles enviavam para namoradas reais, supostas ou apenas desejadas, algumas das quais presas no Talavera Bruce, ali ao lado. Quanto mais melosas, melhor.
Como não havia sido levado a julgamento, por causa da menoridade na época da prisão, não cumpria nenhuma pena específica. Por isso era mantido nesse confinamento semiclandestino, segregado dos demais presos políticos. Ignorava quanto tempo ainda permaneceria nessa situação.
Lembro-me com emoção -toda essa trajetória me emociona, a ponto de eu nunca tê-la compartilhado- do dia em que circulou a notícia de que eu seria transferido. Recebi dezenas de catataus, de todas as galerias, trazidos pelos próprios guardas. Catatau, em língua de congo, é uma espécie de bilhete de apresentação em que o signatário afiança a seus conhecidos que o portador é "sujeito-homem" e deve ser ajudado nos outros presídios por onde passar.
Alguns presos propuseram-se a organizar uma rebelião, temendo que a transferência fosse parte de um plano contra a minha vida. A essa altura, já haviam compreendido há muito quem eu era e o que era uma ditadura.
Eu os tranquilizei: na Frei Caneca, para onde iria, estavam os meus antigos companheiros de militância, que reencontraria tantos anos depois. Descumprindo o regulamento, os guardas permitiram que eu entrasse em todas as galerias para me despedir afetuosamente de alunos e amigos. O Devagar ia embora.

 



São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.
Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.
Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.
Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.
O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.

 



Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto.
Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade.
Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada.
A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.
O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.
Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.

CÉSAR BENJAMIN, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.



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domingo, maio 07, 2023

Será? Será que conseguirei?

 Nesse momento, pouco mais de 8 da noite de 2 de maio de 2023, me pergunto:

Será que conseguirei voltar a escrever nesse velho blog?

Aliás, ainda existem blogs nesses dias de whatsapp, tiktok e outros mais que não conheço, não acesso e tampouco tenho vontade de fazê-lo?

Sei lá!

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terça-feira, setembro 25, 2018

O mundo vai acabar? E o Brasil?



Não.
Nem o mundo vai acabar (não agora) e nem o Brasil.
Mesmo que Bolsonaro vença.
Mesmo que Haddad vença.
Coloquei os nomes em ordem alfabética, pois ambos têm o mesmo valor negativo para mim.

Já dono do meu nariz, ao menos em tese, comecei a vida com recessão braba.
A coisa ficou infinitamente pior no final do governo Figueiredo e durante o governo Sarney.
Tempos brabos, tempos do maldito Cruzado.
Veio Collor, veio o confisco, vieram mudanças bruscas, veio um autêntico desgoverno.
Veio Itamar.
Vieram os anos FHC e veio o Real. Respirei, respiramos.
Veio Lula.
Sua vitória coincidiu, grosso modo, com o início de uma fase de ouro para as commodities no mercado mundial. Entrou dinheiro, o mundo parecia perfeito...
Fora de nossas vistas o aparelho petista começava a roubar a União, repetindo o que já fizera em Santo André, por exemplo. O assassinato de Celso Daniel ainda não foi explicado a contento. Muito menos o assassinato de Toninho do PT.
Veio o Mensalão.
Um parênteses, do qual muitos não gostarão, mas não escrevo para gostarem, escrevo para dizer o que penso, “duela a quien duela”, como disse o paspalhão “caçador de marajás” e que pegou os votos dos revoltados “contra tudo isso que está aí” da época: o Mensalão trouxe uma perda amarga para a política brasileira: José Genoíno. Sua atuação no Parlamento fez, faz e fará falta. Nunca votei nele, como nunca votei no PT, mas não posso deixar de reconhecer que era um excelente deputado e contribuía para o bom funcionamento de nossa democracia.

O boom das commodities passou, não foi aproveitado pelo Brasil, pois o governo Lula não teve capacidade, visão e vontade para usar corretamente os recursos que entraram, fora o mundo de dinheiro que foi extorquido, desviado, roubado, etc...
Depois veio o (des)governo da rousseff. Até escrevo Lula com L, mas não escrevo rousseff com R, porque essa fulana teve o descaramento criminoso (foi crime, sim) de mentir para os brasileiros e ganhar sua reeleição montada nessa mentira: a de que a economia ia bem, quando e o seu patético ministro da fazenda, o tal Guido Mantega, já sabiam, já tínham os números da recessão que estava em pleno vigor.

Além de tudo isto, no curtíssimo (historicamente falando) período de 42 anos, tivemos nada menos que 10 – dez! – moedas.
Se contarmos a partir do golpe militar de 1964, chamado de Revolução, tivemos 9 – nove!!! – moedas em 30 anos.
30 Anos! 9 Moedas!
Sem falar nos “planos econômicos”, que incluíram até confisco de dinheiro nos bancos.

Nove moedas em trinta anos...
O Real acabou com isso.
E ainda há quem chame o Presidente Fernando Henrique de “comunista” e outras besteiras...
Para variar, o respeito que ele tem fora do Brasil é muitas vezes maior do que o que tem aqui dentro. Normal, estou cansado de ver isso no futebol, por exemplo.


Em alguns dias completarei 64 anos de vida. Nesse período vivi grande parte do que relatei acima.
Comecei a trabalhar em 1965, meio na base do mais ou menos, o que incluiu ser entregador de remédios de uma farmácia e balconista numa lanchonete na qual meu pai tinha sociedade. Casei em 1975. Militei na esquerda trotskista, militei por anos no velho PCB, uma escola de política, abandonei a militância (vestia, então, a camisa do MDB, pois a outra era ilegal) em 1985, no dia em que o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves para a Presidência dessa República. A essa altura do campeonato minha ilusão esquerdista já era apenas uma lembrança do passado. Rigorosamente falando nunca fui um militante fiel, fidelíssimo, na cabeça e no coração. A cabeça mandava mais que o coração. Meu coração sempre foi democrata, adoro eleição, adoro o ser e o porquê da Democracia, mas houve um período em que minha cabeça ditou-me que resistir era preciso, lutar contra o regime militar era preciso e o caminho atraente, simpático e doce da militância de esquerda estava aberto e nele adentrei.
Arrependimento zero, faria tudo novamente nas mesmas circunstâncias.
Acredito em mudança e tenho que acreditar, pois a biologia é um de meus maiores amores, e a biologia nos mostra (e a geologia também), mais ainda que a História, que:

Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”.

Versos de um português chamado Luiz de Camões, escritos lá se vai meio milênio.
Há algo mais moderno que isso? Desconheço.


Então, voltando à nossa vaca fria, aos dias de hoje, sobreviveremos ao cataclisma Bolsonaro... Sobreviveremos ao cataclisma Haddad/PT.
O ideal é que não venha nem um, nem outro. Há uma alternativa lógica, confiável, praticamente perfeita, mas ela demanda pensar, analisar, ponderar, enxergar a realidade e o futuro com olhos não turbados pela raiva ou pela fé religiosa.

Essa alternativa é Geraldo Alckmin.

“Ah, tava demorando pra fazer propaganda do candidato dele!”
Pois é, demorei, né?
Mas atente, indignado, revoltado e raro leitor, que antes de fazer a minha propaganda eu disse que sobreviveremos, caso vença a eleição um dos dois nomes que citei.
Sim, sobreviveremos, para recomeçar tudo.
Mais uma vez.
Talvez até um novo PSDB e um novo Fernando Henrique e um novo Real...
Afinal, sobrevivemos à loucura de 9 moedas em 30 anos, né?
Esse futuro, porém, será definido nos próximos dias.


Você é parte da decisão sobre o futuro que nos aguarda. 

segunda-feira, junho 04, 2018

Fim de uma história, começo de outra



O presidente da Bayer disse, em coletiva, que a marca Monsanto será extinta, não mais será usada nos produtos que a companhia criou e desenvolveu.

Embora esperada, essa é uma notícia muito triste para mim e para dezenas de milhares de pessoas por todo o mundo que tiveram a felicidade de trabalhar na Monsanto Company.
Muita felicidade!

A Monsanto foi uma escola maravilhosa nos mais diversos aspectos.
Ali aprendi muito nas mais diferentes áreas.


Tive e tenho um orgulho enorme, um prazer imenso, de ter dado minha microscópica contribuição para o crescimento do uso de Roundup em todo o Brasil. 
Graças à Monsanto eu conheci todo esse imenso Brasil agrícola, um mundo maravilhoso que os brasileiros, em sua maioria, desconhecem.

Percorri quilômetros infindáveis em pleno agosto, muitos agostos, pelos vastos cerrados nos meados dos anos oitenta, vendo as nuvens de poeira que o vento levantava dos solos arados e gradeados. 

Poucos, pouquíssimos anos depois, já no fim daquela década, os mesmos quilômetros, milhares deles por BRs e vicinais, muitas em terra, BRs inclusive, já não via as nuvens de poeira. Já não vi os ventos quentes e secos levantarem os “rodamoinhos” ou “remoinhos” de terra vermelha subindo para o céu.

O plantio direto já estava em uso.


Os agricultores brasileiros, heróis, heróis de verdade e não de propagandas, em poucos anos adotaram a nova tecnologia, apreenderam, tanto quanto aprenderam, o conceito de produzir sem mexer na terra, sem arar, sem gradear, sem pulverizar o solo.


Plantio direto.
Solo protegido.
Natureza protegida.
Rios cristalinos, mesmo depois de pancadas de chuva homéricas.


Tudo isso graças ao Roundup, um produto maravilhoso que revolucionou a agricultura mundial.

Ah, eu sei, falam mal de Roundup. Falam mal da Monsanto.

Sem problemas, a humanidade é assim mesmo, paciência.
Críticas feitas por quem não conhece agricultura.
Críticas feitas por quem não faz agricultura.
O que torna fácil demais criticar.
E sem valor algum.


A Monsanto não parou no Roundup, ela foi muito além com sua contribuição à agricultura e ao combate à fome nesse planeta.


A Monsanto introduziu as plantas geneticamente modificadas e, antes delas, o Lactotropin, marca comercial da somatotropina bovina, fantástica ferramenta para aumentar a produção de leite. 
Foi, para mim,  um momento maravilhoso, poder acompanhar e colaborar com a introdução desse produto no mercado, uma categoria nova, revolucionária, que, acreditava, mudaria para melhor as perspectivas da humanidade.

As plantas geneticamente modificadas, começando pela soja, maior fornecedora de proteínas desse planeta, melhoraram e aumentaram a produção de alimentos. E também baratearam seus custos de produção em termos reais. 

Ao mesmo tempo, propiciaram a prática de uma agricultura com menor dispêndio de energia para a produção de alimentos... Não na mesma quantidade, mas em quantidades maiores! Mais alimentos com menos energia no sistema de produção.



Uma marca atacada

Infelizmente, porém, forças diversas e espalhadas por muitos países atacaram esses desenvolvimentos desde o começo. Tal como ocorreu quando as primeiras vacinas chegaram ao mercado.
Os ataques foram fortemente concentrados na Europa Ocidental e permanecem.

Pessoalmente, acredito que o fato de a empresa ser americana em muito contribuiu para a violência e persistência dos ataques.

Sempre acreditei e sigo acreditando que há um fundo político por trás deles. Assim como há distorções e informações erradas. Erradas e propositais.

A dar-se crédito ao que dizem os detratores, as autoridades de saúde e ambiente dos Estados Unidos da América são tão ignorantes quanto venais. Não vou me alongar nisso tão grande é o absurdo dessa ideia, e quem tem um mínimo conhecimento do que seja a América, como os americanos se referem ao seu país, entenderá a grandeza desse absurdo.

Agora, com a Monsanto extinta e existindo somente a Bayer, acredito que haverá uma mudança no teor e na intensidade dos ataques. Certas coisas não morrem ou morrem devagar demais, como o nacionalismo cego e exacerbado, ainda que sob mil disfarces moderninhos e de nomes sonoros e bonitos.
E vazios.



A Monsanto me deu muito mais que conhecimento.
A Monsanto me deu uma segunda família.

Conheci e trabalhei com pessoas maravilhosas, com as quais aprendi e com as quais ainda hoje convivo. Aliás, convivemos. Os “ex-Monsanto” têm muito em comum, começando pelo amor à companhia e, também, não se assustem, gratidão.

Sim, sou grato à Monsanto pelos anos que lá vivi e pelo que aprendi.



Podem eliminar o nome, mas o plantio direto está aí e as plantas transgênicas também.

Pessoas comem, o solo segue protegido, os rios que atravessam imensas áreas agrícolas continuam cristalinos.

Nisso tudo tem o dedo da Monsanto e de todos que nela trabalharam, no Brasil e em todo o mundo.


Bom... Sim, eu sei que é meio bobo, meio cafona, meio sei lá o quê... E estou me lixando, por isso vou terminar esse texto dizendo o que está no meu coração:

Monsanto, eu te amo. Obrigado por tudo.



domingo, julho 23, 2017

Solstícios, frio, escuridão, a luz e o calor



Entrei em casa e fui direto pra cafeteira preparar um café nessa manhã gelada. Comecei a dar as mamadeiras para os bezerros ainda no escuro... É, as barriguinhas roncam mesmo sem luz e os berros “quero leite” começam cedo.
Enquanto a cafeteira trabalha, tento digitar com os dedos endurecidos e revoltados.


Há dois dias, em 21 de julho, terminou o pior período do ano para quem vive da produção de alimentos. É o período das 60 noites mais longas do ano (e também das mais geladas, diga-se).
Dia 21 de junho foi o solstício de inverno, ou seja, a noite mais longa, o dia mais curto, a mudança de outono para inverno. Sua contrapartida, o solstício de verão, dar-se-á em 21 de dezembro, às 14h28. Será o dia mais longo do ano, o apogeu da época de crescimento das plantas e logo em seguida as colheitas. Portanto, nos 60 dias que começam em 21 de maio e terminam em 21 de julho as plantas crescem menos ou nada em função da redução do período de fotossíntese. Para nós, brasileiros do Centro e Sudeste, esse período é marcado por chuvas poucas ou inexistentes. Ou seja, as plantas deixam de ter luz, calor e água ainda por cima...



Essas datas são simbólicas e estão presentes no imaginário e na cultura de todos os povos, inclusive entre os cristãos, lembrando que nossa cultura é cristã, independentemente de crença.
Cristo nasceu, de acordo com a tradição católica, num solstício de inverno, ou seja, a noite mais longa que, no caso, foi no hemisfério norte. Depois dela, começa o “reinado da luz sobre as trevas” e será com a luz que a vida prosperará (o plantio e as colheitas, lembram do que disse acima?).


Peraí...

Pronto, café na caneca e já meio bebido...
Ah, minhas mãos e meus dedos, principalmente, dão sinais de vida... Alvíssaras!



Como dizia, já estamos no reinado em que a luz deve prevalecer, mas, aparentemente, a assessoria de Sua Excelsa Majestade, o Astro-Rei, que o vulgo conhece e chama de Sol, ainda está dormindo... Ou embriagada com os vinhos dos festejos, pois Sua Majestade mal e mal botou sua cara no horizonte e calor que é bom...
Neca de pitibiriba...


Prosaicamente falando, isso me leva a concluir que é hora de arrumar dinheiro (vou jogar na loteria) e instalar uma traquitana completa de aquecimento solar aqui em casa pra ter água quente nas torneiras. 
Uma utilidade a mais para Sua Excelsa Majestade, etc, etc...
(Tô puxando o saco dele, repararam? Sou interesseiro...)



domingo, junho 25, 2017

O contra-ataque da falsa verdade

O contra-ataque da falsa verdade

André Singer foi porta-voz e secretário de imprensa na presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Consta em seu currículo que é “cientista político” e é professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo.

Singer é colunista do jornal Folha de S.Paulo, um jornal que tem um corpo de colunistas tão grande quanto variado em suas tendências ideológicas, representando, creio que bem, o pensamento político brasileiro.


Na edição de ontem, sábado, 24 de junho do Ano da Graça de 2017, como se escrevia em priscas eras, Singer escreveu o texto que transcrevo integralmente mais abaixo.
O título é poderoso: “Delação da JBS revela corrupção selvagem”; poderoso, forte, não é mesmo?

Sim, muito forte, mas atrasado muito tempo, afinal, a “corrupção selvagem” foi revelada na delação de Marcelo Odebrecht e nas delações dos então virtuais donos da Petrobras, a estatal que foi usada como caixa pagadora de roubos que fariam Ali-Babá e seus 40 ladrões se esconderem nos chinelos com vergonha de suas insignificâncias.

A “corrupção selvagem”, que nada mais é que a transformação da velha, doméstica, histórica e comezinha corrupçãozinha em programa, ferramenta e estratégia de poder, além de enriquecimento pessoal, teve seu início com a chegada dos “companheiros” do PT e seus aliados ao poder. Ao poder federal, pois no nível municipal ela já era prática corriqueira, como prova o assassinato até hoje não esclarecido do então prefeito de Santo André, Celso Daniel. E, muito provavelmente, o assassinato de outro prefeito petista, o de Campinas, Toninho do PT. Entre os dois assassinatos decorreram pouco mais de 3 meses... 

Três meses... Há quem acredite em coincidência.



Bem, voltemos à “corrupção selvagem” em seu viés singerista.

O texto de Singer tem 418 palavras. Nelas, ele refere-se a Michel Temer de forma direta ou indireta, 4 vezes. E a Aécio Neves refere-se 3 vezes.
Em um trecho, o “cientista político” diz “o faturamento do grupo subiu de R$ 4 para R$ 170 bilhões entre 2006 e 2016”, mas não diz uma palavra sobre o que permitiu tal crescimento.

Ou melhor, diz, sim: “A cada obstáculo, os empresários iam comprando, igualmente, homens públicos por baciada. Não espanta que tenham terminado com uma carteira de 1.800 deles no bolso”...

Não é elegante essa escrita?
E despudorada?

Talvez por ser “cientista político” Singer tenha esquecido, se é que o soube, que esse crescimento deu-se com dinheiro tomado ao BNDES a juros de 4% ao ano. 

Para abastecer o caixa do banco de desenvolvimento, o Estado, na forma do governo petista, pegava dinheiro no mercado e pagava por ele 14% ao ano. A falta de conhecimento (?) de Singer das coisas vis da vida, como é o dinheiro, impediu (?) que ele soubesse que o joesley, seu irmão e cúmplices, pegaram dinheiro no BNDES mesmo tendo ficha suja, mesmo aparecendo como maus pagadores do – pasmem! – INSS. Maus pagadores, grandes devedores do INSS e o governo emprestou/deu-lhes bilhões e bilhões...


Apesar de colocar o período de crescimento de joesley et caterva, colocando como fonte a revista Exame, Singer mostrou o boi, mas não falou o nome do boi.
Ganha um doce quem acertar o nome desse boizão...

É o boi lula-rousseff.


Em minúsculas, escriba? São nomes próprios, tal como Joesley, e portanto devem ser escritos com inicial maiúscula.

Ah, é? Ora pílulas, por que cargas-d’água eu devo escrever esses nomes respeitosamente com iniciais maiúsculas?
São bandidos. São ladrões. São enganadores. Que diabo de respeito merecem?
Por mim, apenas o respeito da lei. É o máximo e é o mínimo, ao mesmo tempo.
E já está bom demais, vá saber que tipo de respeito existiria em situações semelhantes na RPC ou na Coreia subdesenvolvida, a nortista...


Como dizia, os nomes Lula e Rousseff (ah, o respeito às normas gramaticais...), cujos portadores abriram os cofres republicanos para os donos do JBS, com as necessárias contrapartidas, é claro, para cofres pessoais e partidários (será que o ministro do Supremo que fez campanha por Rousseff irá atrás desses cofres pessoais ou vai se contentar com as denúncias do dinheirinho “di pinga” entregue para os atuais denunciados?), não aparecem no texto do cientista político, ex-porta-voz e secretário de imprensa de um dos nomes ocultos. 
Um mero esquecimento é que não foi...


Ao ler o texto do Singer mais abaixo, atentem para o elegante “corrupção à moda antiga...”
Atentem, também, à culta, esperta, malandra citação de Abraham Lincoln...
E tirem as ilações devidas.



Esse texto do Singer é importante, é muito importante.
Ele sinaliza a palavra de ordem do momento: força total contra Aécio e Temer.

Delenda est PMDB!

Delenda est PSDB!


Nesses dois partidos (o PMDB não é um partido na acepção da palavra) reside a semente, a árvore e os frutos do mal.

Nada mais se fala do PT. Ou, quando muito, muito pouco se fala.
Singer, por exemplo, nem o nome do partido cita.


Se alguém disser que não é isso sintomático, não sei mais o que seja sintomático.

A ideia é, simplesmente, igualar o PT aos outros. 

O PT é só mais um, todos são iguais, todos são igualmente ladrões, o que é lindo num país em que a mulher pobre que rouba alguns produtos de supermercado pega 7 anos de cana brava e o joesley (de volta à minúscula) pega zero cana e fica livre, leve, rico e feliz em Noviorqui, frequentando pontos chiques, inclusive, segundo imagens que correram pelas redes sociais, sex shop.


Pois é, todos são ladrões, todos são iguais.


Direta já!
O grito pelo qual tanto lutamos durante a ditadura militar está agora prostituído.
“Direta já!” interessa, de fato, a um só grupo, o mesmo grupo que açambarcou o poder entre 2003 e 2016. E que, tecnicamente, ainda detém o poder, pois o atual presidente foi eleito por esse grupo.

Como se diz em moderno português...
#ficaadica


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Delação da JBS revela corrupção selvagem


A delação de Joesley Batista, recém-validada pelo STF, bem como a entrevista do mesmo à revista "Época", permite vislumbrar aspectos novos do processo em curso no Brasil. A narrativa dos Odebrecht revelava detalhes do sistema sedimentado que ligava empreiteiras e candidatos desde os anos 1940. Já as peripécias contadas pelo dono da JBS parecem dizer respeito a modalidades meio improvisadas, típicas de certo novorriquismo da corrupção recente e, ainda, em estágio de provas.
Perto do "departamento de operações estruturadas" do conglomerado baiano, a sistemática onívora da JBS soa caótica. Tomados por uma febre juvenil de crescimento, os donos do frigorífico adquiriram, em poucos anos, não apenas congêneres em dificuldade no exterior, mas indústrias de alimento em geral, e até a tradicional Alpargatas, para não falar de uma fábrica de celulose e de uma usina termelétrica. Com isso, o faturamento do grupo subiu de R$ 4 para R$ 170 bilhões entre 2006 e 2016 ("Exame", 7/6/2017). Enriquecimento súbito.
Uma expansão tão acelerada implica também centenas de problemas urgentes a resolver, desde a obtenção de empréstimos e coinvestidores de alto poder financeiro até a compra de gás direto da Bolívia, bypassando a Petrobras. A cada obstáculo, os empresários iam comprando, igualmente, homens públicos por baciada. Não espanta que tenham terminado com uma carteira de 1.800 deles no bolso.
Uma vez compreendido o mecanismo, torna-se fácil remontar o que ocorreu. Políticos dispostos a se vender existem, e sempre existiram, em todas as democracias do mundo: havendo dinheiro, o negócio fecha. Lembre-se, caro leitor ou cara leitora, do filme "Lincoln", já citado aqui, e o modo como se deu a conquista da emenda que, finalmente, declarou extinta a escravidão nos Estados Unidos da América.
Surpreende, contudo, a facilidade com que personagens tradicionais, experientes e alocados no topo do Estado, como Michel Temer ou Aécio Neves, caíram na rede estendida pelos Batista. A serem verdadeiras as histórias contadas, o presidente da República era pródigo em pedidos domésticos, como o pagamento de um aluguel ou a ajuda a um amigo. Nas palavras do delator, apresentava seus pleitos de maneira despojada. Se não fossem atendidos, paciência; depois, viriam outros.
De fato, o diálogo gravado com Temer no Palácio do Jaburu em março trai o clima ameno de "eu te ajudo, você me ajuda, e está tudo bem". Do mesmo modo, o pedido fatal do presidente afastado do PSDB —igualmente grampeado— destinava-se a gastos pessoais.
Ambos acabaram, no fim, mais expostos do que os envolvidos na "corrupção à moda antiga". 





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 André Singer - Folha de S.Paulo - 24/6/2017

Delação da JBS revela corrupção selvagem


A delação de Joesley Batista, recém-validada pelo STF, bem como a entrevista do mesmo à revista "Época", permite vislumbrar aspectos novos do processo em curso no Brasil. A narrativa dos Odebrecht revelava detalhes do sistema sedimentado que ligava empreiteiras e candidatos desde os anos 1940. Já as peripécias contadas pelo dono da JBS parecem dizer respeito a modalidades meio improvisadas, típicas de certo novorriquismo da corrupção recente e, ainda, em estágio de provas.
Perto do "departamento de operações estruturadas" do conglomerado baiano, a sistemática onívora da JBS soa caótica. Tomados por uma febre juvenil de crescimento, os donos do frigorífico adquiriram, em poucos anos, não apenas congêneres em dificuldade no exterior, mas indústrias de alimento em geral, e até a tradicional Alpargatas, para não falar de uma fábrica de celulose e de uma usina termelétrica. Com isso, o faturamento do grupo subiu de R$ 4 para R$ 170 bilhões entre 2006 e 2016 ("Exame", 7/6/2017). Enriquecimento súbito.
Uma expansão tão acelerada implica também centenas de problemas urgentes a resolver, desde a obtenção de empréstimos e coinvestidores de alto poder financeiro até a compra de gás direto da Bolívia, bypassando a Petrobras. A cada obstáculo, os empresários iam comprando, igualmente, homens públicos por baciada. Não espanta que tenham terminado com uma carteira de 1.800 deles no bolso.
Uma vez compreendido o mecanismo, torna-se fácil remontar o que ocorreu. Políticos dispostos a se vender existem, e sempre existiram, em todas as democracias do mundo: havendo dinheiro, o negócio fecha. Lembre-se, caro leitor ou cara leitora, do filme "Lincoln", já citado aqui, e o modo como se deu a conquista da emenda que, finalmente, declarou extinta a escravidão nos Estados Unidos da América.
Surpreende, contudo, a facilidade com que personagens tradicionais, experientes e alocados no topo do Estado, como Michel Temer ou Aécio Neves, caíram na rede estendida pelos Batista. A serem verdadeiras as histórias contadas, o presidente da República era pródigo em pedidos domésticos, como o pagamento de um aluguel ou a ajuda a um amigo. Nas palavras do delator, apresentava seus pleitos de maneira despojada. Se não fossem atendidos, paciência; depois, viriam outros.
De fato, o diálogo gravado com Temer no Palácio do Jaburu em março trai o clima ameno de "eu te ajudo, você me ajuda, e está tudo bem". Do mesmo modo, o pedido fatal do presidente afastado do PSDB —igualmente grampeado— destinava-se a gastos pessoais.
Ambos acabaram, no fim, mais expostos do que os envolvidos na "corrupção à moda antiga". 





domingo, abril 23, 2017

Broadchurch... Uma série para ser vista, apreciada, nunca esquecida



Broadchurch.

Que série policial fantástica...
Diferente.
Tem, sei lá, um jeito, a british way of seeing, muito diferente da visão de Hollywood...


Menos direto, mais tortuoso.
Menos heróis, mais humanos.
Menos protagonistas, mais vidas.
Uma dramaturgia menos, mas que é mais.


Talvez, e talvez eu escreva uma grande besteira, mais uma, mas repensando agora sobre a primeira e a segunda temporadas, há uma influência de Shakespeare, no número de personagens, na participação e no entrelaçamento entre todos eles,  com tramas e subtramas e com os dramas pessoais, com as decisões tomadas e os custos que elas acarretam aparecendo com todas as dores e cores.


Os cenários, as luzes, as alvoradas e ocasos, os espaços amplos e o ser humano em seu meio, aparentemente perdido, tudo isso talvez seja um pouco exagerado... Shakesperiano.


Os atores, bom, sei lá, não são assim ‘’uma brastemp’’ em termos de visual, novamente voltando aos parâmetros de Hollywood e de Nova York.

Fazem o tipo gente, entende? 
Gente como a gente no dia a dia. 
Decididamente, gente que encontramos no escritório, no mercado, no metrô, na escola... e em nossas famílias.


Muitos diálogos, muitas cenas que seriam gravadas numa sala, num escritório, num local aparentemente ‘’tudo a ver’’, se desenrolam sob a sombra dos imensos penhascos de Dorset ou em seus descampados. 

Até a igreja da pequena cidade é imensa, quase uma catedral pelo tamanho, mas, curiosamente, passa a sensação de ser apenas uma igreja, apenas um local para pensar, para refletir, para dramas aparecerem... A gente nem repara no tamanho.


Tenho a terceira temporada para assistir.
Viva!
Terei somente a terceira temporada para assistir, pois com ela a série se encerrou.
Pena...


Dizer o que mais?
Assista.
E tenha um pouco de paciência, pois não dá para ver como quem toma um cafezinho de pé num balcão, sem sentir o gosto ou o perfume, sem saborear...
Tem que ser acompanhada, mais do que vista, como quem pede um expresso, encorpado, aromático, quente, sabores ricos, vai bebendo lentamente, gole a gole...




sexta-feira, março 03, 2017

Nós não temos neve... Mas temos bola de neve



Uma historinha fictícia...

Era uma vez uma empreiteira chamada WXYZKempreita.
Era uma grande empresa, cheia de obras por toda parte.
Vamos acompanhar uma reunião na qual nasceu uma nova obra.

- Pessoal, temos que apresentar o custo para a grande ponte que vai ligar Partalguma a Lugarnenhum.
- Qual é a nossa estimativa de custos?
- 500 Milhões de caraminguás (doravante C$).
- Esse custo já tem nossas margens todas?
- Como assim ‘todas’?
- As margens normais com lucro e impostos...
- Ah, já, já, tá tudo aí, só temos que fechar o custo final que será aprovado pelos caras lá.
- Certo. Bom, nós vamos repassar C$ 50 milhões pro Fulano, né... e mais C$ 100 milhões pro partido dele, confere?
- Confere. Não esqueça de C$ 30 milhões pro Beltrano, hein, e cinquentinha pro partidinho dele.
- Certo... Hummmmmm... Isso dá C$ 730 milhões, confere?
- Certinho.
- Tem o nosso ‘operacional’, né... mais 70 milhões... Fechamos em C$ 800 milhões.
- Perfeito.
- Ô Vianinha, ‘isso’ aí pra ficar limpo tem que acrescentar quanto de impostos? Não podemos jamais deixar de pagar nossos impostos como bons cidadãos e empresa exemplar que somos.
- Dinho, num cálculo preliminar bota aí mais C$ 475 milhões. Esse valor paga todos os impostos e ainda sobra uma caixinha que a gente destina pro nosso fundinho coletivo.
(Nota do Editor: atentem à ‘caixinha’.)
- ... hummm... humm... então... é isso... mais isso... Fechamos em C$ 1.275 milhões?
- Sei não, Dinho, é sempre bom por um “plus a mais” aí, né... Vai saber...
- Tá certo, é bom mesmo... Quanto? 20%?
...

Então tá: custo final da ponte de Partalguma pra Lugarnenhum:
C$ 1.530 milhões.

Custo de uma ponte maior, mais complicada e em local mais difícil que esse, mas na China... C$ 300 milhões.


Então, meus caríssimos pindoramenses, a ponte de Partalguma pra Lugarnenhum que custaria C$ 500 milhões, um precinho daqueles “bão”, pois a concorrência acertadinha já tinha sido acertada – ops, redundância detected - teve seu custo real, aquele que seria pago na China, por exemplo, multiplicado por cinco e mais uma sobrinha pra pinga.


Ah, não podemos esquecer que a WXYZKempreita é uma empresa séria e que paga todos os seus impostos, ao contrário de muitas por aí.
Verdade.
Vejam que maravilha: aqueles 500 milhões já incluíam 200 milhões em impostos (pouco né, mas é um segmento favorecido).
Agora, com o valor fechado, o total de impostos vai para 612 milhões!


Reparem, pindoramenses, geradores de caraminguás reais – ops – que suportam a economia nacional.
Os impostos pagam todas as contas. Aqui, a bondosa WXKYZKempreita supersupersuperfatura o preço e supersupersupersupersuperfatura ainda mais para pagar os altos impostos que dela são cobrados.
Temos, então, uma fantástica contribuição pindoramense para o mundo:
Imposto Turista!
Ele e mais 999 impostinhos saem das burras do Tesouro Nacional, vão lá pra WXKYZKempreita, fazem uma festança. Aí, uma parte vai pra Suíça, Luxemburgo, Cayman, Cochinchina, Timbuctu e outros aprazíveis lugares. Outra parte, pequena, começa a circular por Pindorama, mas a metade dela, quase isso, volta rapidinho pras burras já citadas. E, finalmente, depois de férias na WXKYZKempreita, uma parte volta pras, de novo, já citadas burras do Tesouro.

Entenderam?

As burras tudo abastecem e são, teoricamente, reabastecidas por elas próprias.

Na verdade, a função real das burras é enricar os donos e diretores da WXKYZKempreita e suas amiguinhas.


Que maravilha, né?

É a WXYZKempreita contribuindo pro progresso de Pindorama, o país que vai pra frente, que não é mais do futuro, é do aqui e agora.

Entenderam agora, cidadãos, o que é uma bola de neve?
Ela começa em 300 e se multiplica por 5, resultando em 1530 (com os trintinha da caixinha ‘anexados’; ouvi dizer que esses trintinha são transformados em champã e outros acepipes de França, Rússia, Ucrânia e outros países de belas moças loiras... mas, sei lá, povo fala muita besteira, né...).

Welcome to Pindorama.



quarta-feira, março 01, 2017

“Fora Temer!” – A verdade


“Fora Temer!”
Nhenhenhém chato, repetitivo e, pior, ignorante
Temer é o presidente que foi eleito pelo PT e seus aliados.
Ponto.
Se algum eleitor ou prócer de esquerda ignora isso, então ignora tudo, é um ignorante.
Vejam, por favor, que “ignorante” aqui não é uma ofensa, é apenas uma constatação do desconhecimento que essas pessoas demonstram, uma constatação do que, pelo visto, ignoram. Daí chama-las, com total propriedade, de ignorantes.
Aqueles que ignoram.
Muito bem, isso posto, ou seja, que Michel Temer é o presidente que foi eleito pelo PT e seus asseclas, desculpem, aliados, vamos & convenhamos que esse nhenhenhém é chato demais, não?

Eu não votei no Temer, então, pela lógica simplória, eu é que deveria estar bradando “Fora Temer” nas ruas tupiniquins.
Só que não.
Porque Michel Temer está fazendo um bom governo.
... (Pausa para as risadas...)
...
Acabou? Riram bastante?
Voltemos, então.
Sim, ele está fazendo um bom governo.

Talvez, ou provavelmente, fosse muito melhor do que é se não estivesse manietado pelo sistema político implantado pela catástrofe chamada (valham-me os céus!) “Constituição Cidadã”, nada mais que um monstrengo enorme, monstruoso (dei-me aqui o direito à redundância, extremamente necessária).
Para ter um mínimo de governabilidade (como é chique usar um termo como esse, meio besta, mas moderno pra burro), o marido da simpática e bonita Marcela precisa ter base de apoio parlamentar.


Base de apoio parlamentar...
Sem ela, nada é aprovado, nem mesmo um pedido de compra de papel higiênico para os sanitários palacianos.
Ora, política é assim mesmo em toda parte e era assim até no seio do velho PCUS, como continua sendo no seio do PCC.
Por favor, PCC significa Partido Comunista Chinês e não uma organização criminosa de Terra Brasilis. Bom, se bem que o PCC aqui citado também é uma organização com milhões de crimes nas costas, né...

Política é aquela coisa que você pratica com seu cunhado, aquele pentelho que você meramente suporta. E vice-versa, é mais que óbvio. Você faz política com sua esposa ou esposo, assim como com seus filhos. Sim, não se iluda.
Política é necessária, sem ela não há vida em sociedade, entendendo-se por sociedade um grupo composto por duas pessoas, pelo menos. Até existe a política do “eu sozinho”, mas não vem ao caso.
O casamento é um exercício diário de política, bem ou mal executada...
Imagine, então, presidir alguma coisa...

Divaguei, de volta ao rumo.

O Brasil, graças à má vontade e falta de cultura e visão dos brasileiros, quase não tem partidos políticos.
Partidos políticos na acepção correta do termo.
Partidos ideológicos, que representem parcelas da sociedade, correntes de pensamento.
A rigor, entre os grandes, há o PSDB e, acho, nem sei mais, o PT.
Há alguns pequenos, também, com pouca ou nenhuma representatividade.

O que mais temos são grupos de interesse travestidos em partidos políticos.

Aliás, pensando bem, o antigo PT transformou-se num desses grupos, no qual sindicalistas radicais (hahahahaha... não resisti) dormem com patrões biliardários, um alimentando o outro em estreita e tenebrosa simbiose.
Ah, Brasil... Se você não existisse teria que ser inventado.

Então, Sua Excelência, o Presidente da República, precisa ter o apoio de parlamentares para governar e assinar algum papel.
A maior parte de seu apoio vem dos parlamentares que fazem parte do baixo clero.
O baixo clero está ali porque ali foi colocado pelo povo.
O soberano povo, razão de ser de todas as coisas, o povo que sempre está certo, como se aprende nas cartilhas das esquerdas.
(Curiosamente, quando o povo vota contra os cartilheiros ele está errado... Vá entender...)

Os senhores membros do baixo clero estão espalhados por dezenas de grupos políticos, sendo que quase três dezenas deles têm representação no parlamento.
É, minha gente, é complicadinho, né?
Os senhores membros do baixo clero trocam seu apoio ao Presidente por benesses presidenciais.
Cargos, principalmente, no monte de empresas do Estado.
Como a Petrobras, lembram dela?
Cargos, também, nos ministérios e organismos que contratam empreiteiras para obrarem... Epa, desculpem... Para fazerem obras por todo esse Brasil varonil sob um céu de anil.
Aqui e alhures, como agora estamos descobrindo.

A organização petista institucionalizou essa coisa toda, de uma forma realmente brilhante.
É verdade que a corrupção sempre existiu, nunca sendo chamada como tal, mas ela também nunca foi tão oficial, nunca foi tão presente, nunca foi tão “legítima” quanto a partir da posse primeira de Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente dessa República.
Já em sua carta a El Rey, Pero Vaz de Caminha pedia uma boquinha para um seu afilhado ou coisa que o valha.
Ah, as boquinhas...

Ricas boquinhas, sempre às custas do Estado. Como o Estado somos nós, deixo a conclusão por conta de vocês, leitores de extremo bom gosto e grande saber.


Apesar de “tudo isso que está aí”, Temer vem fazendo bom governo, tentando recuperar o país da situação de absoluta desgraça, catástrofe mesmo, em que foi jogado por Rousseff, coroando trabalho iniciado por da Silva.
Tão bom vem sendo seu governo, embora a muitos não pareça, que não é impossível terminarmos esse ano com pequenino aumento no PIB.
O que será um grande, extraordinário feito.

Portanto, por favor, parem de encher o saco com esse “Fora Temer!”
Tanto por parte dos petistas et caterva, digo, companheiros de viagem, como por parte de parcela de uma tal de direita, ainda perdidinha e sem identidade, acreditando, como de hábito, em salvadores da pátria, em novas e mais lastimáveis versões do “prendo e arrebento”.


sábado, fevereiro 04, 2017

20 Anos hoje

20 Anos hoje

Ah, que morte estupida!
Que morte lamentável!
Que perda imensa foi para essa colônia cultural e econômica a perda de Paulo Francis. Há 20 anos hoje.

Há mortes, a maioria, que a gente aceita. Sente, lamenta, mas aceita, pois sabemos, mesmo que só intuitivamente, que há limites, que há hora para tudo. Não gostamos de pensar a respeito, mas sabemos da finitude das coisas.
Há mortes, porém, que chegam fora do tempo, que chegam quando não deveriam chegar. Mortes sem rumo e sem razão.
A morte de Paulo Francis foi prematura, foi acelerada, foi uma perda irreparável.


Antes que o texto se alongue: credito sua morte prematura à maldita estatal que domina o Brasil e é símbolo de sua economia e seu atraso.
E hoje, fechando à perfeição a simbologia do ruim, está marcada e comprovada como um grande antro de roubalheira, um grande antro de corrupção.
Francis, mesmo que sem as provas naquele momento, já sabia disso.


Três de seus livros estão permanentemente na minha cabeceira, não física, mas aquela cabeceira formada pelas “pequenas células cinzentas”, como diria outro ser do século passado, mas esse só imaginário, Hercule Poirot. São eles:
“O afeto que se encerra”
“Cabeça de papel”
“Cabeça de negro”                                      

Francis foi trotskista e já bem maduro e consciente da realidade e das coisas da vida, mudou sua visão. Eu também tive minha fase, bem curta, de trotskista. Gostar de Trotsky e sonhar os sonhos que ele e sua imagem (a imagem, o imaginário, não a realidade) provocaram foi uma coisa de que gostei e que me marcou. Mas, quem sabe pela infância em boa parte numa fazenda de café, o realismo afastou-me do trotskismo. Talvez por ter vivenciado essa mudança, gosto ainda mais de Francis.

Teria sido muito interessante ler suas crônicas ácidas, ferinas, realistas a um ponto até doloroso, muitas e muitas vezes, durante o desenrolar dos governos petistas de Lula e Rousseff.
Mais que isso, como teria sido fantástico ler por seus olhos o desenrolar da Lava Jato, a consagração da Pet como aquilo que sempre foi: uma empresa cara para o Brasil, uma empresa muito cara para os brasileiros. Por favor, “cara para” e não, jamais, “cara ao ou aos”.
Teria dado boas risadas, boas, mas amargas, com a moral esquerdista exposta à luz do Sol, a moral desnuda e feia de quem falava de boca cheia da moral alheia.


Francis faz falta.
Essa colônia de um país europeu que por séculos primou pelo atraso, precisava ter Paulo Francis vivo, ativo, marcante não só no decorrer desses 20 anos que foram mais de exposição do que somos do que de mudanças para o que nunca conseguimos ser. E hoje duvido que venhamos a ser.




Abaixo os links para matérias da Folha, hoje.



sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Cerveja para as tropas por via aérea



Recebi essa história de um amigo por e-mail.
Desconhecia essa história da guerra, mas ela é autêntica, pelo que pude ver em pesquisa via Google.  
E é muito interessante.

Aliás, durante a pesquisa descobri que pilotos americanos fizeram o mesmo durante a guerra no Vietnã, com outros aparelhos.

Pelo sim, pelo não, também pesquisei o livro citado na história, que é autêntico, como vocês verão no final.

Sugestão para leitura?
Final de dia, tranquilo, com um copo de cerveja bem gelada.
Com moderação, claro.


...0...0...0...0...0...0...0...
.
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Não é segredo que o pessoal que trabalha na aviação aprecia uma cerveja (não no trabalho, obviamente). Tem até o famoso ditado: “Avião no ar, mecânico no bar”.
Agora, olhe bem a foto deste Spitfire:






O que seriam aqueles barris sob as asas? Um novo tipo de bomba? Tanques extras de combustível?


Não! São barris de cerveja! E acreditem, depois de voar a 12 mil pés, ficavam geladinhas no ponto certo para serem saboreadas.






A história da foto é a seguinte:

Nos momentos mais calmos da Segunda Guerra Mundial, os Spitfires eram usados em missões não muito ortodoxas levando barris de cerveja para as tropas na Normandia. Durante aquele período do conflito, as cervejarias Heneger e Constable doavam cerveja para os soldados.


Depois do Dia-D, manter os suprimentos vitais para as tropas de invasão na Normandia já era um desafio, e obviamente não havia espaço ou logística para luxos como cerveja ou outros tipos de bebidas. Então os pilotos da RAF (Royal Air Force) tiveram uma ideia...

Os Spitfires Mk IX eram uma versão evoluída dos Spitfire MK II, com pylons sob as asas para carregarem bombas ou tanques extras. Não demorou quase nada, logo pilotos e mecânicos descobriram que eles, com uma pequena modificação, poderiam ser usados para carregar barris de cerveja de vários tamanhos (não há informação se os barris poderiam ser ejetados em caso de emergência, mas é provável que sim).
E o melhor de tudo: se os Spits voassem a uma altitude considerável, a cerveja já chegava na temperatura certa pra ser bebida.

Uma variação desse modo de transporte era usar um tanque modificado para carregar cerveja ao invés de combustível, e teve até uma designação oficial: Mod XXX.

Carregando e identificando um XXX

 
Os Spitfires equipados com o Mod XXX ou os pylons de barril eram sempre mandados para a Gran Bretanha para manutenção ou missões de ligação e retornavam para a Normandia com os barris cheios.



No livro “Dancing in the Skies”, Tony Jonsson, único piloto islandês da RAF, descreve que odiava fazer as missões de transporte de cerveja, já que todos no campo ficavam aguardando a chegada, e qualquer um que fizesse um pouso duro ou danificasse os tanques, seria o homem mais odiado do esquadrão durante a semana inteira!

Abaixo, a foto da capa do livro do ás islandês (abateu 8 aviões alemães!), disponível para compra (novo e usado) na Amazon UK.




Em tempo

Sobre a Royal Air Force e seus pilotos, muitos deles de outros países, especialmente a França, Winston Churchill tem uma frase memorável referindo-se à Batalha da Inglaterra (a guerra aérea no início da conflagração entre a RAF e a Luftwaffe):

"Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos."

Fato.

segunda-feira, janeiro 30, 2017

Uma jornada muito longa, trabalhosa e cansativa


O editorial da Folha de S.Paulo de hoje é perfeito e já diz tudo em seu título:
“Jornada longa”
E seu fechamento não fica atrás em matéria de perfeição da descrição do que vivemos:

“A destruição das contas públicas, por incompetência e rapinagem de quem esteve no poder na última década, atingiu proporções inacreditáveis. Arrumar a casa levará tempo e exigirá coragem e liderança raramente vistas no cenário político brasileiro.”



Vou fazer um paralelo: um cavalo atleta, desses maravilhosos preparados para as competições hípicas, inclusivo Jogos Olímpicos, é um organismo muito sofisticado em termos de cuidados, começando pela alimentação e terminando com a carga diária de exercícios.

Também sofisticada, nesse sentido, é uma vaca leiteira de alta produção, com seus 45, 50, 55 litros de leite por dia (não, não tenho, não é minha praia). Para vocês imaginarem como trabalha seu organismo, vai uma informaçãozinha: a geração de 1 litro de leite demanda a passagem de cerca de 500 litros de sangue pelo úbere da vaca. Isso mesmo: quinhentos litros. Uma produção de 50 litros, portanto, exigirá a passagem de 25.000 litros de sangue pelo úbere da coitada.
25.000!
Barbaridade...


Ora, se essa vaca e esse cavalo forem deixados meio que ao deus-dará ou, nem tanto, mas os cuidados com eles não forem seguidos à risca, seus organismos ficarão depauperados em curtíssimo tempo.
Menos de 30 dias.

Se nada mais grave acontecer e os cuidados forem retomados tal como antes...
Bom, se simplesmente forem retomados a recuperação, se acontecer (e raramente acontece), será muito demorada.

Se todos os cuidados forem retomados e acompanhados por medidas extras para facilitar e preparar a recuperação, ela será rápida: 10 a 14 meses.

10 a 14 meses...

Sim, isso é rápido, é um tempo curto.



Imaginem, agora, a economia brasileira.
Que é gigantesca, embora miserável no que diz respeito à sua repartição e, mais ainda, à sua qualidade, à sua eficiência, à forma como ela é gerada, exceção feita ao setor agropecuário (que é o mais moderno, para não dizer o único, e é, igualmente, o único que é competitivo com qualquer outro similar no planeta... e leva vantagem)...


Essa economia, que chegou a ser da ordem de 2,5 trilhões de dólares, foi tratada com o lixo.
Foi saqueada.
Foi depauperada nas gestões (?) Lula e Rousseff.
Foi destruída, esse é o verbo correto.


Busca-se, agora, sua reconstrução.
Ela será muito lenta, muito longa, muito sofrida.
Apesar disso, as críticas ao governo de transição, pois é isso que é o governo Temer, se avolumam.


Curiosamente, mas não por coincidência, essas críticas nascem em grande parte entre os defensores das gestões saqueadoras, das gestões criminosas.
Roubaram... Saquearam... Destruíram...
E agora criticam a tentativa dolorosa de reconstrução.

A economia de uma nação é como o organismo de um cavalo atleta ou uma vaca de 25.000 litros de sangue trafegando por seu úbere: grande, sofisticada, complexa.

Reconstruir uma economia, infelizmente, demanda muito mais tempo, inteligência, dedicação e energia, trabalho, do que reconduzir um cavalo depauperado a uma excelente forma física. Ou fazer com que uma vaca retome sua produção original.


Detalhe: dependendo do nível de depauperamento, o cavalo ou a vaca jamais voltará ao seu nível original.

Bom, alonguei-me.

Leiam o editorial da Folha de S.Paulo, transcrito abaixo integralmente para permitir a leitura por quem não assina a Folha:



Jornada longa

Está apenas no começo a restauração da saúde financeira do Estado brasileiro, condição fundamental para o país ter juros civilizados de forma perene e crescimento econômico consistente.
Se confirmadas as projeções do governo, o deficit do setor público —somando União, Estados e municípios— terá sido próximo de R$ 167 bilhões (2,6% do PIB) em 2016. Essa conta não inclui os juros, que levam o rombo a 9,3% do PIB.
Desde iniciado o colapso da economia, em meados de 2014, a dívida pública subiu de 52% para 71% do PIB, um salto sem precedentes.
Nos planos do governo, considerando o teto de gastos, a aprovação da reforma da Previdência e a lenta retomada da arrecadação, o país zerará o deficit em 2019 ou 2020.
Até lá, a dívida terá chegado a cerca de 85% do PIB, o maior nível entre países emergentes. Para estabilizá-la nesse patamar, não bastará eliminar o rombo. Será necessário gerar um saldo positivo de ao menos 2,5% do PIB.
Ou seja, trata-se de obter uma virada de cerca de R$ 300 bilhões (5% do PIB) nos próximos anos.
Será impossível fazer isso apenas com cortes de despesas gerais de custeio. O país não pode mais prescindir de uma ampla reforma da Previdência, a maior despesa do Orçamento —cujo crescimento, se mantido intocado, logo esmagará todas as outras rubricas.
Parte do problema decorre da queda da arrecadação resultante da recessão. Desde o pico, em 2013, a coleta de impostos e contribuições caiu 10% (ajustada pela inflação), ou cerca de R$ 150 bilhões.
Quando a economia voltar a crescer, como se espera a partir deste ano, uma parte desse montante voltará aos cofres públicos. Mesmo assim, ainda faltará muito.
Será preciso reduzir desonerações inconsequentes e rever incentivos fiscais sem contrapartidas mensuráveis, dois itens essenciais numa campanha de combate aos predadores do Estado que tanto prosperaram na era petista.
Feito tudo isso, provavelmente será necessário considerar algum aumento de impostos. Esse debate ainda não começou, mas poderá ganhar corpo após a aprovação da reforma da Previdência, se a medida se mostrar importante para antecipar a estabilização da dívida.
Nesse caso, o aumento deverá se pautar por maior progressividade e justiça tributária, com simplificação e redução de impostos que oneram a produção e o consumo.
A destruição das contas públicas, por incompetência e rapinagem de quem esteve no poder na última década, atingiu proporções inacreditáveis. Arrumar a casa levará tempo e exigirá coragem e liderança raramente vistas no cenário político brasileiro.