terça-feira, janeiro 30, 2007

Conectado com o mundo

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Essa antena "grelha" em cima da casa recebe o sinal de rádio...



Contrariando um pouco a ordem natural das coisas, o Sítio das Macaúbas há muito estava conectado com o universo, particularmente nas noites escuras de inverno, sem luar e sem nuvens, a atmosfera limpa, mais transparente que o habitual, e toda a
abóbada celeste tomada por estrelas, a Via Láctea destacada, deixando a noite tão clara depois de alguns minutos de acomodação dos olhos, que até sombras aparecem. Parado no meio do carreador, entre as mangueiras e araucárias, ou na beirada do pasto, meu olhar se perde nas estrelas e sinto que há uma ligação com tudo aquilo. Sim, há muito tempo o Macaúbas tem conexão com o universo.

E agora tem conexão plena com o mundo, esse mundo azulado de cocuruto ainda branco em que vivemos: a internet chegou!


Via rádio, banda larga, 128 kbps e, chique no úrtimo, wireless! – e confesso que para minha surpresa. Só falta, agora, o computador, um notebook, claro, afinal, deixar um micro em casa é pedir para perde-lo, mas sobre isso nem vale a pena pensar agora.

Instalando uma webcam no bichinho, poderei, por exemplo, escrever e mostrar em tempo real as vacas no pasto, desde que a câmera tenha zoom, claro. Mas isso é bobagem, há coisas muito, muito mais importantes. A começar pelo telefone, claro.


Entusiasmei-me, mas também, pudera, o motivo é justo. Tanto que explica e justifica escrever “abóbada celeste”.


... que vem da antena emissora localizada no alto do Morro do Itatiaia, com as antenas escondidas pela nuvem baixa cheia d'água.

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quarta-feira, janeiro 24, 2007

Starbucks! Eu fui...

Sim, conseguiram tirar-me de casa em plena noite de sexta-feira. Pensando nas companhias agradáveis e nas boas conversas, cedi, e, temeroso, encarei a aventura de sair da Granja Viana e ir para o Shopping Morumbi no pior dia e no pior horário possíveis: a noite de sexta-feira.

Para minha surpresa, não tinha muita gente e estacionei no 3º piso, sem precisar chegar ao 4º e rodar meia hora à espera de uma vaga. Foi um bom sinal.

Dentro do templo, digo, do shopping, bastante gente, claro, mas nada excessivo, parecia até civilizado.

Por uma questão de gosto, optamos pela Starbucks anexa à megastore da Saraiva. Sempre gostei da combinação café & livros. Não tinha muita gente e, alvíssaras, descolamos simpática mesinha em aconchegante cantinho.

(Isso tá parecendo texto recusado de anúncio...)



Saudoso do “café americano”, pedi um tall para mim. É a menor embalagem e contém algo como meio litro de café. No copo fechado e com um protetor para as mãos devido à temperatura, o café se conserva quente e gostoso por muito, muito tempo.

Eu disse gostoso?

Xiiiiiii, escapou!

Mas é verdadeiro. É um café “aguado”, mas não é bem assim. A verdade é que eu até gostava desse troço e foi bom tomar de novo. É o meu novo “uísque de festa”, aquele copo básico com 19 pedras de gelo e dois dedinhos de uísque, que me mantém com as mãos ocupadas e enturmado em qualquer festa ou coquetel ou assemelhado. O tall da Starbucks é quase isso: fica ali, gostoso, quentinho, duradouro, aquecendo a boca e a conversa. Nem preciso dizer que o ar condicionado do Shopping funcionava às mil maravilhas, e nada como um bom café pra espantar o frio.

A Rosa e o casal de amigos que conseguiu a proeza de tirar-me da caverna, digo, de casa, tomaram outros cafés, mais elaborados, mais isso, mais aquilo. Simples e troglodita como sou, dei-me por satisfeito com o meu “americano” puro. Mas beberiquei o capuccino, muito saboroso. E belisquei o muffin de mussarela de búfala, também muito bom.

Enquanto passava os olhos pelos folders bonitos, informativos e elegantes, pensei que a Starbucks poderia comprar só leite de vacas Jersey e agregar mais valor aos seus produtos: cafés finos com leite de Jersey, o melhor leite do mundo.

O pessoal é bem treinado e muito gentil, nem parece que trabalham em empresa americana. Ah, é verdade, é americana, sim, mas está no Brasil e são brasileiros. Está explicada a gentileza. Não que americanos não o sejam. Bom... Não são mesmo, mas são eficientes e objetivos, um tipo de gentileza com o qual não estamos acostumados, criados que fomos à base de salamaleques e rapapés.

E o ambiente... Ah, o ambiente... Bom demais, foi a moldura perfeita pra mais de hora de conversa, durante a qual falamos mal do governo, criticamos nossa história e formação, falamos do futuro e outras coisas assim gostosas. Por incrível que pareça, nada disso estragou o sabor dos cafés e muffins.

A Starbucks está aprovada. Pena que fique dentro de um shopping e não tenha aquele charme próprio de uma cafeteria numa rua do Upper East Side, mas nem tudo é perfeito, né?

Em tempo: não, leitora amiga, leitor amigo, não me critique, não diga que isso é coisa de paulista. Você também irá tomar café numa Starbucks na primeira oportunidade possível. Pensa que eu não sei?

Bom final de semana prolongado pros paulistanos.

E bom meio-de-semana pra quem não é de São Paulo.

Ops!

Parabéns, São Paulo, felicidades e muitos anos de vida e coisa e tal.


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sábado, janeiro 20, 2007

Só daqui a 100.000 anos...

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Cometa McNaught é flagrado no céu de Christchurch, Nova Zelândia, anteontem;
visibilidade é melhor em cidades mais ao sul


A seguir, transcrição de entrevista com o descobridor do cometa McNaught,
publicada na edição de hoje da Folha de S.Paulo.
Belo trabalho da Folha, que fez a entrevista com seu correspondente em Sydney,
Rafael Garcia
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O descobridor do cometa que corta o céu do hemisfério Sul neste mês é um astrônomo autodidata que não se considera cientista. "Sou um observador", diz Robert McNaught, um escocês emigrado para a Austrália, que guardou na gaveta seu diploma de psicólogo para trabalhar com astronomia. Desde que começou sua carreira tardia, o homem que dá nome ao cometa mais brilhante dos últimos 42 anos já descobriu outros 31, a maioria deles no Observatório Siding Spring, perto de Sydney. Em entrevista à Folha, McNaught falou um pouco sobre seu trabalho.

FOLHA - Seu site diz que a descoberta do cometa foi fruto de trabalho de rotina. Como é seu dia-a-dia?
McNAUGHT
- Temos três observadores aqui, contando comigo. Fazemos um rodízio. Toda noite com tempo aberto -exceto quando há lua cheia- operamos o telescópio sistematicamente, varrendo o céu do Sul.

FOLHA - O que é o seu projeto?
McNAUGHT
- Procuramos asteróides e cometas que apresentem risco de colisão com a Terra, especialmente os grandes - maiores de um quilômetro. Temos verba para isso até 2008.

FOLHA - Quantos cometas vocês já descobriram?
McNAUGHT
- Até agora foram 29, aqui no Siding Spring. O McNaught foi o último. Eu já batizei 32 cometas, na verdade, mas nenhum deles chega aos pés deste em brilho.

FOLHA - Vocês já calcularam a massa e o período do cometa?
McNAUGHT
- Aqui não analisamos estrutura física ou tamanho de cometas, mas já sabemos que a órbita dele é muito alongada. Ele veio para o Sistema Solar interno [planetas de Mercúrio a Marte] quase como numa parábola [curva aberta]. Ele provavelmente veio da Nuvem de Oort, de uma longa distância no Sistema Solar, e só vai voltar à Terra depois de cerca de 100 mil anos.

FOLHA - Porque o brilho do cometa surpreendeu tanto os astrônomos?
McNAUGHT
- Como não tivemos uma visão próxima do cometa, não sabíamos na realidade como era sua superfície. Não sabíamos se ela era de gelo com poeira ou se era coberta de um manto só de poeira, que impede a radiação do Sol de chegar ao gelo. Também não sabemos se a superfície tem falhas ou se é lisa. Isso tem grande influência no grau de brilho do cometa. Só podíamos estimar o brilho por antecipação comparando-o com outros cometas do passado, mas muitos cometas com órbitas similares não tiveram aumento de brilho tão rápido ao se aproximarem do Sol.
Mas não existe um comportamento típico de cometas. Cada um é um pouco diferente do outro. O McNaught parece estar no extremo de brilho em uma ampla gama de comportamentos [aspectos] dos cometas. Outros cometas, como o Austin [de 1990], tiveram um aumento de brilho rápido no início, mas não o mantiveram.

FOLHA - Qual é a perspectiva de brilho para os próximos dias?
McNAUGHT
- O brilho certamente já está diminuindo, mas o cometa está se movendo para um céu mais escuro, por isso está mais visível agora do que quando atingiu o ponto mais brilhante. Para quem estiver longe das luzes das cidades, o cometa deve ser visto com facilidade na próxima semana e, talvez, durante mais algumas. O céu mais escuro, além disso, permite ver a enorme cauda do cometa. Apesar disso, a Lua está começando a se aproximar daquela região do céu, e dentro de uma semana ela pode atrapalhar a visibilidade do cometa. Então, na verdade, a semana que vem deve ser mesmo a melhor para ver o cometa.

FOLHA - A latitude influencia a qualidade da vista?
McNAUGHT
- Sim. No geral quanto mais ao Sul, melhor. Aqui no Siding Spring estamos a 30 Sul e o cometa está bem posicionado. Quem estiver a até uns 20 Sul [latitude de Belo Horizonte] ainda pode ter uma boa vista do cometa, mas o melhor deverá ser em uns 40 Sul [latitude de Bariloche].

FOLHA - O cometa pode se desintegrar com a radiação do Sol?
McNAUGHT
- Há sempre uma possibilidade de isso acontecer, e acontece com freqüência com cometas que passam muito perto do Sol. Este cometa não passou tão perto, mas outros que estavam à mesma distância já chegaram a soltar alguns fragmentos. Até agora não temos evidência de que isso tenha ocorrido, apesar de ainda poder acontecer.

FOLHA - Quão brilhante é esse cometa, em relação a outros que apareceram nos últimos cem anos?
McNAUGHT
- Existe um grupo de astrônomos amadores que se dedica a compilar dados sobre isso. Segundo eles, o McNaught é o segundo cometa mais brilhante desde 1935. Ele perde para o cometa Ikeya-Seki [em 1965], que foi muito mais brilhante do que este.

FOLHA - Independentemente de sua beleza, o cometa gerou algum interesse científico em especial?
McNAUGHT
- Certamente haverá estudos especiais feitos sobre o cometa. O fato de ele ser tão brilhante significa que é possível estudar sua luz em mais detalhe. [A separação da luz pode revelar a composição do cometa], mas ainda não tive tempo de procurar saber o que está sendo feito.

FOLHA - Fale um pouco sobre sua carreira. Como o sr. virou um caçador de cometas?
McNAUGHT
- Eu me interesso por astronomia desde muito jovem e me tornei um astrônomo amador. Sempre fui ávido por isso, sair por aí para fazer observações com meu próprio telescópio. Então eu tive oportunidades que me levaram nesta direção. Mas não não sou pesquisador, sou um observador.

FOLHA - Em que o sr. se formou?
McNAUGHT
- Em psicologia, mas nunca trabalhei com isso. Assim que me formei, há uns 20 anos, consegui um emprego em astronomia. Sempre foi minha paixão.

FOLHA - Por que o sr. não se matriculou em física, ou algum curso ligado à astronomia?
McNAUGHT
- Eu fiz isso, mas eu larguei o curso porque minhas notas estavam péssimas. Eu fui para psicologia porque gostava do assunto, mas nunca trabalhei na área.

FOLHA - O sr. acha que a passagem de um cometa como este pode tornar os jovens de hoje interessados em astronomia?
McNAUGHT
- Eu já tinha interesse em astronomia antes de ver o cometa Bennet em 1969, mas foi a partir dali que eu fiquei deslumbrado. Aquele cometa era espetacular e certamente aumentou meu interesse em astronomia.



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sexta-feira, janeiro 19, 2007

Tudo muito estranho



Estranho janeiro...

Aqui na Granja Viana temos dormido com edredon e em algumas madrugadas o frio tem ficado meio brabo. Sem dúvida, a arquitetura (digamos assim) do nosso quarto e a janela francesa sem a proteção das portas de vidro contribuem para tanto frescor. Assim mesmo, contudo, as temperaturas têm andado na parte mais baixa do termômetro.

O cometa McNaught está passeando por nosso céu, na boca da noite, no horizonte ocidental. Mas quem diz que se consegue ver o dito cujo? A espessa camada de nuvens da frente fria tampa tudo, até S.Excia., o Astro-rei. Isso é bom por um lado, nunca canso de repetir, mas por outro bem que eu gostaria de uma janelinha de um ou dois dias de céu aberto. Gosto dessa coisa de ver cometa, mas ver, mesmo, de verdade, vi duas vezes, em duas noites viajantes. A primeira no interior de São Paulo, na beirada de uma Castelo Branco deserta, e o cometa era um ponto luminoso dois graus acima da categoria “ridículo”. A segunda vez foi melhor, pois o cometa estava uns quatro ou cinco graus acima da tal categoria retro-citada. Parei o carro numa estradinha no sertão do Mato Grosso e fiquei quieto alguns minutos, deixando os olhos se acostumarem com a noite, seus brilhos, seus contornos. E lá no alto estava o cometa.

Precisaria pesquisar para lembrar os nomes das duas excelsas visitas, mas não creio que seja tão relevante, afinal, o cometa com mais nome e mais fama, o Halley, não passou de grande e invisível mico, capaz de levar-me a dirigir 90 km em busca de um bom lugar para vê-lo e nada. Mas vi Saturno, o que já foi bom demais.

Esse McNaught está por aí até o final do mês. Quem sabe conseguirei vê-lo no outro final de semana, já no sítio?

E voltando à vaca fria terráquea, e bota fria nisso, o frio intenso destrói 75% da safra de laranjas da Califórnia. Na Florida ainda não?

Que pena...

Coisa feia isso, né? Mas, fazer o que? É tanta a disparidade e, principalmente, é tão aviltado o preço que os ricos pagam por nossos produtos primários que não consigo pensar diferente. Tristeza de uns, alegria de muitos. Sim, porque 40% da safra de laranjas da Florida foi perdida para problemas climáticos, notadamente furacões, além do frio e da seca. Com isso, os preços para nossas laranjas têm se elevado, o que é bom para nossa balança comercial e, principalmente, seria bom para nossos produtores de laranjas, meia dúzia dos quais são vizinhos e amigos. Mas... Bom, a verdade é que quando essa meia dúzia for beneficiada, é capaz do Halley dar as caras por aqui novamente, e em grande estilo.

“The same old story...”

E também dá pra trocar “story” por “history”, nesse caso.

E por falar em velha história, e não estória, surgiram vestígios de forte aquecimento sei lá quantos e quantos séculos atrás. Isso sempre me deixa com uma pulga atrás da orelha sobre o aquecimento global. E também a muitos cientistas. Apesar de nossos avanços científicos e coisa e tal, pouco conhecemos, ainda, sobre o clima, principalmente sobre seus longos ciclos, alguns, possivelmente, medidos em milhares e milhares de anos.

Paro por aqui.

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quinta-feira, janeiro 18, 2007

Uma tragédia urbana


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Durante quase seis anos esse prédio foi minha casa profissional.

Nesse período, nos primeiros tempos meu carro ficava no estacionamento externo. Hoje, e desde a tarde do dia 12 desse mês, ele não existe mais, foi substituído pela cratera. A bem da verdade, ele já não existia há meses, pois virou canteiro de obras para as obras do metrô.

Promovido, passei a deixar meu carro na garagem subterrânea do prédio. Pegava o elevador e, da minha sala, contemplava as colinas do Morumbi e o Butantã. Se eu fosse para a sala de algum colega olhava o campus da USP. Abaixando a vista, já daria para ver o estacionamento que já não existe.

Dizem que o prédio está seguro, sem a menor ameaça. Creio que sim, parece que sim. Egoísta, confesso-me feliz por não mais trabalhar no Edifício Passarelli. Não sei se conseguiria trabalhar tranqüilo, algumas dezenas de metros acima do solo, tendo uma cratera com outras dezenas de metros de profundidade e quase com a mesma área que um campo de futebol, bem ao lado, até precisando tomar cuidado para não escorregar e despencar buraco abaixo.

Frequentemente meus pensamentos vão para as pessoas que estavam na van, umas trabalhando, outras a caminho de compromissos ou apenas indo para casa. E para a velha senhora, com 75 anos de idade, que fazia aulas de surf e caminhava pela rua quando foi tragada, literalmente, pela terra que se abriu. Impossível pensar em todo o terror e sofrimento que foram os minutos finais, com toneladas de terra por todos os lados, a escuridão absoluta.


Que descansem em paz.


O governador tem acompanhado tudo de perto. Nesse momento é ele a única esperança que resta às famílias das vítimas dessa tragédia de serem socorridas e não sofrerem ainda mais, agora materialmente, com as perdas de seus pais, maridos e filhos.

E a culpa?

E a causa?

Já são muitas as hipóteses, assim como as acusações.

Cabe esperar pela apuração de tudo que ocorreu. Sair acusando a torto e a direito, agora, em nada ajuda e a nada conduz.

As cinco empresas envolvidas na obra e, em tese, responsáveis por tudo, são as maiores do Brasil na área de engenharia e construção civil. Não lhes falta capacitação técnica, recursos, experiência, pelo contrário, pois, justamente por terem tudo isso é que foram escolhidas.

A tragédia já aconteceu, vidas foram perdidas.

Não vejo cabimento nas declarações de membros do Ministério Público que querem manter a cratera tal como está, como “prova”. Em nada se incomodarão com o atraso dessa linha do metrô, em nome da “segurança e da justiça”, que poderão ser atendidas sem prejuízos, mesmo com a obra seguindo. O metrô não é luxo, é necessidade vital há décadas.


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segunda-feira, janeiro 15, 2007

Home alone ou...

Não-Aventuras de um Homem Casado Sozinho em São Paulo



Começo da tarde de Sexta-feira; termina a edição de um vídeo trabalhoso e começa o meu final de semana. A família foi tomar chuva em Santa Catarina, fiquei sozinho com os cachorros, a casa, a internet, a tv por assinatura e a geladeira e o frezer cheios. Bom, ficaram, também, vassouras, rodos, aspirador de pó, louça, gramado, cocô da cachorrada – aliás, muito cocô da cachorrada -, etc e tal, mas isso é outra história.

Trabalho concluído, nada melhor que pequena celebração com um churrasco maneiro. Fomos comer num restaurante por quilo perto da produtora. No cardápio diário tem churrasco, mas às sextas-feiras a coisa muda para melhor: costelão e “vazio”. E o churrasqueiro amigo guardou costelão para nós, felizmente. Essa é, para mim, a carne mais saborosa entre todas: uma costela bem assada. Ponho um bocado de fibras vegetais no prato, na forma de rúcula e agrião, um punhado de carbohidratos na forma de um arroz branco, simples, e farinha, na forma de farofa (nem tudo é perfeito). E tome costela, vazio, picanha e cupim, tudo acompanhado por água mineral com gás, gelo e rodelas de limão.

Que festa!

Passo a noite de sexta-feira em casa; nem janto, como só meia maçã e uma caneca de leite desnatado com cereais. Depois de tanta carne, isso é um santo remédio para todo o sistema digestivo. Sintomaticamente, durmo cedo e bem.

E as aventuras?

Pois é, as aventuras... Quem sabe no sábado?



O Sábado paulistano é um dia maravilhoso, cheio de ofertas e promessas. Claro, para quem está com os bolsos recheados é ainda melhor; não é o meu caso, infelizmente. As promessas podem ser muitas – e são – e não necessariamente ligadas a aventuras, digamos, com o sexo oposto, esporte assaz aprazível, mas que deixo pra rapaziada descompromissada.

Esclarecido tão importante pormenor, voltemos à vaca fria das aventuras paulistanas.

Há quem goste de explorar restaurantes, no sentido de descoberta, e não no sentido de tirar o couro do pobre dono do mesmo, coisa para a qual um amigo é particularmente dotado. Ele freqüenta rodízios diversos, de sushi a pizza, passando pelo churrasco, e também alguns “por kilo” de boa cepa e que fazem, num dia fraco da semana, a promoção do coma quanto quiser a preço fixo. Tanto explora os restaurantes essa figura, que, apesar do salário, anda num carro 2006 e já pensa num 2008. Estou certo que consegue tal milagre com a economia na alimentação, pois só toma café da manhã e depois o lauto almoço. O resto do dia e a noite, só água, uma frutinha ou uma cervejinha com tira-gosto, devidamente rachada com amigos diversos. já os bons exploradores de restaurantes e não exploradores dos donos de restaurantes, saem de casa à caça do novo, do inusitado, do exótico. Vão ao Fasano comer omelete com trufas brancas, assim como vão ao Mercado Municipal se empanturrar com um daqueles gigantescos sanduíches de mortadela. Já joguei nesse time em tempos distantes. Não jogo mais. Teria que olhar meu saldo bancário antes de sair e quem precisa fazer isto não tem caixa para explorar restaurantes. Melhor ficar no “por kilo” amigo e economizar na balança. Faz bem pra saúde do corpo e do bolso.

Outra boa aventura paulistana é andar pelos sebos. Claro, para isso tem que gostar muito de livros. E bota muito nisso. Tempos atrás fui à casa de família de nossas relações. Sozinho, meio abandonado, flagrei-me fazendo o óbvio (para mim): procurando um bom jogo na tv. Não tinha. Passei, então, para o item número 2 da pesquisa de coisas para passar o tempo: procurei livros.

Jacaré achou?

Nem eu.

Nem unzinho para fazer um chá de emergência. Nada, nadica, neca de pitibiriba. Pensando bem, se tivesse algum seria de auto-ajuda e aí eu é que estaria fora.

Mas, concordo, andar por sebos e manusear livros velhos é tarefa meio chata, além de propensa a provocar espirros e alergias a pessoas mais sensíveis. Meu lado troglodita me poupa desses dissabores.

Todavia, nesse sábado em particular, talvez por estar bem abastecido de livros novos e releitura de velhos, não me senti animado a calcorrear sebos.

Ah, sim, sábado seria o dia perfeito para sair de casa cedo e chegar ao shopping de madrugada – dez horas da manhã -, quando ele ainda está vazio. Aí, era só dar um pulo a uma das duas cafeterias Starbucks, onde poderia, enfim, provar um ou dois de seus tão famosos cafés, agora presentes aqui na Terra de Vera Cruz, sem pegar fila, que mesmo sendo charmosa, como disse um amigo que suportou-a, continuaria sendo uma fila, coisa que eu detesto sobremaneira. Pois muito bem, isso, sim, seria uma aventura digna desse nome, digna de merecer uma crônica, que, além disso, far-me-ia mais bem visto aos olhos de meus sete ou oito leitores de ambos os sexos.

Hummmmmmm...

Chuvinha fina, tudo tranquilo, cachorros cuidados e dorminhocos, uma cama gostosa e um livro cativante e... peguei no sono, acordei quase onze horas da manhã, e aí, adeus Starbucks. Fica para outro dia tão deliciosa aventura.

Criei coragem e botei os pés fora de casa. Na falta de uma Starbucks, parei na Kopenhagen aqui da Granja mesmo, ao lado da livraria, onde folheei dois ou três livros e comprei uma revista. Com ela na mão, entrei no templo das perdições, digo, na Kopenhagen, e tomei um capuccino como se deve.

Voltei para casa, onde li, editei vídeos, assisti a um joguinho gostoso e fui dormir cedo.

Para a aventura, ou aventuras, ficou o domingão.



Domingo logo cedo, os cachorros e os jovens vizinhos fizeram-me o favor de acordar antes das cinco da manhã. A rapaziada chegou da balada e acharam por bem prolongar a dita cuja a uns vinte metros dos meus ouvidos.

Despertada antes do tempo, a cachorrada achou que já era hora do café e fez o pedido como de costume, aos latidos. Retruquei no mesmo tom e aquietaram-se, mas Inês era morta e o sono perdido. Peguei um livro e li até seis e meia, quando o dia começou.

Caminhei, o que, sem dúvida, foi uma aventura, visto que escapei da chuva e corri o risco de ser pego em meio a terrível tempestade com raios aos montes. Nada disso aconteceu, mas poderia, né? É o que basta para configurar uma aventura.

Contudo, o domingão é dia de aventura, para isso basta ter a coragem de abrir o Estadão e a Veja. É batata! São tantas as tragédias e riscos ali relatados que a leitura em si é uma aventura de certa periculosidade. Primeiro, para o humor, vítima contumaz dessas leituras. Segundo, para a saúde dos corações sensíveis. Terceiro, para a fé e a esperança no futuro e...

Caraca, deixa isso quieto, essa crônica deveria ser leve, exceção feita ao churrasco inaugural.

E assim se passou o tempo, praticamente duas semanas que agora findaram, no esqueminha home alone. Não posso negar que vivi portentosa aventura, ao comprar uma pequena peça de bacon, escolhida a olho e dedo, e depois fatia-la fininha, de cabo a rabo, e tacá-la na frigideira. Bem frito o bacon, por cima joguei dois ovos mexidos e, por último, queijo. No prato, pão integral, no copo, Diet Pepsi. Eu sou um cara assim, sem meias medidas: adoro viver perigosamente. Claro que, depois, cereais, maçã, etc e tal.

As tarefas domésticas e caninas tomaram-me tanto tempo que pouco dele restou pra ficar escrevendo e lendo na internet. Pensei que sofreria uma overdose de programas esportivos, mas qual! Pouco assistí, em parte por certo enfado motivado por essa época do ano vazia de emoções futebolísticas nessa Terra de Vera Cruz, em parte por falta de tempo, mesmo.

Colhi acerolas, tarefa agradável e divertida e acho que foi só.


Como “cigarra” solto na grande cidade eu sou um completo fracasso. Pra azar de quem leu até aqui, esperando por uma escorregadela, uma pisada na bola, uma besteira qualquer.

Sorry.


P.s.: fica a promessa de ir à Starbucks qualquer dia desses; depois eu conto tudo.


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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Colhendo frutas e pensamentos à toa


“Triste vida, triste sina,

Ser poeta de latrina.”

Inesquecíveis versos dos tempos de infância e adolescência. Esses versinhos singelos decoravam todas as portas de todos os banheiros públicos – escola e restaurantes, basicamente – em que a gente entrava numa hora ou noutra. Aliás, parece-me que naqueles tempos movidos a ônibus e até bondes, usar banheiro fora de casa era mais comum que hoje, quando só nos movemos a carro particular, garantia falsa de chegar mais cedo em casa a tempo de fazer tudo que se precisa fazer em casa mesmo.

Essa velocidade maior da vida moderna talvez tenha acabado com esses poetas marginais, capazes de criar versos tão simples como imorredouros.

A grande questão que esses versos levantam, entretanto, é outra: a troco de que apareceram nesse blog, nesse momento? Que estranhos mistérios terão conduzido meus desocupados neurônios a algum arquivo perdido nos meandros da memória para resgatá-los? Não sei, ignoro totalmente. Falta de ter o que fazer não é. Ainda hoje preciso varrer a casa, passar aspirador, lavar a louça, preparar alguma coisa pro almoço, limpar o gramado (eufemismo para catar cocô de cachorro), etc. Das tarefas previstas para hoje, só fiz uma: colhi mais acerolas e guardei-as no freezer.

Colher é uma das mais fascinantes e, com certeza, a mais antiga tarefa da humanidade. Antes de sermos caçadores fomos coletores de frutos e raízes. Com elas, alguns insetos, ovos, um ou outro passarinho bobo... Até que um dia aprendemos a andar eretos e aprendemos a caçar, a fazer armas, a fazer fogo, a comer comida cozida e não mais crua. Assim nasceu o rodízio de carnes, também chamado de espeto corrido, a centenas de milhares de anos nos planaltos do Kenya.

Colher uma fruta é algo primitivo e fascinante, e ao mesmo tempo gratificante, ainda mais se a árvore tiver sido plantada com suas próprias mãos. É inevitável nessas horas um sentimento de gratidão e respeito pela natureza nos dominar. Nesses momentos, fica clara nossa dependência não de chips e celulares da hora, mas de coisas mais prosaicas como uma fruta, um grão, um ovo, um pedaço de carne de outro ser antes vivo como nós. Na Idade Média, o paganismo estava associado justamente às pessoas do campo, que punham a comida na mesa e por ela agradeciam, não necessariamente ao mesmo deus dos cristãos, embora eu ache que se tratava apenas de uma diferença semântica. Creio que mesmo um cristão não deixa de reconhecer a presença de Deus na natureza e suas muitas manifestações.

Enquanto colho as acerolas os cachorros se divertem. Pegam as frutinhas, verdes e maduras, que pendem dos galhos mais baixos. Às vezes, para pegar alguma mais alta, erguem-se sobre as patas traseiras e praticamente se debruçam sobre um galho que se verga até tocar o chão. Pegam, mais por farra, as frutinhas, mastigam e engolem, com semente e tudo. Em mais dois milhões de anos é capaz que um ramo evolutivo leve-os a se tornarem vegetarianos.

Esse pé de acerola e o ipê na entrada de casa mantêm-nos em permanente ligação com o campo. As frutas já bicadas deixo para os passarinhos, assim como as mais altas, difíceis para mim, fáceis para eles. Sanhaços e sabiás são as visitas mais freqüentes, mas já vi saíras coloridas pulando de galho em galho. Na pracinha em frente de casa, uma ameixeira meio escondida por outras árvores, faz a festa dos sagüis e dos pássaros.

Normalmente o jornal do dia é jogado próximo das árvores. Logo cedo, enquanto o leite pras cachorras esquenta no fogão, vou até a rua e pego o meu exemplar. Enquanto as árvores, frutas, flores, pássaros, sagüis ficam para trás, tiro o jornal de seu saco plástico e começo a passar os olhos pelas manchetes.

Descobri. Acho que foi isso que me trouxe à mente a velha poesia:

“Triste vida, triste sina,

Ser poeta de latrina.”


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segunda-feira, janeiro 08, 2007

“Marvada” chuva


As chuvas assustam.

As manchetes gráficas e eletrônicas estampam “50 mortes” provocadas pelas chuvas, inclusive no exterior.

Chuvas provocam a maior enchente da cidade de Campos.

Quase seis mil desabrigados, só no estado do Rio de Janeiro.

Congonhas fecha por causa da chuva e São Paulo tem mais de dez pontos de alagamento.

E por aí vai, um imenso rosário de tragédias e tristezas, grandes e pequenas.

E as pessoas saem a desancar a chuva, jogando sobre ela a responsabilidade sobre todos os males, senão do mundo, pelo menos do Brasil.

E eu aqui, no meu cantinho, fico constrangido em bendizer a chuvarada, chegando, quando muito, a desejar apenas que ela se distribuísse um pouco melhor, sem tanta concentração e força em períodos tão curtos.

Mas...

Por que ficar constrangido?

Desde quando a chuva é culpada pelas desgraças e tragédias humanas?

O próprio dilúvio, segundo a Bíblia, nada mais foi que uma grande ação de limpeza divina, uma lavagem em regra da casa que estava muito suja.

Aqui, na Terra de Vera Cruz, creditar à chuva as tristezas que hoje vemos nos jornais e telinhas, é absolver e justificar autoridades relapsas e pessoas ignorantes ou descuidadas.

A ação destruidora das águas não é novidade para ninguém, nunca foi. A água é agente transformador do relevo, podendo operar em pequena escala, como no sulco no meio do pasto, ou em grande escala, atrainda milhões de turistas, como o Grand Canyon. Diz o bom senso que não é bom ficar no caminho das águas. Todavia, quem disse que o bicho-homem tem bom senso? O que vemos em nossas cidades?

Construções, inclusive de alto luxo, em encostas de morros, frágeis como um castelo de areia na praia.

Grandes avenidas e construções infindáveis ocupando as beiras de rios e córregos, áreas que existem com a finalidade principal de abrigar as águas excedentes das épocas de chuva.

Construções e asfalto a perder de vista, cobrindo todo e qualquer centímetro quadrado de terra, impermeabilizando enormes áreas, impedindo a água das chuvas de seguirem seu rumo natural e desejável, que é adentrar o solo e ficarem depositadas mansas e ordeiras no lençol freático e nos grandes aqüíferos, mais profundos.

A tragédia de hoje nada mais é que o resultado normal e esperado do erro de ontem e da omissão de sempre das autoridades.

Em nome do “social”, nada se faz para impedir que pessoas pobres e desesperadas construam casas e barracos nos morros e várzeas.

A expansão desordenada das cidades e a busca por mais e maiores lucros imobiliários, transformam várzeas em bairros residenciais, comerciais, industriais...

Agravando esse quadro ainda mais, as matas foram devastadas e a agricultura praticada em lugar delas é destruidora de solos. Sem condições econômicas para cuidar bem da terra, sem assistência técnica e incentivos para fazer isso, o agricultor comum, mormente o pequeno, deixa seu precioso solo arável escorrer para córregos, riachos e rios.

E, ano após ano, tudo isso se repete, sem novidade.

E, ano após ano, toda a culpa é jogada sobre as chuvas, sobre o clima, sem novidade, tampouco.

E, ano após ano, nada é feito para corrigir e evitar. Como de hábito.

Em 2008 estaremos falando dessas mesmas coisas. Tal como fizemos em 2006, 2005, 2004, 2003...

Tudo por culpa da “marvada” chuva.

Um adendo

A chuva, por pior que seja, é sempre um evento de ação restrita, localizada, ao contrário da seca, que é difusa, atinge amplas áreas, desconhecendo fronteiras e barreiras. Só para registro.

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sexta-feira, janeiro 05, 2007

Noticiário – Verão – Janeiro 2007


No Macaúbas...

As notícias chegam do sítio razoavelmente molhadas. Chove bem nessa semana. Isso é bom, é ótimo, apesar do barro e da umidade que tudo recobre. Faz parte. Mas é importante, fundamental, mesmo, que as chuvas caiam regularmente até começo de abril, e que abril e maio não passem a seco, tampouco. São esses dois meses que fazem a diferença e algumas pancadas de chuva nos dois ajudam demais da conta.

O sol aparece, a temperatura está alta, tem nutrientes no solo, e o capim desanda a crescer e as vacas a comerem. Essa comilança de agora não vai ajudar a produção que está muito baixa, reflexo da seca e da comida que, se não foi pouca, deixou muito a desejar no quesito qualidade. Mas não importa, pois o negócio, agora, é recuperar energias e estado físico para uma boa parição e uma nova lactação em bom estado. Os reflexos de uma seca inesperada e intempestiva perduram por muito tempo. Na natureza, ao contrário das fábricas, financeiras e empresas diversas do mundo urbano, valem as leis da natureza com seus tempos próprios e, quase sempre, imutáveis.

Na China...

Um estudo inédito encomendado pelo governo chinês está deixando burocratas e plutocratas (sim, eles já existem lá), técnicos e cientistas com os cabelos em pé e os olhos arregalados (hummmm... essa foi para estragar o texto, mas, paciência...) por causa das previsões.

De acordo com o estudo, as mudanças climáticas provocarão alterações de grande monta não só no ambiente como também na economia chinesa. Se o ritmo de mudanças persistir, a China vai abrir a segunda metade desse século com perdas substanciais – previsão de 37% – na produção de carne, milho e arroz.

Eu diria que esse estudo é otimista ao datar essas perdas para o começo da segunda metade do século. Entre inúmeros indicativos perigosos, a desertificação avança a pleno galope em muitas áreas agrícolas chinesas. Há outros, não vale a pena ficar citando agora. O que esse estudo ignora é que, muitas vezes, fenômenos da natureza potencializam-se, como se escapassem ao controle, e subitamente aumentam sua velocidade e área de cobertura.

Algo me diz que não será bom negócio reencarnar como chinês.

Uma boa (quase)...

A Powernext Carbon, bolsa européia sediada em Paris que negocia créditos de carbono, bateu um recorde em dezembro: quase 6 milhões de toneladas negociadas, numa média diária superior a trezentas mil toneladas.

Not bad... but not enough.

A médio e mais a longo prazo, as compras de créditos de carbono poderão ser um auxiliar importante na preservação ambiental e no combate ao efeito estufa.

Primeirão, primeirão...

É verdade, esse foi o primeiro post do Ano da Graça de 2007.

Que ele seja molhado, que seja produtivo, que seja ameno, que o aquecimento diminua ou, pelo menos, não aumente, assim como o buraco de ozônio.

Um bom 2007 para todos.


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