domingo, agosto 26, 2007

Brasilianas de agosto de 2007


Ato criminoso

O governo lulla da Silva deteve e entregou às autoridades da ditadura castrista que domina Cuba dois atletas que fugiram durante os jogos Pan Americanos realizados no Rio de Janeiro. Foi uma atitude covarde e criminosa, pois nada mais foi que um crime aos direitos humanos, os famosos direitos humanos pelos quais esses indivíduos hoje no poder tanto clamaram quando na oposição. Direitos humanos pelos quais tantas pessoas de boa fé e crença na democracia lutaram por anos a fio, enfrentando a ditadura militar que então dominava o Brasil.

O governo lulla da Silva apóia-se em tecnicalidades para dizer que os atletas foram devolvidos à ilha-prisão por livre e espontânea vontade. Mentira.

Fidel decretou que os dois nunca mais poderão disputar competições oficiais e nunca mais poderão sair de Cuba. Tecnicamente, estão presos.

E descobre-se agora que o jato especialmente designado para levar os dois atletas de volta à prisão é venezuelano. Mais: parece ter sido o mesmo avião que levou oitocentos mil dólares clandestinos para a Argentina.

Chávez, lulla da Silva, Morales e, parece, o casal Kirchner...

Que futuro nos aguarda?


Cansei

Virou moda criticar o movimento.

É coisa de dondocas e de milionários.

Coisa de quem está bem de vida.

A pobreza intelectual e a indigência moral desses críticos é aterradora.

Uma prova que nada entendem de democracia.

Desconhecem o sistema, quer como prática, quer como filosofia.

Pior: sequer conhecem o significado da palavra, disponível em qualquer dicionário.


Chefes fora

O STF não vai processar o ex-primeiro-ministro Zé Dirceu. Tampouco processará Delúbio... Silvinho “Land Rover”... Zé Genoíno, o que nada sabia, antecipando a ignorância do chefe supremo.

O STF me deixa envergonhado e desesperançado.


Medo

Será que minhas palavras no texto anterior podem servir de base para que eu mesmo seja processado?

Afinal, será que é permitido a um brasileiro dizer que sente vergonha de sua Corte Suprema? Se não for permitido, estou frito.


Os mesmos de sempre

Renan continua na ativa. Continua presidindo o Senado da República.

Jader Barbalho está a mil por hora na Câmara. Articula a montagem de uma CPI contra a revista Veja – a essência é essa, o resto é conversa fiada – por “inspiração” de Renan. Todos os caras indiciados no Mensalão assinaram o pedido de CPI, assim como 59 deputados do partido dos trambiqueiros, também conhecido por pt. Ah, sim, redundei: um monte desses 59 também está na lista do Mensalão.

Esses caras nos governam, esses caras são o nosso parlamento.


50 milhões para Rainha

Pois é, o tal de Rainha, indivíduo com vasta coleção de processos nas costas e acusações mal desfeitas, se é que alguma foi desfeita, vai receber 50 milhões de reais do governo para fazer uma usina de biodiesel.

Vai ter festa no Pontal do Paranapanema.

Às custas sabe-se de quem.


Demorou...

... mas Dona Denise Abreu enfim renunciou.

Agora falta o restante, a começar pela mais alta posição.


Sim, estou meio raivoso hoje e nem li, ainda, o meu jornalão desse domingão.

Sabe Deus o que nele virá.


.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Domingão, dia de Estadão


Meu jornalão de hoje está especial.

Não é merchandising. Se alguém achar que é, paciência.

Dentro de dois meses farei 53 anos de idade. Leio o “Estado” desde os oito. Portanto, já lá se vão 45 anos de leitura semanal, no começo, mais adiante bi ou tri-semanal, até virar diária ainda na adolescência, em pleno regime militar.

Isso, entretanto, é outra história. Portanto, falar desse jornal pode ser tudo, menos propaganda.

Como é sagrado, começo pelo caderno de esportes. Não fala muito do meu time, apenas o normal. O cronista de futebol do domingo escreveu um texto interessante, até gostei, ao contrário do habitual. Dos cronistas do Estado, gosto, mesmo, de um só, o mais “futebolista” deles, digamos. Futebol é futebol, quando abro o caderno de esportes quero ler sobre futebol. Outras coisas embaralham e irritam. Pulo e passo adiante. O caderno de hoje traz uma matéria bonita, falando da escolinha que o Vasco mantém para seus jovens atletas. Muitos chegam sem saber coisa alguma, sequer, a bem dizer, escrever. Coisas de Brasil, claro.

No caderno Aliás, uma entrevista, ou melhor, uma “senhora” entrevista com o ex-correspondente do NYT no Brasil, Larry Rother. Uma entrevista como deve ser: nada menos que duas páginas do caderno. Uma introdução boa, no tamanho e com as informações na dose certa, e depois a conversa com o Larry. Como deve ser uma conversa inteligente. Ele fala de seus muitos anos de Brasil, em dois tempos, conta breves “causos” daqui e de outros países sul-americanos, fala um pouco sobre jornalismo e fala, muito, do estrepitoso affaire Governo x NYT, quando ele escreveu a matéria dizendo que o hábito de “bebericar” do presidente atrapalhava o governo. Dizem que a verdade dói, e essa matéria doeu. Mas o jornalista, com justiça, não conta tudo: reserva mais coisas para o livro que está escrevendo sobre seus anos aqui entre nós. Naturalmente, vou comprar e ler no lançamento.

No primeiro caderno, uma matéria sobre a Juréia.

E com ela meu humor balança. O Parque da Juréia é um lugar maravilhoso, extremamente bonito, onde a Serra do Mar encosta nas ondas do Atlântico, até literalmente, em alguns pontos. As praias são desertas e muito bonitas. A mata atlântica em todo seu esplendor original ocupa todos os espaços, morro acima, morro abaixo, nos vales e planícies.

Correção: ocupava todos os espaços. Palmiteiros, madeireiros e bananeiros devastam parte da área do Parque. E, a auxiliá-los e livrá-los da prisão, índios guaranis.

Ah, os índios têm direito, né?

Pois sim. Esses índios foram aqui introduzidos pela FUNAI, trazidos de não sei onde, tal como foi feito com os pataxós do entorno do Parque Nacional do Monte Pascoal, no sul da Bahia. Instalados na Juréia, os guaranis, tão logo viram as costas dos burocratas governamentais, mudaram-se com armas e bagagens para as cidades mais próximas, no Vale do Ribeira. Nenhum deles quis saber de morar na mata. Mas todos vão até a mata. Derrubam palmeiras juçaras, coletam orquídeas e bromélias, e postam-se à beira dos “asfaltos” vendendo o fruto da pilhagem. Proibido por lei para todos, menos para os índios. Que ganham algum dinheiro com o corte de mais juçaras. É assim: uma palmeira juçara com mais de 4 metros de altura e que demorou dez, doze ou mais anos para chegar àquele ponto, é encontrada por um palmiteiro que, em seguida, simplesmente bota-a abaixo. Seu ponteiro é cortado e dele tirado o tolete de palmito com cerca de 40 centímetros de comprimento. Tanta destruição por meros quarenta centímetros. A destruição não se limita à palmeira em si, fonte de alimento para dezenas de espécies animais, mas se estende ao seu redor, pois, ao cair, ela destrói outras pequenas árvores, arbustos e cipós. Depois de abaterem mais de duzentas palmeiras, em recantos cada vez mais remotos, os palmiteiros pegam a estrada e levam o fruto do crime para fabriquetas clandestinas ou para vendedores de palmito fresco. Em cada viagem, em cada deslocamento do caminhão, um índio guarani está junto, pronto a dizer que o palmito é seu e sobre ele tem direito legal. De fato, tem direito legal.

Bom, a matéria segue por outras coisas, como plantações ilegais de banana sob a sombra das grandes árvores. A subvegetação é cortada e mudas de bananeiras são plantadas. Quando elas ficam adultas, as árvores são derrubadas, dando lugar a um bananal que, em breve, será ponto de início de erosões.

A matéria é boa e rica. No site tem mais fotos, ainda. O jornalista a tudo vê e documenta. As autoridades nada vêem e nada fazem.

E assim prossegue o jornal

Cada domingão um novo jornalão com coisas de um velho e lamentável Brasil.

A cada domingão procuro pelas boas notícias, e até encontro. O diabo é que o peso das más notícias é mais e mais avassalador.

Bom, depois dessa lembrança sobre a Juréia perdi a vontade de falar do resto. Economia, explicando o recente quase-crash, Metrópole, com mais informes sobre o CAN – Caos Aéreo Nacional – e a vergonhosa, para não dizer criminosa, ação ou inação das autoridades, o “mistério” acerca da pilhagem dos cadáveres e bens pessoais das vítimas do 1907 (que vergonha, a que ponto de degradação moral chegamos!), Cultura, com alguns livros ótimos na seção de lançamentos, etc.

Ah, claro, tem também as últimas sobre o caso Renan, outra vergonha nacional, outra amostra da degenerescência de nosso sistema e de nossos “representantes” no parlamento.

E pensar que, mesmo assim, com tudo isso, eu ainda anseio e não tomo meu café de todas as manhãs sem o meu jornal, aos domingos um jornalão.

.

sábado, agosto 18, 2007

Raiva e Desânimo versus Indignação

Tenho escrito pouco porque tenho tido muitos momentos de raiva.

E, acreditem, raiva e escrita não são coisas que combinem.

Quando a raiva passa vem um sentimento de desânimo, outro poderoso impeditivo da escrita com um grau mínimo de legibilidade.

Um sentimento que ajuda a escrever é a indignação. Victor Hugo, muito provavelmente, estava indignado quando sentou-se e escreveu “J’Acuse”. Estivesse ele enraivecido e teríamos uma obra-prima a menos na literatura universal. Mas a indignação precisa de um ambiente propício, não para aparecer, mas para se impor. E o nosso problema, hoje, partindo desse ponto de vista, é que vivemos em terreno fértil para indignações mil, mas, justamente por serem tantas, tão abundantes, tão diversificadas, uma sucedendo a outra em velocidade vertiginosa, nenhuma indignação consegue empolgar, consegue sobrepor-se às demais por um tempo mínimo que seja para surtir efeito.

E aqui, possivelmente, pode estar a chave do sucesso governamental: afoguemo-los com indignidades, uma maior que a outra, serão tantas que, num certo momento, deixarão de ser percebidas como tal e simplesmente farão parte da paisagem, estarão incorporadas aos usos & costumes sociais.

Essa teoria explica muita coisa, sem dúvida, mas não me ajuda a escrever algo decente e legível.

Ontem à noite, mesmo, dedilhei um irônico e virulento comentário sobre a diretora da ANAC, aquela senhora flagrada em alegre festa soteropolitana fumando respeitável charuto, enquanto milhares de brasileiros penavam nos aeroportos da vida. E porque escrevi tal ataque? Porque Dona Denise citou um de meus ídolos, Winston Spencer Churchill, ao defender-se e explicar-se sobre o porque do charuto. E, ao citá-lo, Dona Denise disse que ele, Churchill, provinha de família humilde.

Ora, faça-me o favor! Como pode tão alta autoridade republicana, dona de currículo de 13 minutos de duração para ser lido em audiência do Senado, dizer tamanha abobrinha? Nem o fato não-curricular de ter sido colega de faculdade de Zé Dirceu, ex-primeiro-ministro e atual primeira-eminence-grise da República, a perdoa por erro tão crasso. Quanto ao resto, prefiro nada falar, pode ser mais saudável.

Porém, como dizia, ontem à noite escrevi um monte sobre e contra Dona Denise. Reli, reli, reli e deletei. Aí fui dormir, coisa até meio custosa, pois ainda estava raivoso.

As manhãs têm sempre o dom de deixar-me motivado. Um novo dia é sempre o habitual clichê, na linha de promessas que com ele nascem, patati patatá. Clichê ou não, um novo dia é sempre algo animador, além de bonito. Mesmo que logo cedo eu dedilhe algumas mal traçadas e nelas entre Dona Denise.

Estou indignado? Apenas o de sempre.

Mas não estou raivoso. Nem enraivecido.


.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Voando no CAN - Primeira Parte

Congonhas estava ótimo na noite de terça-feira, dia 14.

Céu claro, estrelado, pouca gente no desembarque, pouca gente no embarque.

O check in foi rápido e tranqüilo, o vôo estava no horário, tudo estava bem. Parecia que tínhamos voltado dez anos ou mais.

Pouca gente na livraria e assim circulei com calma, vendo um livro aqui, outro ali. Tudo tranqüilo também na passagem pela revista eletrônica, exceto pela desatenção ou prepotência da funcionária com o detetor manual.

Uma mulher logo à minha frente disparou o alarme ao passar. E a funcionária desatenciosa ou prepotente ou tudo junto, o mais provável, mandou-me passar novamente. Ciente que com essas pessoas investidas de alguma autoridade todo cuidado é pouco, reclamei que o alarme não tocara para mim já obedecendo, como bom carneirinho. Passei novamente, olhando-a diretamente nos olhos, com a cara fechada, recém-terminando uma frase sobre aquilo ser um absurdo.

Grande coisa. Ela nem deve ter dormido de tanta preocupação com meu olhar “assusta burocrata” número 27.

O piso superior de Congonhas é muito bonito e, por que não dizer? – bem luxuoso. Chega a ser chique mesmo. Custou caro e, aleluia, as cadeiras têm descanso para os braços independentes, portanto, dá para sentar sem ficar encostado, disputando espaço com o cara do lado. Pensei em comer um sanduíche, mas desisti. O preço é tão luxuoso quanto as instalações e achei um abuso pagar onze reais e não sei quantos centavos por um sanduichinho bonitinho, mas, provavelmente, ordinário.

Tudo caminhava bem, eu estava sentado, lendo um livro fascinante quando meu sexto ou sétimo sentido (o mesmo que uma única vez falhou e por causa disso voltei de Porto Alegre de jatinho) alertou-me para um aviso: devido a remanejamento de aeronaves, patati, patatá, o embarque para o meu vôo dar-se-ia por outro portão. Meno male que seria, também, num dos portões que dão acesso direto aos aviões, via “finger”.

Ok, vamos para o outro portão. E lá se foi a manada, termo exagerado, claro, mas que, posteriormente, revelar-se-ia muito adequado. E chega de mesóclises nesse texto. Duas já é passar do limite do razoável.

Outros vôos também mudavam de portão. Aliás, pelo jeito da coisa, todos os vôos estavam mudando de portão de embarque. Uma festa.

Falemos a verdade: se colocar esse pessoal da INFRAERO e da ANAC num serviço de estacionamento, a empresa vai à falência no primeiro mês. Os caras não conseguem sequer distribuir os aviões pelas duas dúzias de vagas, o que dirá de estacionar duzentos carros em hora de pico? É um mais perdido e mais incompetente que o outro. Ainda não me saiu da cabeça o “técnico” de não sei qual das duas que deveria verificar a lâmina d’água de Congonhas e o fez de dentro do carro, quebrando o galho para o encarregado do serviço que tinha faltado.

De volta à sala de embarque.

O vôo atrasou.

Normal, não? Faz parte, claro. Sem comentários adicionais.

Atrasou pouco, quase uma hora, apenas. Embarcamos e decolamos já batendo onze da noite. Péssima notícia, claro, afinal, ainda teríamos de pegar um táxi para nos levar de Curitiba até Araucária. É perto, mas mesmo assim chegaríamos de madrugada. Eis que em pleno vôo vem a boa notícia: Joinville estava fechado e pousaríamos em Curitiba.

A notícia pegou a tripulação de surpresa, com o serviço de bordo em andamento e que precisou ser interrompido às pressas. Tive sorte, consegui comer meu sanduíche e enganar a fome que não valia onze reais.

Pena que não consegui comer lendo meu livro. Não cabia, o espaço era insuficiente. Antes, tinha tentado ler a revista de bordo, com bela matéria sobre Bonito e o Pantanal – aliás, matéria para ser vista, pois a leitura, descobri, era pouca e fraca, típica das revistas de bordo ou típica da nova era, apesar dos calhamaços que são cada um dos Harry Potter? – e tampouco consegui. Como o passageiro da frente reclinou sua poltrona, o espaço que sobrou não era suficiente para manter a revista aberta. Isso, dirá a companhia aérea, foi porque eu não reclinei minha poltrona. Verdade, eu não gosto, minha coluna é chata e prefere os encostos mais próximos de um ângulo reto. Bom, como o novo ministro da defesa já tocou nesse assunto do espaço, tá tudo resolvido, ou seja, nada mudará, exceto se for para pior.

Descer direto em Curitiba foi sorte para uns, azar azar para outros. O pessoal que contava estar nas camas joinvilleanas antes de uma da manhã iria de ônibus para a bela cidade catarinense. Cama mesmo, que é bom, só depois das quatro.

E foi assim que o vôo chegou em Curitiba, onde um táxi e seu motorista já meio cansado e sonolento aguardava os passageiros de São Paulo.

Fim da primeira parte.


.

domingo, agosto 12, 2007

E se...


Peguei o jornal no gramado em frente de casa.

Sobre ele, uma flor amarela caída do ipê dava um toque de cor mais viva às notícias da primeira página.

Em destaque, uma grande foto da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, chegando em Brasília para a posse presidencial. Dividindo o espaço com a presidente hermana, a foto mostrava o café da manhã da família presidencial: à cabeceira, em seu último dia de mandato, o presidente Luiz Inácio Lulla da Silva. À sua direita, em seu último dia como primeira-dama, a presidente-eleita, Dona Mariza Letícia da Silva.

Senti um frio na barriga, uma dor no peito, uma congestão na respiração. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas: era tudo verdade, não era um delírio.

A dor no peito aumentou e a falta de ar ficou pior.

O medo me tomou, associado a uma desesperança mais dolorosa que as dores.

Meu ombro começou a se agitar, estranhamente.

Emerson... Chamava uma voz, suavemente, repetindo mais algumas vezes.

Atendi ao chamado da voz.

Acordei. Era a Rosa me chamando, preocupada com meus tremores, gemidos e agitação.

Estava em minha cama, ao lado da minha mulher que me olhava preocupada, já com a luz acesa.

Estava de volta à realidade aconchegante da minha cama.

O susto passou. Tranqüilizei-a, mas não contei o pesadelo. Disse que tinha esquecido.

Tentei relaxar a cabeça sobre o travesseiro.

Que bom, foi tudo um pesadelo, não passou de um sonho mau, muito mau.

No íntimo do meu ser, contudo, uma fagulha de medo persistia...

E se...


.

domingo, agosto 05, 2007

Cunha


Depois de muitos anos, estive ontem em Cunha, nos altos da Serra do Mar, entre Guaratinguetá e Paraty.
Uma cidade gostosa e bonita.

Fiz várias fotos das torres da igreja matriz, motivado pelo azul do céu, os fiapos brancos de nuvem cortada por fortes ventos de entrada de frente fria, as cores da igreja e os galhos desfolhados de uma árvore.


Tão pelados como os galhos dessa árvore estão os inumeráveis morros que cercam a cidade, aliás, não somente essa, mas todas as outras do Vale do Paraíba.

Apesar de tudo que já sabemos sobre a necessidade de conservar as matas nos topos de morros e imperiosa necessidade de não mexer com o solo em encostas muito íngremes, os morros, sistematicamente, ficam carecas e as encostas perdem o verde protetor e mostram tons de cinza e amarelo do solo exposto e, em muitos casos, do próprio subsolo.

Assustador.




A eterna corrida contra o relógio não me permitiu mais fotos.

Quem sabe um dia?


.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Bom dia? Como assim?


Bom dia.

Bom dia. Ué, que que houve? Tá com cara de quem comeu e não gostou.

Quase isso. É que o café-da-manhã foi triste, meio chato, e isso apesar do meu time ter jogado e vencido ontem à noite, o que bastaria para tornar o desjejum de hoje delicioso, independentemente do que estiver à mesa.

Ora, mas por que, então, essa tristeza?

Porque hoje, por um desses insondáveis mistérios da vida, a gigantesca máquina que monta meu jornalão esqueceu de pôr o caderno de esportes no meu exemplar. Tive que fazer minha primeira e mais importante refeição do dia sem a minha leitura predileta. Foi traumático.

Ah, mas que exagero! O jornalão é grande, pega qualquer outra parte e leia!

É, isso é fácil de falar para quem não liga, para quem não presta atenção ao que lê ou simplesmente não lê. Não é o meu caso.

Você está exagerando, tá over reacting, como se costuma dizer.

Não, não estou over não-sei-o-que coisíssima nenhuma!

Claro que está, cara! Imagina só se todos os problemas do mundo se resumissem a isso!

Pois é, imagine que mundo quase perfeito não seria. Você é que não está entendendo a importância do caderno de esportes no desjejum do brasileiro médio amante de futebol e leitor de jornais.

Ah, é? Eu que não estou entendendo?

Exatamente. Você enxerga o detalhe e perde o todo, fica cego para tudo o mais que cerca o detalhe, que, como se sabe, é apenas uma pequena parte de algo muito maior.

Ah, sei, sei... Como o gol, né? Um mero detalhe ou, como você diz, uma mera pequena parte de algo maior que é uma partida de futebol. Sei, eu só queria entender mesmo.

Ora, essa ironia barata não pega bem, esse lance do gol ser detalhe não é bem assim, é uma deturpação, e além disso você atropelou meu pensamento e não me deixou terminar.

Tá bom, embora meu time não tenha vencido ontem à noite eu estou bem humorado hoje. Go ahead.

Gol de quem?

Larga a mão de ser palhaço, você fala inglês melhor que eu. Desembucha logo isso aí.

Ah, é verdade, go ahead é sinônimo de desembucha logo. Aliás, desembucha e logo são meio sinônimos, não são? Afinal, quando a gente solta um “desembucha”, já tá implícito que tem que ser já, agora, imediatamente, logo, no sentido de já. Portanto, desembucha logo é uma redundância. Você precisa aprender a ser mais econômico com as palavras. Fala demais.

Minha nossa, ninguém merece. Eu preciso ser mais econômico e você gasta meia hora com essa baboseira... Fala logo aí do... Do que mesmo? Tá vendo? Você fala tanto e desvia tanto que eu já esqueci o assunto. Ah, lembrei, o negócio do jornal.

Ok, vamos lá. Tempos atrás o Sulzberger disse que não estava preocupado com o próximo, na opinião dele, fim do jornal impresso, tal como o conhecemos hoje. O importante, segundo ele, era que o NYT continuasse vivo e informando as pessoas, não importando sua forma.

Sim, é verdade, acho que ele falou isso em Davos, no inverno.

Exato. Bom, embora eu viva em frente ao computador, opinião reforçada e aumentada por algumas línguas familiares, simplesmente não gosto muito de ler meu jornal numa tela. Gosto das folhas, gosto de abrir uma a uma e deparar com notícias as mais diversas possível. Isso é parte do encantamento de ler jornal, a surpresa no virar de cada página.

Descambou pra poesia... Isso vai longe.

Não, já tô acabando. Então, essa coisa do jornal logo cedo tem todo um ritual, sabe? Geralmente escuto quando o motoqueiro chega e joga o jornal. Se está chovendo, levanto correndo e, mesmo sob chuva e no escuro, corro até a frente de casa e pego o jornal. E você conhece minha casa, portanto sabe que tenho que vencer uns bons “par” de metros até o portão, abrir o dito cujo e andar mais alguns metros até chegar à zona de pouso do jornal, quase sempre no gramado embaixo do ipê-amarelo, quase sempre meio alto, o que me deixa com pés e barra da calça molhados. Veja só a que sacrifícios me submeto, sem tugir, nem mugir.

É verdade, estou impressionado. Tua mulher, com certeza, adoraria que você se sacrificasse a metade disto e fosse ao teatro com ela.

Ehhhhh, pode parar, estou falando do jornal ao café-da-manhã e lá vem você com teatro. Agora fui eu que perdi o fio da meada. Ah, encontrei, o ritual. Pois é, tem um ritual e ele começa com essa caminhada matinal...

Hahahahahahahahaha... Cara, fala sério, você chama de “caminhada” ir até o gramado da frente pegar o jornal? Mais um pouco você nem vai precisar caminhar pra isso, basta ir rolando! Hahahahahahahahahahahaha...

Realmente, uma mente não privilegiada como a sua não é capaz de entender as sutilezas da vida. Bom, sorte tua que estou quase bem humorado também, apesar dessa tristeza difusa. Como dizia, começa com essa caminhada e aí vem todo aquele lance do café, sabe? Todo o processo: pão com manteiga, leite com nescafé, uma fatia de pão com requeijão, um copo de suco, coisas assim, simples, singelas. E o jornal ali, sobre a mesa, o caderno de esportes dobrado e encostado em algum apoio, facilitando a leitura, deixando a comida ainda mais gostosa do que já é, e, isto é muito importante, deixando-me pronto para começar bem o dia. E com isso, eu também colaboro para a preservação do jornal em seu formato atual. Vai ser muito chato botar o computador em cima da mesa com o café-da-manhã.

(Virou delírio, mas, vá lá.) Certo, e daí? Hoje não veio o caderno de esportes, mas o resto do jornal estava lá. Então, qual o problema?

O problema, meu amigo, é que apesar de bem humorado, graças à vitória do meu time, estou com um terrível processo de indigestão e fortes cólicas. Por culpa da maledetta máquina que não me mandou o caderno de esportes!

Mas, como assim?

Como assim? Pô, eu tive que ler o jornal propriamente dito e fui obrigado a começar o dia lendo as patacoadas desse presidente e os desmandos e inações da camarilha que o rodeia! Pombas, foi isso. E isso acaba com o dia de qualquer vivente!

Mas, poxa, você sempre lê tudo isso todo dia.

Sim, leio tudo isso, todo santo dia, infelizmente, mas leio já amortecido, preparado, vacinado, digamos, pela leitura das coisas do futebol, por mais torpes que sejam. A verdade, meu amigo, é que não estou preparado para ler sobre o Brasil de hoje sem antes ter o preventivo esportivo. É ele que me protege disso tudo que está aí.

É, é verdade... De repente, perdi meu bom humor.


.

quarta-feira, agosto 01, 2007