quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Eu estarei fora...

... dessa monstruosidade de 19.600.000 habitantes que será a Grande São Paulo em 2010.

Não que hoje, com apenas 18.800.000 habitantes, ela já não seja monstruosa, pois é e muito. Qualquer aglomerado urbano com mais de um milhão de habitantes já merece o rótulo de monstruosidade.

Esses dados fazem parte do documento Perspectivas Mundiais de Urbanização, produzido e distribuído pela ONU, que foi lançado ontem. O planeta como um todo caminha inexoravelmente para uma brutal urbanização, e já nesse ano de 2008 mais da metade dos seres humanos moram em cidades. Em 2050 esse número deverá ser superior a 9 bilhões de habitantes.

Como informação e para pensar um pouco, eis a lista dos maiores aglomerados urbanos do mundo:


Em 2008:

Tóquio 35,7 Milhões de habitantes

Nova York 19

Cidade do México 19

Mumbai 19

São Paulo 18,8



Em 2010:

Tóquio 36,1 Milhões de habitantes

Mumbai 20,1

São Paulo 19,6

Nova York 19,4

Cidade do México 19,4



Em 2025:

Tóquio 36,4 Milhões de habitantes

Mumbai 26,4

Delhi 22,5

Dacar 22

São Paulo 21,4

Enquanto isso, outras monstruosidades continuarão crescendo em terras tupiniquins, embora o verbo mais adequado seja inchar.



Em 2025:

Rio de Janeiro 13,4 Milhões de habitantes

Belo Horizonte 6,7

Porto Alegre 4,6

Recife 4,3

Naturalmente, os governos em todos os seus níveis – federal, estaduais e municipais – ignoram essa realidade futura. Não a desconhecem, longe disso, mas preferem ignorá-la porque não conseguem lidar sequer com o dia de hoje, que dizer com o futuro remoto – que chega numa velocidade impressionante, fazendo com que futuro remoto aplique-se somente a qualquer coisa lá para o século XXII. Infelizmente, o futuro já é hoje e nós não estamos preparados para ele, como tampouco estivemos preparados para o ontem.

Minha casa tem recebido visitas em boa quantidade. São Paulo já nos deu o que tinha que dar. Nós também já demos a São Paulo o que podíamos e estou certo que darei muito mais a essa cidade que, apesar de tudo, é a minha e amo de paixão, estando fora dela, produzindo leite e seus derivados.

Aglomerados urbanos são centros geradores de desequilíbrios em todos os sentidos, são centros geradores de doenças, tanto as físicas como as que atacam a alma. Não que o campo, plácido, bucólico, idílico – tudo falso – também não o seja, mas sem dúvida superpopulações não são benéficas. Já virou lugar comum falar dos inúmeros estudos mostrando como superpopulação afeta radicalmente o comportamento de diferentes animais. Frangos e galinhas bicam-se terrivelmente, até a morte. Porcos partem para o canibalismo. Bois confinados praticam sodomia. Ratos se matam uns aos outros. A lista é longa e muito triste.



A volta ao campo é uma saída?

Não.

A vida no campo é extremamente dura quando comparada aos padrões urbanos. Poucas são as pessoas que gostam de viver no campo, inclusive no próprio campo, onde o sonho dominante é morar na cidade e ter à mão tudo de bom que a civilização proporciona.

Triste engano, é claro. Mas o ser humano adora o engano e vive de sonho.

Com os homens públicos que temos, com suas visões míopes e imediatistas, sem falar no quanto dessas visões é afetada pela corrupção, continuaremos desprovidos de programas que visem ao bem-estar dos “povos das cidades”.

Enquanto isso, em busca de seu próprio bem-estar, os “povos das florestas” seguem fazendo sua parte, abrindo buracos gigantescos na cobertura verde e inchando os aglomerados urbanos no meio do nada.

Esse, contudo, é outro assunto.


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sábado, fevereiro 23, 2008

Impensável... Mas aconteceu


Pois é, o impensável às vezes acontece e nos pega de surpresa. Pensando assim, de repente, lembro-me que não só julgava impensável o fim da Guerra Fria, como também vivia em sobressalto por causa dela. Lia tudo que me aparecia pela frente, e muita coisa aparecia a respeito, desde a capacidade de destruição de um só ICBM até a função dissuassória das forças submarinas de um lado e outro, invisíveis ou quase isso, cada plataforma transportando a morte de centenas de milhões de pessoas. Eis que um dia Richard Nixon desembarca na China, em outro conversa animadamente com Breznehv, mais adiante é Reagan, o cowboy, e de repente o medo nuclear começou a ser jogado para o arquivo morto das preocupações.

O Muro de Berlim...

Sua queda era outra coisa impensável para quem, como eu, nasceu nos cinqüenta.

Portanto, foi com um espanto enorme e a sensação de estar vendo a história em ação e o mundo sendo transformado, que assisti pela às imagens de milhares de pessoas quebrando, a golpes de picaretas, martelos, pás e quaisquer outras coisas à mão, o muro vergonhoso, inominável, palco de mortes e tristeza. Na seqüência, o fim da União Soviética não chegou a causar o mesmo espanto, a mesma surpresa. Só a velocidade com que ela veio abaixo, mas, por incrível que pareça, ainda nos anos 70 já havia lido um trabalho com essa previsão, escrito pelos irmãos Medvedev, Zhores e Roy, intelectuais dissidentes, que previam o esfacelamento da URSS e apontavam as tensões e conflitos étnicos e religiosos como o estopim que conduziria ao fim.

Agora, numa só semana, o impensável bateu na porta duas vezes, e entrou em ambas. Primeiro, Fidel renunciou. Demorou, mas aconteceu. Já o tive como ídolo, mas isso foi há muito, muito tempo, e curiosamente durou pouco. Ter conhecido Cuba ainda enquanto a finada União Soviética era viva, foi bom, fez-me bem, reforçou minha convicção sobre o acerto na mudança de linha do que pensava, vale dizer, o acerto da minha mudança ideológica. A saída de Fidel, agora, nada teve de espetacular e foi apenas patética, tardia, chata. Como diz a rapaziada, demorou.

Finalmente, o impensável dos impensáveis fatos, aconteceu: a dívida externa “acabou”, o mundo nos deve mais do que devemos ao mundo, e não se trata de metáfora ou figura de linguagem ou qualquer outra dessas baboseiras nacionalistas. Não, nada disso, é fato contábil. Não só diminuímos nossa dívida externa pagando o que devíamos – a dívida pública externa foi liquidada – como também temos mais reservas do que dívidas. Inacreditável, preciso concentrar a atenção e os pensamentos para ter a real dimensão desse fato.

Já tivéramos uma avant premiére em 94, com o fim da inflação monstruosa e da correção monetária. A maioria de nós já esqueceu aqueles tempos, não lembra mais das manchetes regulares, a cada trinta dias, dizendo que o mês fechara com 15, 20, 25 e até mesmo fantásticos mais de 80% de inflação! É... Ninguém mais lembra disso, ninguém lembra que o salário recebido já valia dez, vinte, trinta por cento a menos do que seu valor nominal. Nem vou entrar no tititi de jogar na cara do PT e de seus asseclas – um monte enorme de gente – e apoiadores – milhões, iludidos pelo brilho fácil de promessas vãs – as sucessivas e estúpidas manifestações contra o Real, contra a política econômica de Fernando Henrique e Malan, contra a dívida externa, contra tudo, contra todos, preservando apenas a eles próprios como os donos das verdades políticas e econômicas, morais e éticas, eles, os cavaleiros andantes do bem em eterna luta contra as forças e agentes do mal, ou seja, todos os outros que não professavam das mesmas fé e ideais. Bobagem chutar cachorro morto.

Opa! Não, cachorro morto, não, muito pelo contrário, vivo, muito vivo, agindo e quando não, à espreita.

Mas, enfim, o impensável aconteceu também com nossa dívida externa.

Então, por justiça...

A César o que é de César.

A Lula o que é de Lula... e de FHC.

E à agropecuária brasileira o que é de todos: ela e os produtores rurais, humilhados e vilipendiados rotineiramente, são os grandes heróis do “fim” da dívida externa. Pena que quase ninguém sabe ou pensa nisso.


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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Fim de papo, mãos à obra

A princípio eu não queria,mas como precisava, aceitei.

Coloquei o sítio à venda. As vacas também.

Tudo ia bem, aquele “bem” em que deixamos tudo como está para ver como é que fica, até que num mesmo dia, numa manhã de sexta-feira, as vacas foram compradas, justamente as minhas melhores, as originais. E, ao mesmo tempo, enquanto o comprador olhava a Feiticeira, a Imagem & Cia. bela, na cozinha, tomando um café, recebi uma oferta firme pelo sítio. À vista, bem perto do que eu pedia.

Foram dias de angústia a partir de então.

Fui tomado pela sensação dolorosa de perda.

E foram dias, também, de ouvir recriminações ao meu apego às coisas.


Bom, o sítio nunca foi uma coisa e as vacas menos ainda, assim como meus livros.


Não são coisas, jamais serão, e sempre terei apego a todos eles, esteja isso certo ou errado em termos materiais, filosóficos, espirituais, administrativos, econômicos, o que seja. Carro, por exemplo, é uma coisa, um mero monte de lata e plástico e já vendi inúmeros sem a mínima dor ou má-vontade, muito pelo contrário.

No caso do sítio fiz uma contraproposta. Coisa pouca para o comprador (compradores, pai e filho), mas grande para mim. Queria mais dez por cento em relação à proposta. Vários sinais indicavam que o negócio estava fechado, principalmente pela posição do lado de lá. Que recebeu o dinheiro da safra de laranja e...

Bom, começaram a demorar um pouco. Mas, enquanto isso, vistoriavam o sítio mais uma vez e outra, avaliavam, olhavam a casa, ponderavam, agora já com a presença de uma das filhas. Estava tudo certo, logicamente, afinal, não é por nada, não, mas o Sítio das Macaúbas é recanto de muitos encantos, até mesmo para plantar tudo com laranja ou cana e ganhar dinheiro.


Responderam à minha contraproposta anteontem, sábado, com um valor ligeiramente menor e dizendo que do lado deles estava tudo certo. Bom, ok, está bem, está de bom tamanho. Fiquei de ir ao sítio na segunda (hoje) ou terça-feira para a gente sentar e acertar. Ainda pretendia mais um troquinho, mas já me acostumava ao valor proposto. Na verdade, já estava aceito.



Ontem pela manhã, pleno domingão, tudo mudou.

Ligaram desistindo do negócio.

Coisa estranha em se tratando desse pessoal que conheço bem e há muito tempo.

São sérios, não voltam atrás, têm solidez. A voz do meu interlocutor, o filho e que está à frente do trabalho propriamente dito, todo santo dia, demonstrava constrangimento, muito visivelmente. Reclamou que os custos estão altos, o dinheiro não dá para nada e coisa e tal. É verdade, tudo isso é verdade. Falou mais um pouco até que contou o verdadeiro motivo da desistência: duas das outras irmãs reclamaram, dizendo que estão com problemas de dinheiro, que era loucura comprar mais terra e coisa e tal. Como se trata de negócio em comum de vários irmãos, embora só um trabalhe e conduza tudo (o meu interlocutor), a decisão acabou sendo pela desistência da compra, com certeza para evitar mais atritos familiares. Talvez a irmã que disse ser loucura comprar mais terra ache melhor comprar um carro. Sei lá, tudo é possível.




Bom, agora é voltar à vida real.

Já estava acostumado à necessidade da venda, já estava acostumado à idéia de sua realização, bem no íntimo já contava com o dinheiro para várias coisas. Para chegar a esse ponto, contudo, durante 24 dias vivi um processo muito doloroso de aceitação da perda, do reconhecimento do fracasso, do afastamento de coisas às quais dou imenso valor, embora pareçam tolas. Como o pé de oiti, cuja muda ganhei de um grande amigo, e que plantei perto de casa, já bonito e grande, com sete anos de idade. Ou o pé do meio raro genipapo, que plantei bem ao lado do curral e as minhas araucárias e outras árvores, cada uma com um propósito, cada uma com sua própria história.

Doía, sobretudo, saber que tudo viria terra abaixo para dar lugar a pomares de laranja. Preocupava-me a sobrevivência dos ouriços brigões da matinha. Enfim, era muita coisa para ser processada e quando, finalmente, eu já estava em relativa paz a respeito de tudo isso, vem essa desistência.

Paciência, o sítio continua sendo meu, continua sendo o Sítio das Macaúbas.

Nesses dias, pensei muito, pensei em meus fracassos, mas também nos sucessos, que existiram, sim. Repassei os muitos pontos positivos do sítio, bem como também repassei os negativos, que já havia esquecido e cuja volta à lembrança ajudou-me no processo de aceitação. Há muita coisa nos dois lados, vantagens e desvantagens, como tudo na vida. O que resta, agora, é encarar as vantagens e nelas buscar ânimo. Encarar, também, as desvantagens, e começar a eliminá-las. Pois a vida segue, com o sítio, mas sem as minhas melhores e mais queridas vacas.

Fica, agora, somente a torcida pela venda da casa.

Quanto antes, melhor.

Sim, porque em nenhum momento passou pela minha cabeça desistir, muito pelo contrário. Tanto que já tinha outro sítio em vista, pronto para entrar em negociação, com algum prazo para quitar e algum dinheiro em mãos para começar a tocar, corrigindo erros do passado. O que já está mais do que decidido, é sair de São Paulo, sair da Grande São Paulo, e dar um novo rumo à vida, o rumo, na verdade, com que sonho a minha vida inteira. Está na hora.

Ah, sim, também espero recobrar a vontade e o prazer de escrever, que andaram amortecidos. O motivo vocês agora entendem.







Obs.: as fotos Google, tiradas de satélite, são bem antigas; desde então o Sítio das Macaúbas mudou bastante, mas servem como referência.


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terça-feira, fevereiro 05, 2008

Carnavalices



Em Dublin, Irlanda Contra x Irlanda Pró

Nada mais brasileiro que a CBF – Confederação Brasileira de Futebol –, a entidade monárquica que rege os destinos de nosso principal esporte e componente básico, ao que dizem, da brasilidade.

Nada mais brasileiro, também, que o desleixo, improvisação e indigência com que um de nossos principais produtos de exportação, a carne bovina, tem sido tratado por esse governo e por outros mais. Na verdade, por todos.

A bem da verdade, porém, esse atual superou-se e superou os antigos, ao mandar uma lista-fantasma – creio ser esse o melhor nome – de fazendas em ordem para exportar carne para ninguém menos que a autoridade européia responsável pelo controle desse produto. O fato todo foi tão ridículo que os europeus perderam a fala, isso aqueles que gostam, conhecem e defendem esse imenso bananal.

Outros europeus, irlandeses principalmente, só faltaram sair às ruas fazendo um carnaval esquisito na neve e na lama gélida que recobre parte das cidades da Irlanda.

A mesma Irlanda que quarta-feira verá um jogo caça-níqueis do time da CBF – outrora conhecido como Seleção Brasileira – e para isso já esgotou todos os mais de 80.000 ingressos disponíveis para a partida.

Será um confronto interessante. Mais ainda seria se o time da CBF jogasse com alguma coisa do tipo “Brazilian meat – eat it!” estampado na camiseta, e o time irlandês o fizesse com “Don’t eat Brazilian meat” ou qualquer coisa parecida. O interessante desse confronto será somente isso, sua realização simultânea com essa crise na exportação de carne, pois, fora isso, como jogo, é tolo, dispensável, sem sentido, sem nexo, sem valor, sem, sem, sem...

Mas, com dólares.

Ao fim e ao cabo, é a única coisa que conta no reino da CBF.




Nenhuma nudez será castigada

Tão certo como os desabamentos e mortes de todo verão nas regiões serranas, numa repetição quase cronométrica e sem surpresas – talvez, por isso, desconcertando e deixando sem ação as autoridades (ir)responsáveis, abro o jornal e dou de cara com bela mulher nua. Totalmente. Ou quase, pois discretíssimo tapa-sexo cobre o desnecessário, nessa altura do campeonato.

Lamento,mas não vejo graça, nunca vi. Até porque na fase em que veria graça e babaria por isso, a nudez era algo muito privado, tão privado, naqueles tempos de censura, que nem nas revistas de “mulher pelada” ela aparecia.

Não entendam mal minhas palavras, por favor. Não vou alongar-me em explicações por serem desnecessárias, mas digo apenas uma coisa: a exposição absoluta da nudez tira todo o mistério, todo o encantamento, toda a imaginação, todo o erotismo que o corpo humano pode despertar. É coisa, dessa forma, sem graça.

Algumas imagens ligadas a açougues e animais vivos em seus habitats passaram por minha cabeça,mas não se preocupem, esse texto já está no fim, e vocês ficam poupados dessas cenas que minha cabeça visualizou.

Ok, sim, pode ser verdade, talvez eu seja um conservador chato e sem graça.




De volta à carne

De volta por que? – se nunca saímos dela nesse post?

Hehehehehe... Um pouco de veneno.

Enquanto tudo isso acontece, na extensa, aconchegante e interessante fronteira com o Paraguai, bois, vacas e bezerros hermanos trafegam candidamente pelos dois lados da dita cuja. Não há placas, o que não faria efeito, já que bois, vacas e bezerros não sabem ler. Não há vigilância, não há controle, nada há, enfim, a separar os dois países. Tudo nos une, principalmente a aftosa, mal controlada do lado de lá e que ao entrar no bananal e contaminar nossas vacas, derruba nossas exportações em dois a três bilhões de dólares por vez.

No bananal, tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Isso, sim, é o que se pode chamar de um país confiável.

Parodiando H L Mencken – “Nunca ninguém perdeu dinheiro por subestimar a inteligência do povo americano” – podemos dizer que nunca alguém perderá dinheiro por subestimar a inteligência dos políticos brasileiros.

É isso. Por enquanto.




Post scriptum

Os políticos tupiniquins presos pelo clima na Antártida, ou Antártica, voltaram para casa; ficaram 5 dias no continente gelado e tiveram – pasmem, leitores! – que lavar a própria roupa; o avião escalado para trazê-los apresentou um defeito, retardando mais um pouco a volta, que, finalmente, aconteceu.

Voltou por que?

Por que voltou?

:o)

domingo, fevereiro 03, 2008

Desencantos e outras coisas


Lamento.

Lamento por várias coisas, entre elas ter deixado esse Olhar Crônico meio abandonado. A alternativa teria sido escrever ranhetices, tristezas, reclamações. Sequer consegui um tom irônico às coisas que até pensei em postar. Sendo assim, fui empurrando com a barriga, empurrando, empurrando... Nem mesmo sei se o momento certo de retorno é esse, mas, vamos lá. A vantagem da internet é que o teclado é cheio de recursos para deixar um texto chato de lado.

Bom, entrou a Abertura do “Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, e é sempre um bom motivo para passar boas imagens para o papel. Papel eletrônico, nesse caso.


Bombinhas

Paradisíaca, ou quase isso, nesse início de século XXI. Nem tanto pela praia, muito mais pelas águas cheias de vida, que permitem mergulhos facílimos e simplesmente fantásticos. Os experts vão me perdoar pelo aparente exagero, é claro que há locais com muito mais vida, sem dúvida. Pensando, porém, no turista comum, praticamente de qualquer idade, Bombinhas permite belas visões do mundo subaquático, apenas beirando as pedras, algumas das quais em meio á areia da praia. Vi, por baixo, mais de vinte diferentes espécies de peixes, além de anêmonas, coral-cérebro – esse, infelizmente, com muitas áreas mortas, algumas delas pelos pés com nadadeiras de turistas desinformados –, estrelas-do-mar, ouriços, carangueijos e até mesmo um pepino-do-mar.


Não só. Vi, também, águas-vivas. Milhões, acho, não me dei ao trabalho de contar, nem poderia. Foi assim: fazia o primeiro mergulho do dia, usando uma camiseta para proteger-me dos raios solares (que penetram, sem problema algum, a até 40 centimetros de profundidade, queimando tanto quanto se a pessoa ficar na areia, “bronzeando-se”). Em certo momento comecei a sentir umas picadas incômodas, uma ardência em vários pontos do corpo, todos mais ou menos próximos ao pescoço. Cheguei a ficar preocupado, achando que estivesse com algum processo alérgico em andamento, mas não dei muita atenção. Um pouco depois fui obrigado, sim, a dar atenção. Os pontos se multiplicavam e só então foi que pensei no óbvio (e que já tinha esquecido...): água-viva, eu estava sendo alvo, ou vítima, de um ataque de águas-vivas. Tive a confirmação ao levantar a cabeça – faço snorkeling com a cabeça enfiada na água, literalmente, olhando para baixo, principalmente onde há motivos para isso, como em Bombinhas – e, favorecido pela incidência da luz no ângulo certo, vi montes de minúsculos guarda-chuvas, pouco mais que microscópicos. Em alguns pontos a água tinha uma aparência leitosa. Bom, tempo de cair fora, claro. Foi o que fiz, mais que depressa. Na praia, vários mergulhadores reclamavam, também. Foi, todavia, uma passagem fugaz, vieram com uma corrente e um vento, voltaram com outro.

E o que fazer nessas horas?

Como eram pequenos celenterados, nada de extraordinário, um pouco de urina jogada sobre a área já seria suficiente para aliviar a queimadura. Certo, fora o lado curioso, isso é bom pro Tom Hanks abandonado numa ilha deserta. No meu caso, fui pra casa, a poucos metros da praia (Santa Catarina é ótima!) e joguei vinagre por cima da camiseta mesmo. O alívio foi imediato e total. A uréia da urina e o ácido acético do vinagre, pelo que sei, aliviam a sensação de queimadura.

Em casos mais graves, como os dos banhistas na Praia Grande, no reveillon, o certo e imediato é procurar socorro médico.

De águas-vivas para beija-flores.

Os danados estão sumidos. O verão é bem mais farto em oferta de alimentos e eles devem permanecer em áreas mais fechadas por aqui. No inverno é diferente e eles freqüentam as árvores e arbustos plantados pelos jardineiros, o que facilita sua visão, sem dúvida.

Na caminhada de hoje, fazendo o circuito “completo” da Fazendinha, nada fotografei. Por incrível que pareça.

Caminhar pela Granja Viana tem me deixado meio deprimido, meio triste, meio revoltado, meio sem-vontade de caminhar. As placas “Vende-se” sucedem-se em monótona procissão. Se estivessem em frente de casas não daria bola, mas, não, estão em todos os terrenos. Com eles, em breve vai acontecer o mesmo que ao terreno a cinquenta metros de casa: o ataque inclemente das motosserras. O resultado aqui em casa foi o sumiço dos sagüis que vinham comer banana e mamão a poucos metros de nossas janelas. Outro resultado: abandonei de vez todo o pudor e resolvi que meu ciclo na Granja terminou. Covardemente, se assim quiserem, não quero estar por aqui presenciando, impotente, a destruição do que resta de vegetação e fauna. O avanço imobiliário é inexorável.

Curiosamente, falta visão ou algo parecido aos granjeiros, boa parte dos quais podem ser chamados de pessoas com recursos. A eles e às prefeituras de Cotia e Carapicuíba, se bem que esperar visão desse pessoal...

A compra dos terrenos e a manutenção dos mesmos como áreas de preservação poderiam manter a Granja com suas características, mantendo os preços dos imóveis em alta, ainda mais num horizonte de dez anos (que passam voando). Infelizmente, não há visão e desprendimento de um lado, e visão e inteligência do outro. Sobra apenas o imediatismo por mais dinheiro no bolso e mais dinheiro nos cofres. Uma pena.

Esse, hoje, é meu maior desencanto, pela proximidade com minha vida cotidiana.

Sobre o Sítio das Macaúbas falarei em outro post. Adianto que as vacas vão bem, a Nita pariu uma bezerrinha, a Vitória e a Hora estão por parir, os gatos vão bem, as galinhas idem, exceto pelo assédio dos galos, que precisam urgentemente de algumas panelas como destino. Ou mudar para outros galinheiros, pois são tão bonitos que dá dó mandá-los, simplesmente, virarem coq au vin.


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