sexta-feira, julho 29, 2005

Notícia alvissareira... Será?

“Tudo isso que está aí” tornou-se cansativo. Não gostaria de ser um colunista político nos dias que correm. Teria que trabalhar umas 22 horas por dia de 2a a 6a. Nos fim-de-semana descansaria: trabalharia só umas 15 horas no sábado e umas 12 no domingo. Afinal, ninguém é de ferro, né? Tampouco gostaria de ser um colunista dedicado a escrever ou falar sobre política porquê o sentimento de frustração seria brutal demais. Atordoante.

Quando tudo isso começou era claro que as CPIs fariam seus próprios caminhos. De fato. Uma nasceu, mas parece que natimorta. Nem precisamos dela, felizmente. A outra já deu pano pra manga mais que o suficiente. Tanto, aliás, que já surgem no horizonte alvissareiros sinais de acordo. De “acórdão”. Todo mundo quer manter o presidente. Ninguém quer mais devassas em suas contas. Nem situação, nem oposição, o que me leva a lembrar da minha família, caipiras de Marilia, Ribeirão Preto, Paraopeba: quando um não quer, dois não brigam. Pois é.

O que achei mais interessante nos últimos dias é ainda um sinal de fumaça. Não configura uma mensagem, mas espero que se torne realidade, e está no blog e na coluna da Tereza Cruvinel, em O Globo de hoje, 6a-feira. Ela conta que o deputado Miro Teixeira está preparando um projeto para ir a votação, para que no próximo ano vote-se, também, numa mini-constituinte revisora exclusiva. Ou seja, além do pessoal de sempre, votaríamos, também, em deputados constituintes, com mandato de um ano e função exclusiva de revisar a atual constituição Frankenstein, digo, Constituição Federal, nos capítulos sobre ordem tributária e distribuição dos deveres e do dinheiro dentro da federação.

Embora não ataque o eixo central de nossa desgraça política, a começar pelo “pacote de abril” de Geisel e Golbery que continua em pleno vigor, já é um bom começo. O governo federal tem tanto poder e tanto dinheiro, que é mais que natural que atraia tanta cobiça e tanta corrupção. Regionalizando e municipalizando, não vai acabar com a corrupção, mas tornará mais fácil a identificação de focos de corrupção. Ao menos em teoria.

Bom, quem sabe, né? Enquanto isso, clicando aqui você encontra a relação de todos os sacadores de dinheiro das contas das agências do Marcos Valério, o marido de Dona Renilda.

Ah, sim, tem também uma relação de depositantes.

Por que que eu não tenho clientes assim? Onde foi que eu errei?

Bom fim-de-semana pra todo mundo. Eu estarei pelo sítio cuidando dos abacaxis.


Emerson


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DESCOBRI-ME!



Parem as máquinas! Finalmente, depois de longa espera, descobri-me. E já antecipo, pra desgosto das más línguas, que essa descoberta nada tem a ver com a minha opção sexual, que continua sendo a mesma de sempre. Sou um

CONSERVADOR SIMÉTRICO DE ESQUERDA CONTROLADO PELA DIREITA

Foi assim que aconteceu tal descoberta:

Durante o banho costumo pensar na vida. Tá certo, eu gasto água enquanto penso na vida, mas nem tanto, sou econômico, menos no sítio, onde dou-me o direito de abusar e é bom demais. E hoje, pensando em coisas da dita cuja, uma vez mais caiu a ficha do que sou: um conservador. Desde que me conheço como gente, há quase cinqüenta anos – ou nunca, dependendo do observador – eu tomo banho do mesmo jeito: começo ensaboando a axila esquerda, vou para o braço e ombro. Mudo para a outra axila, a direita, naturalmente, seguindo para o braço e ombro correspondentes. Depois o pescoço, começando por trás. Por fim, a cara. Concluída essa etapa, os países-baixos. E, novamente, lá vem a esquerda em primeiro lugar: ergo, religiosamente, a perna esquerda e lavo o pé da mesma, conhecido como pé esquerdo. Do pé subo pra panturrilha, cientificamente conhecida como batata-da-perna, que então volta para o chão e para suas funções normais de apoio e sustentação. Aí, finalmente, o pé direito e perna idem, seguindo o mesmo processo. Se é dia de fazer a barba, lavo a cabeça em primeiro lugar. Se não é dia de barba, lavo a cabeça por último. Pronto. Imutável, assim tem sido desde sempre (vide acima).

Começo sempre com a esquerda. Tudo tem que ser simétrico, uma ação deve corresponder à outra, religiosamente. Na pia da cozinha ou do lavabo é a mesma coisa. Se molho só a mão esquerda, preciso molhar também a direita. Se não fizer isso, sei lá, fica esquisito até pra enxugar a mão. Nas poucas vezes que tentei não lavar a outra, não deu certo: mão seca, voltei à pia, molhei as duas, voltei à toalha e sequei as duas. Sempre a mesma coisa. Portanto, nada mais conservador que isto. Gente com pouco conhecimento cientifico chamará esse comportamento de obsessivo ou compulsivo ou até mesmo obsessivo-compulsivo. Bobagem, isso é puro conservadorismo simétrico de esquerda.

Foi perdido nessas importantes elocubrações que me lembrei de leitura feita numa dessas revistas de consultórios (fontes secretas de boa parte do meu saber): o lado direito do cérebro controla o lado esquerdo do corpo e vice-versa. Pronto! Fechou-se o ciclo e a definição: CONSERVADOR SIMÉTRICO DE ESQUERDA CONTROLADO PELA DIREITA.

Esse aí sou eu, um cara essencialmente simples como se pode ver.


Do post “Pedágio...”
E na foto do pedágio dos parecis eu sou, como adivinhou o anonymous, o gordinho de barba encostado no carro. Gordinho mas bem elegante praquele fim de mundo.


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Direita ou Esquerda?

Boa pergunta me fez a Ana.

Esquerda, centro ou direita? Qual é a minha hoje?

Pergunta fácil, resposta difícil.

Dependendo de quem me olhe, me analise, sou um cara de esquerda. Ainda. Mas posso ser visto como de centro, ou até de direita, em função de algumas posições.

Quando veio o PSDB fiquei feliz. Nunca cheguei a acreditar piamente no comunismo, sempre mantive meus pés atrás, e sempre repudiei pura e simplesmente as propostas de direita. A social-democracia parecia ser a resposta às minhas necessidades ideológicas, juntando o melhor da direita civilizada e do centro, com o melhor da esquerda, com uma visão humanista da sociedade, com as preocupações sociais, etc e tal. Sem falar que, teoricamente, para a esquerda todos os países eram iguais, os povos tinham os mesmos direitos, a natureza devia ser preservada, titititi, tititititi.


Bom, aí eu cresci, né?

Definir o que sou hoje é algo que foge à minha capacidade. É muita areia pra esse caminhãozinho. Se eu conseguisse me definir, escreveria um best seller político, pois tá cheio de gente em situação parecida.

Só sei de uma coisa: não há nada interessante ou civilizado fora da democracia representativa. Nosso congresso é uma... bom, nosso congresso é o que é. E é o que é por força do nosso voto. Mesmo que seja um voto nulo, tão legítimo como qualquer outro. Nunca anulei meu voto para os parlamentos, mas já anulei algumas vezes em eleições para presidente e prefeitura de São Paulo. Sinceramente, acredito no voto. Em seu poder transformador, ainda que lento.

Continuo peessedebista, mas não de carteirinha. Aliás, preciso até pensar a respeito. Ano que vem farei isso, agora tô com preguiça. A tendência, contudo, é seguir votando PSDB.

Espero que ninguém entenda isso como proselitismo.


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quarta-feira, julho 27, 2005

Surreal - parte II

O Marcone postou um comentário nesse último post, sobre a bala perdida que atingiu a pobre dona Clenilda. É bom prestarem atenção ao nome, que nada tem a ver com Renilda, ok?

Pois bem, fui lá dar uma olhada, abro os comentários e sou surpreendido com a aparição de dois anúncios google: “Cemitério do Morumby” e “Cremação”.

Tétrico!

Tem a contrapartida, claro. Sempre que escrevo sobre flores aparecem anúncios de floricultura. Meno male.

O Google Ad Sense é um programa que insere anúncios google de acordo com o teor do que é escrito. Como publicitário e ex-homem de mídia, acho isso uma tremenda sacada, em teoria o anúncio vai direto de encontro ao público interessado. Só que, nesse caso, tô fora. Ainda. E espero que por muito tempo. hehehehe

Pô, cremação é brabo, hein?

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Surreal


Corpo sendo velado é vítima de bala perdida no Rio


Rio de Janeiro - Clenilda da Silva, de 50 anos, foi atingida por uma bala perdida na tarde desta terça-feira, no bairro do Catumbi, zona norte do Rio. Detalhe: dona Clenilda já estava falecida e tinha seu corpo sendo velado no cemitério São Francisco de Paula no momento do incidente. "É um fato inédito. O cemitério existe há 150 anos e foi a primeira vez que alguém morreu duas vezes. É mole? A gente vive numa cidade surreal", disse Elinaldo Manoel da Silva, que trabalha no setor administrativo do cemitério.
O atestado de óbito não informa a causa da morte da aposentada, indicada como "indeterminada". A bala, provavelmente de fuzil, atravessou a janela da capela, estilhaçou o vidro e perfurou o caixão de Clenilda, que foi enterrada com a bala alojada na bacia.
(Agência Estado - 27/7/05)


Surreal? Surreal é pouco para definir o que aconteceu.

Aliás, nem dá para comentar, só registrar.

Tá registrado.

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sábado, julho 23, 2005

Saudades do Mato Grosso IV


O Rio Papagaio corta a Chapada dos Parecis.

Muitos quilômetros rio abaixo despenca cerca de 80 metros em queda livre. É a
Cachoeira Utiariti.

Desconhecida e linda. Chega-se de monomotor, descendo numa pista de terra ao lado da aldeia dos índios. Ou aventura-se por algumas horas de picadas em pickups traçadas. Os rios das chapadas correm cristalinos.
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Saudades do Mato Grosso III

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Estrada de terra, areião do cerrado.
A poeira levanta e desce rapidinho,
nem incomodar incomoda.

Terrão a perder de vista,
de onde a vista avista algum coisa,
sempre a mesma, o cerradão.

Sem asfalto e com poeira,
por lá é mais gostoso
do que por cá.

Bom, bem feito, quem mandou chegar até aqui e ler esse trem.
Concordo com você, pobre leitor,
a foto passa, o escritor nem pensar.

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sexta-feira, julho 22, 2005

Pedágio caro, mas honesto

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Pois é, quem diria, pagar um pedágio de “dez real” pra cruzar 96 ou 98 km de estrada de terra, no sertão do Mato Grosso, na imensa Chapada dos Parecis.

Esse é o valor que os parecis que habitam o trecho da Chapada entre Sapezal e o Entroncamento (na estrada que liga Tangará da Serra a Campos Novos do Parecis) cobram em cada sentido da viagem.

É justo, afinal, cruzando suas terras economiza-se uma longa viagem via Barra do Garças. Estrada asfaltada mas geralmente não muito bem conservada, embora nesses últimos anos tenha melhorado.

Não deixa de ser curioso, e divertido, parar o carro e pagar o pedágio no meio do nada. No meio de um cerrado no qual a vista se perde. Cerradinho miúdo, na maior parte da área. Solo arenoso, pedras a dar com o pau. Vira e mexe um índio aparece ao lado da gente no pedágio e oferece alguma caça. “Não, obrigado.” Eles caçam, mas se alguém do ibama da vida nos pega, é cana direto. Vade retro.

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quinta-feira, julho 21, 2005

Saudades do Mato Grosso II


Na vida real não é assim, esse exército de colheitadeiras alinhadas e colhendo a soja. Mas fica bonito no vídeo, fica bonito na foto.


Alguns dias antes da colheita a soja fica assim.
Conforme a luz, doirada. Promessa de riqueza.

Saudades do Mato Grosso I

É, é assim mesmo. De repente bate uma saudade forte daquelas imensidões.
Horizontes distantes, cores que só vejo por lá.
Dizem que a imensidão esmaga. Não, o que esmaga é a pequenez de quem se intromete no imenso.







Chuva matogrossense.
Cai em manga,
Parece que sob encomenda.
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Canoa, céu e mar

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Canoa, céu e mar,
ao fundo a montanha...

Para que mais?


Praia de Baraqueçaba, São Sebastião.


Talvez umas vaquinhas, alguns cavalos...

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Palavras ao vento...

"Se eu ganhasse a presidência para fazer o mesmo que o Fernando Henrique Cardoso está fazendo, preferiria que Deus me tirasse a vida antes, para não passar vergonha. Porque sabe o que acontece? Tem muita gente que tem o direito de mentir, o direito de enganar. Eu não tenho. Há uma coisa que tenho como sagrada : é não perder o direito de olhar nos olhos de meus companheiros e de dormir com a consciência tranquila de que a gente é capaz de cumprir cada palavra que a gente assume."

Palavras de Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à revista Caros Amigos número 44, em novembro de 2000.

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Puerilidades e mundos paralelos

Vira e mexe a gente encontra por aí o povo que fala de existências paralelas, mundos paralelos em outra dimensão de tempo e espaço. Coisas fascinantes pra gente ficar pensando um pouco, botando a imaginação pra trabalhar.

Todavia, independente de dimensões e mundos paralelos, invisíveis e fora de nosso alcance, basta um olhar ligeiro ao nosso redor para descobrirmos que tais mundos são reais mesmo. Por exemplo, no meu caso o mundo das favelas e o mundo daslusiano são tão esotéricos e invisíveis quanto o mundo paralelo de amigos esotéricos de fato (alguém pode ser esotérico de fato ou isso é mero artifício de linguagem e um paradoxo em si?). Até enxergo a Daslu, bem como as mil favelas de todo dia, toda hora. Mas não sei como se vive nesses mundos, apenas imagino, pois mesmo quando militei e passei parte do meu tempo em favelas, uma certa blindagem me protegia, impedindo-me de imaginar a fundo como era a vida ali, longe das nossas visitas, das nossas conversas, dos nossos sonhos traduzidos em palavras, sonhos de transformar tudo e todos numa grande classe média feliz, onde os chefes de família teriam as mãos sujas de graxa e usariam macacões ao invés de paletós e gravatas. Pueril, pueril, muito pueril. Cruzes, como fomos pueris! Ainda bem, ao que dizem, que Deus protege as crianças e os tolos.

Há outros mundos em nosso mundo. Por exemplo, o mundo formal das leis, o mundo formal que rege a aplicação da justiça. Vou me ater um pouco a esse mundo formal, lógico, um mundo de certezas matemáticas ainda que ressalvadas por julgamentos, que nunca são matemáticos.

Pelo que temos lido, visto e ouvido a partir das declarações prestadas por membros da quadrilha ora em fase de investigação e julgamento político, pelo menos uns 10% dos prefeitos brasileiros foram eleitos com o auxílio ou, pior ainda, graças ao auxílio luxuoso e valoroso do dinheiro maracutaiado por valérios e delúbios. Talvez até dinheiro público, esse sacrossanto bem adorado e defendido por todos, e vilipendiado por muitos, muitos mesmo, talvez por todos que se apressam a dizer que o defendem.

Ora, crime de tal magnitude só pode ter uma resposta de igual magnitude: cancelar as eleições de 2004, defenestrar da vida política todos que participaram da maracutaia gigante e realizar uma nova eleição.

A mim parece simples e lógico, uma coisa elementar. Simples aplicação da justiça a partir da constatação, no mundo formal das leis, que crimes foram cometidos e devem ser corrigidos e punidos.


Esse seria um bom momento para que a elite política tupiniquim repensasse sua própria existência, repensasse o sistema atual e, principalmente, partisse para uma reforma séria e radical de “tudo isso que está aí.” Começando, por exemplo, com a anulação do “pacote de abril”, criado por Golbery e decretado por Geisel. Eliminando o terceiro senador de cada estado e, acima de tudo, devolvendo à maior parte dos brasileiros sua plena e legítima representação política proporcional. Um cidadão, um voto, de igual peso e valor em qualquer unidade da federação. Acabar com essa aberração ditatorial de o voto de um acreano valer o voto de dez ou doze paulistas. Basta de entulho ditatorial!

Valorizar os partidos políticos e impedir o troca-troca de sigla, coisa que, como podemos ver agora, é sempre criminosa. Vá lá, quase sempre criminosa. No meio de quinhentas trocas é possível que tenha havido uma honesta. Sim, é possível, estatisticamente falando.

Se fizesse isso, a classe política tupiniquim estaria se imolando. Apeando de seus privilégios. Coisa impensável, portanto, impossível.


Consequentemente, de volta ao mundo real, tudo isso não passa de mais um sonho pueril.

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quarta-feira, julho 20, 2005

Palmeiras penteadas, palmeiras ao vento

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Não sei se pela foto dá pra perceber bem, creio que sim.

As folhas das palmeiras estão todas viradas numa só direção, apontando para sudeste, para onde os fortes ventos desse alto de colina moldaram as folhas dessas palmeiras.

Toda vez que passo por aqui e olho pra elas, lembro, numa associação mental meio besta, daqueles carinhas de moto, meio Hell’s Angels, nos filmes de antigas sessões da tarde, mascando chiclete e com os cabelos repuxados pra trás a custo de vento na cara montados nas bikes e vaselina, muita vaselina. Imagem que fica muito melhor quando lembro dos desenhos animados.

Palmeiras ao vento nos desenhos animados. Qualquer dia vou lá perto fotografá-las melhor e tirar a dúvida sobre quais palmeiras são essas.


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Inverno colorido (só colorido)


Esse é um período do inverno ainda pleno de belas cores em Santa Rita do Passa Quatro. Os pomares de laranja estão patrióticos, verdes e amarelos na medida, verde intenso, amarelo idem, aquelas cores carregadas, fortes. Combinam bem com patriotas chorosos – daqueles que batem no peito, juram inocência e se debulham em patéticas lágrimas - em tribunas diversas, às vezes açodados por jornalistas ansiosos e malvados. É um verde-cpi e um amarelo-cpi. Mas, com isso, já estraguei o que se pretendia um texto leve, agradável de ler e informativo. Como se pode ver, pretensão pouca é bobagem.

Aliás, esse é um país e um povo de extremos. Ou somos indigentes e nos colocamos no rodapé de classificações interessantes, como conhecimentos matemáticos entre escolares e diversos índices de qualidade de vida, ou nos colocamos no topo, de forma definitiva e consagradora. Como no futebol e no vôlei, onde somos a referência mundial. Ou na roubalheira e corrupção, onde a medalha de ouro me parece favas contadas. Ihhhh, pronto, já desviei de novo, que coisa mais chata essa. Se não posso controlar sequer o que escrevo, como posso pretender controlar meia dúzia de vacas e dois retireiros? Mas preservo intacta minha pretensão em escrever algo agradável de ser lido (do tamanho já desisti, vai sair com o tamanho que sair, abaixo a censura do bom gosto e do pouco esforço pra leitura).




O largo da matriz está muito bonito nesses dias. Os dois ipês-roxos estão carregados de flores, bem em frente à igreja, enorme, bonita, principalmente por dentro. Pegando um pouco da sombra de um dos ipês, o busto de Zequinha de Abreu. Sob ele, dizem que estão seus ossos ou o que deles restou. Já me disseram que, por conta disso, o largo é assombrado. Sei lá, se for para ouvir Tico-tico e Branca na interpretação do autor, acho que vou me arriscar ser assombrado qualquer noite dessas.

É só agora que a gente vê quantos ipês há por essa terra! E mais ainda veremos em agosto, quando os amarelos, muito mais abundantes que os roxos, começarem a florescer. As árvores parecem explosões de cor, como a gente vê nos filmes, aquela bola colorida e forte de uma explosão. Já dei tratos à bola procurando por adjetivos que traduzam o prazer de avistar um ipê florido em meio à paisagem. Passei por vários e não me fixei em nenhum. Que fique, então, sem adjetivos, não farão falta. Cada um pode imaginar à vontade o roxo ou o amarelo marcando a paisagem. Momentos que fazem a vida valer a pena.

O laranja vigoroso das flores do cipó-de-são-joão se espalha por barrancos, cercas e árvores. Consideramos como mato, como planta daninha. Na Europa, mais ainda na Inglaterra, seria uma planta preciosa, cultivada e cercada de mil cuidados. Cheia de simbolismos a começar pelo nome. Nessa época, é uma boa fonte de alimento para os beija-flores. Alguns pomares de laranja e limão têm uma florada precoce, muito prematura e sem futuro. Vai faltar água e sobrar frio para o desenvolvimento dos chumbinhos, como chamamos os pequeninos frutos que surgem a partir das flores. Enquanto há flores, porém, as abelhas se divertem e no pomar só se ouve o zumbido forte de seu vai e vem. Mel de flor-de-laranjeira tem um perfume delicioso, até um troglodita como eu consegue perceber a diferença. Todo ano eu espero ansioso pela florada das laranjeiras. Nem tanto pelo visual, que é discreto, nada como a beleza exuberante e até excessiva de um campo de girassol, como o do Sandro, logo depois da nossa divisa de baixo. Mas pelo perfume que a gente sente nas estradas, seja a 60 ou a 100 por hora, entrando pelo carro e trazendo muito prazer. Em casa são dias especiais. Dias de parar por momentos várias vezes, só para ficar parado e sentir o perfume que sobe do pomar.

O inverno em Santa Rita do Passa Quatro tem outras coisas bonitas e gostosas, e outra hora falo sobre elas. Por agora, fico só com o colorido desse inverno. Um colorido de um só ele. Um colorido pra afastar o pensamento das coisas da política.

Ou já seria pollítica uma vez mais?


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terça-feira, julho 19, 2005

Em volta de uma fogueira...


O inverno está gostoso, principalmente com uma bonita fogueira, bate-papo animado, pipoca, quentão (pra quem gosta, não é meu caso) e algumas outras coisinhas do tipo gostoso/engordativo.

Antes de ir pra fogueira no vizinho, uma vista d’olhos nas bezerras e nas vacas. As bezerrinhas estão bonitas, tranqüilas, satisfeitas. Deitam em cima do feno que cobre o chão embaixo da aroeira-pimenta. As mais crescidas ruminam tranqüilamente e ficam olhando o visitante iluminado pela luz da lua. As mais novinhas, entre elas dois machinhos, dormem a sono solto, a cabeça enterrada entre as pernas, enrodilhadas. As vacas ficam ao lado, no curral. As mestiças, mais ligadas às crias, deitam-se bem do lado da cerca que separa o bezerreiro da passagem que leva ao curral. É muito difícil a gente ouvir uma vaca ou um bezerro berrando por aqui. Mesmo separando mãe e filho com 4 ou 5 dias de idade. Isso significa baixo nível de stress, o que é essencial quando se produz leite. Olho o feno estragado e meu bolso dá uma pontada. Bobagem. Esse feno está dando conforto pra bezerrada, portanto, não está estragado. Com esse pensamento animador vou pra casa do vizinho.

D, filho do meu vizinho, é adolescente, saindo dos 16 pros 17. Já morou quase 3 anos no Japão, para onde seus pais foram para ganhar algum dinheiro (sua mãe é nissei e o pai é caboclo). C é filho de outro vizinho, tem apenas 10 anos. Morou no sitio sua vida toda, assim como seu pai, que nasceu e sempre morou no sítio. Escuto a conversa dos dois. Discutem “South Park”: episódios, ideologia, qualidade, etc. Palavras como metranca, hd (agá dê), programa, software e outras entram e saem da conversa. Ambos estão revoltados, digamos, porquê ainda não há previsão para instalar a internet via rádio pra gente. A empresa que vai prestar o serviço precisa de mais consumidores para reduzir o custo de instalação. É só o que nos falta, pois todos temos nossas parabólicas com acesso a um monte de canais, temos bons telefones, tanto fixos (eles, eu não), como também celulares de excelente qualidade. Realmente, só falta a internet para estarmos no melhor dos mundos pós-modernos e pós-tudo. Levanto discretamente e vou conversar com os pais deles, ajudar a criticar esse governo imbecil e imbecilizante, pra não entrar com outros adjetivos. Sob nossas cabeças a lua crescente soma sua luz à luz da fogueira. Os cachorros estão deitados, alertas a tudo e, principalmente, a qualquer pedaço de pizza ou carne que sobre pra eles. Mais ou menos como um certo povo bonzinho que conheço.

Foi difícil tirar o guri do Japão, conta sua mãe. Ele não queria voltar de jeito nenhum. Estudava o dia inteiro, gostava da escola, a julgar pela descrição uma maravilha, e totalmente gratuita. Ela mesma também não tinha muita vontade de voltar. Ou melhor, tem, mas de voltar para lá, deixar o Brasil para trás. Difícil dizer algo contrário, não com as notícias que ocupam os noticiários desses tempos que correm.

Mais um pouco e vamos todos embora. Dormir cedo é essencial, pois as vacas e as galinhas levantam cedo. O pai do C não vai dormir. Vai dormitar, pois a cada duas horas e meia precisa reabastecer as caldeiras que geram calor para os pintinhos ainda novos e dependentes de uma boa fonte de calor para sobreviverem. São noites e noites seguidas com essa rotina. Durante o dia, nada de descanso. As outras tarefas, geralmente pesadas e cansativas, não podem ficar para trás, precisam ser feitas. Uma trabalheira terrível. Com sorte, e muito esforço, tudo isso vai gerar uma renda média mensal por volta de dois mil, até dois mil e quinhentos... reais. O problema é que raramente essa média é atingida. O sítio, as duas granjas e a casa, devem valer hoje uns seiscentos mil reais, talvez até setecentos mil. Numa caderneta de poupança com risco zero e trabalho idem, esse valor daria todo mês algo como quatro mil e quinhentos a cinco mil reais. Sem trabalho e sem risco. Mesmo considerando apenas os juros da poupança – meio por cento ao mês – o negócio é muito mais interessante.

Com esse e outros pensamentos vou embora, o sono bateu.


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sexta-feira, julho 15, 2005

Na boca do fim-de-semana...

É fim de tarde de 6a-feira. Tecnicamente, o final de semana já começou. Ufa!

Algumas coisas interessantes:

1 - A rapaziada saiu do Morumbi terminada a final da Libertadores e foi badernar na Av. Paulista. Um comportamento digno e similar ao que há de melhor, digo, pior, no 1o mundo. Sem diferenças, seja para os States, seja pras oropas. Uma prova que vivemos todos num só mundo, uma prova a mais da globalização eficiente, que não deixa nada de fora.


2 - Marcos Valério pediu proteção para depor e revelar tudo. Pelo jeito, o careca andou fazendo depósitos pra muitos partidos e pessoas. Se ele precisa pedir proteção e negociar redução de pena é porquê a coisa é feia. Beleza. O esterco pesado e grosso a caminho vai entupir os ventiladores.

3 - Lula extasia-se na França e diz que o Brasil não merece "tudo isso que está acontecendo". Será que ele caiu na real e vai ficar por lá, como um asilado político? Prestar-nos-ia um grande favor. Querido como é alhures, ainda poderia faturar uns cobres, ou uns euros, palestrando sobre a arte de dizer abobrinhas e cometer gafes em público. Como ele não saberia ao certo o que estaria fazendo, um palestrante profissional, desses que abundam por aí afora, falaria depois dele, dizendo que, na verdade, a palestra servia para ilustrar o que não fazer. Por outro lado, todavia, Alencar assumiria. Cruz credo!

4 - Provando definitivamente que o Brasil não é um país sério, o presidente de todos os brasileiros atrasou-se para as festividades do 14 de julho. Nada como ser importante e deixar a França, a Europa e o mundo à nossa espera. Chique no úrtimo. Menos o embaixador tupiniquim em terras de França dizer que o presidente de todos os brasileiros não se atrasou, apenas chegou ao local “dois” minutos depois de Jacques Chirac. Patético.

5 - Aleluia! João Paulo Cunha apareceu na maracutaia. Já não era sem tempo, afinal, a troco de que o sujeito contrata uma agência de propaganda e torra milhões em campanha eleitoral (com 500 eleitores) e "comunicação", justo da Câmara, coalhada de neguinhos em Tv Câmara, jornal e o escambau. Bem-vindo, João Paulo, muito ainda está por revelar da incursão petista aos cofres de todos os tipos e ordens.

6 - Pra quem anda de mal com a vida, triste, amargurado, recomendo um bom jogo de futebol. Decisivo, de preferência. Claro, onde o protagonista seja o time do São Paulo. Se for ao vivo, melhor, até porquê, à saída, sempre poderá um glorioso sanduíche de pernil na chapa com cebola e vinagrete no começo da madrugada. A felicidade pode ser tão simples...

7 - De Paris, o presidente da república diz que cuidará, com prazer, dos problemas do país quando regressar. Gozado, eu pensava que presidente era uma função em período integral, todos os dias do mandato. Acho que estou enganado.

8 - O Senador Arthur Virgílio foi direto ao ponto, curto e grosso: Ou o presidente é idiota ou o presidente sabia de tudo, sendo, portanto, um corrupto.

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quarta-feira, julho 13, 2005

Notícias do sítio

Leite ácido

O laticínio está recusando o leite das três vacas que pariram por último por causa de acidez elevada. É normal que o leite esteja ácido nos primeiros dias pós-parto, mesmo depois que termina a fase de produção do colostro, que dura de 3 a 5 dias. Mas é normal, também, essa acidez desaparecer em poucos dias. Enquanto o leite está ácido a cachorrada se diverte, tem leite à vontade. Os porcos também, na casa do Ismael. E uma parte, acho até que a maior, vai simplesmente pro monte de esterco virar adubo.

Dessa vez, entretanto, o leite continua ácido, dia após dia. E com três vacas nessa situação a coisa começa a ficar complicada, afinal, quem produz leite tem que fazer contas de centavos, obrigatoriamente. O jeito foi apelar pro telefone.

- Bom dia, S, tudo bem?
- Opa, bom dia, Emerson. Tudo bem, e com você?
- Ah, mais ou menos (só pra variar... hehehe). É o seguinte, as três mestiças que pariram esses dias estão com o leite ácido.
- E as outras?
- O leite das outras tá normal, o laticínio tá aceitando normalmente, é só com essas três. O “dornic” tá em 24 e não desce. E o nosso “dornic” é de 17, 16, por aí.
- É a ração. Dá bicarbonato de sódio pra elas.
- Cume qui é? Bicarbonato de sódio?
- É, esse mesmo.
- Mas elas sempre comeram ração.
- Mas agora tão comendo mais, não estão?
- Sim, claro.
- Então, é isso mesmo. Dá uma colher de sopa de bicarbonato na ração de cada uma, tanto de manhã como de tarde, que vai resolver.
- Ô loco, é mesmo?
- É, isso é tranqüilo, tem problema não. O nosso bicarbonato acabou, mas você encontra na cooperativa. Não compra o de farmácia porquê é muito caro.
- Legal. Valeu S, um bom dia procê.

Bom, a cooperativa também estava sem bicarbonato, que chegou só agora há pouco. Amanhã as três começarão a receber o bicarbonato na ração. Já não era sem tempo. com essa brincadeira quase 300 litros de leite foram pro beleléu. Acho que até mais, só que não estou disposto a fazer conta agora.


Queimada

Se há uma coisa da qual sou inimigo é o fogo sobre a terra. Seja em mata, pasto, capoeira, resteva, não importa. Não gosto, sou contra. O fogo é inimigo do solo, é inimigo da vida, é inimigo da boa agricultura. Claro, o fogo tem um importante papel na manutenção do equilíbrio ecológico, na manutenção e reforma dos ecossistemas. O fogo existe na natureza e muitas formações florestais dependem dele para se renovarem e poderem sustentar as cadeias que as têm por base. Mas por aqui, as coivaras decididamente foram e são daninhas, prejudiciais. Até podiam ser compreendidas e em muitos casos aceitas, mas nos dias de hoje não mais. Sem chance.

Falo com o I ao telefone.

- Oi I, tudo bem por aí?
- É... tudo. (Já deu pra perceber que não, um certo friozinho já toma conta da minha barriga.)
- Hummmm... Aconteceu alguma coisa?
- É, eu até tentei ligar pra você três vezes e não consegui.
- Não conseguiu? Ué, mas como?
- Ah, sei lá.
- Bom, tá, mas o que aconteceu?
- Sabe a matinha? Então, domingo quando eu voltei pra cá depois de levar o leite tava pegando fogo nela.
- Qual matinha? A da mina ou a do pasto?
- A do pasto.
- Fogo? Mas como fogo? Que que houve? Foi perto da casa? Pegou muito?
- Então, né, eu voltei e vi a f umaceira e fui lá ver e aí o fogo tava lá embaixo.
- Lá embaixo onde? Perto da casa?
- Não, lá pra baixo, perto das “lima” (o pomar de laranja-lima que começa onde termina o pomar de ponkan, que breve serão cortadas). E tava subindo.
- Subiu muito? Chegou onde?
- Chegou perto dos taiti (o pomar de limão taiti).
- Cacete! E a fiação da Elektro, pegou?
- Não, não pegou, foi pra cima um pouco.
- Bom, meno male. Mas, e daí?
- Ah, eu corri, peguei água, levei, joguei, deu pra controlar.
- E o fogo passou pro outro lado? (Essa matinha é estreita, bem estreitinha, e no meio corre um valo. Durante as águas tem um fiozinho d’água no fundo, mas com a seca ela desaparece. Meu sonho é voltar a pereniza-la. De um lado ficam os pomares de laranja-lima, tangerina e limão, e do outro lado ficam os piquetes para pasto e a capineira.)
- Passou só um pouco, nada demais.
- Pqp, mas nunca tivemos isso, como foi que aconteceu?
- Ah, alguém deve ter jogado uma bituca, né? Alguma coisa assim. Porquê isso foi domingo, eu tava sozinho e fui levar o leite, e eu só vi quando voltei.
- Ta, você falou isso. Mas quem pode ter jogado uma bituca lá?
- Ah, o pessoal da laranja.
- Ah, o pessoal da laranja tava aí no domingo?
- Tava, eles voltaram pra terminar a colheita.
- Pqp! Esses fdp só f¨&%** mesmo! E você falou com essa corja?
- Falar eu falei, mas eles disseram que ninguém jogou nada.
- Ah, tá bom que ninguém jogou nada. Caiu do céu azul, sozinho, um raio e tocou fogo. Devia ter caído nas cabeças desses fdp, isso sim!

Bom, conversamos mais alguns minutos e ainda esqueci de perguntar se a “florestal” não tinha dado as caras por lá. A “florestal” é ótima pra aparecer assim, em sítio bem na beiradinha do asfalto. Só me faltava tomar uma puta duma multa por causa dos vagab..., digo, por causa dos babacas que foram colher laranja. E os caras multam. Não lhes interessa se o fogo foi acidental ou criminoso perpetrado por terceiros. Simplesmente multam e mostram serviço. São bem legais. “Legais”, entre aspas. Um monte de aspas.

Sábado vou ver o estrago. Não dá pra saber se foi grande ou pequeno, só vendo mesmo pra saber.


Bem-vindos à doce vida campestre.

:o)

P.s.: que ninguém se assuste com os palavrões, eles fazem parte da vida.

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O ovo da serpente


Seria conveniente que esse Bergman voltasse ao cartaz.

Por que?

Porquê é bom.

Porquê é educativo.

Porquê talvez seja premonitório.

Naturalmente sou um cara dado aos exageros, enxergo uma anaconda quando tudo que vejo é uma simples e pequena coral. Pode ser, mas pode não ser. Uma anaconda nasce pequena, do tamanho de uma pequena coral. E, de repente, já está grandona, imensa, gulosa, devoradora.

Talvez a aparente coral seja uma pequena anaconda. Gulosa como ela só, corremos o risco de dar de cara com ela, imensa, hollywoodiana, pronta a nos devorar.

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segunda-feira, julho 11, 2005

O DOSSIÊ CORREIOS

Dossiê CORREIOS

Acredito que você vai tomar conhecimento da mais nova maracutaia armada no cenário político e econômico dessa nação tão rica. Em corruptos e corrupção.

Essa é uma transcrição do “Dossiê Correios” que foi publicado há pouco no blog “
Vizinho do Jefferson”. O autor é vizinho de fato do elemento em questão, cantor em banheiros de trechos de óperas e canções do Lupicínio (que, estou certo, revira-se de raiva em sua tumba). O blog “Vizinho...”´- mencionado na seção Radar de Veja - recebeu esse dossiê de alguém aparentemente de dentro ou por dentro da situação. Bom, nessa altura do campeonato tanto pode ser uma verdade absoluta como não. Dadas as condições atuais de clima e temperatura, minha tendência é acreditar que o material é verdadeiro. Se não for, divirtam-se e sorte nossa por um foco a menos de corrupção. Mas, se for... Muita matéria fecal irá ser jogada pra tudo quanto é lado pelos ventiladores. Boa leitura.


O “Dossiê Correios”

”Começo a história com o loteamento de cargos entre a base aliada do governo do PT. Ano passado um senador do PTB assume a liderança do governo no senado. Para que o novo líder pudesse ter espaço na divisão da máquina estatal para acomodar seus aliados, o próprio presidente Lula lhe confere a diretoria de tecnologia dos correios.

Uma diretoria com orçamento diminuto em relação às outras, algo em torno de 200 a 400 milhões de reais. O PTB já possuía a diretoria administrativa da empresa.

Um projeto criado e licitado no final do governo do FHC em 2002, chamado Correio Híbrido, sistema que permitiria aos Correios economizar receita ao enviar por meio eletrônico a correspondência que hoje é transportada ainda à moda antiga, por transporte aéreo ou terrestre, e já utilizado em vários países. Economizaria uma fortuna, pois passaria a fazer o transporte virtual. Chegando no destino, a correspondência seria impressa e envelopada. De cada 10 cartas que o Correio entrega, 3 passariam a ser entregues pelo Sistema de Correio Híbrido. Uma drástica redução na tonelagem transportada. Na prática, os Correios passariam a ser a maior gráfica e a maior distribuidora de malas diretas porta a porta do Brasil, visto que toda a correspondência bancária poderia ser enviada virtualmente, por exemplo.

Para o edital do correio híbrido, original de 2002, os valores estimados por duas renomadas empresas que participaram da licitação para a implantação do sistema, Xerox e Interprint, girava em torno de R$ 1 bilhão e poucos milhões de reais. O projeto não andou nesse período e o edital foi suspenso por 3 vezes. Refeito o edital, a nova versão da licitação é aberta em junho de 2004.

O novo edital do governo Lula modificou um pouco os números, o que antes era cotado em torno de 1 bilhão, passou a custar, pasmem vocês, 4,3 bilhões de reais. O edital, dizem que muito bem elaborado, eliminava a concorrência, tanto que só houve uma participante a vencedora BR Postal.

O Br Postal é um consórcio composto por 9 empresas, 6 brasileiras e 3 multinacionais, e olha só como é o destino, uma das sub-contratadas do consórcio era a empresa Comércio Alvorada de Manufaturados, a Coman, responsável pela compra dos cofres para o C.H., que por uma coincidência natural da vida tem como dono o Sr. Arthur Wascheck Neto (apontado como responsável pela gravação do Maurício Marinho, aquele do ptb que aparece pondo a grana no bolso, 3 mil reais).

A Xerox e a Interprint contestam na justiça o edital até hoje. Em 18 de agosto de 2004, o juiz substituto da 22ª Vara Federal, Cleberson José Rocha, concedeu liminar suspendendo a concorrência. No despacho, argumenta que devido ao alto valor a sua recomendação é: - Que a objetividade seja a maior possível na formulação das condições do edital. Juiz Federal Cleberson José Rocha, 22ª Vara Federal.

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região cassou a liminar e a concorrência foi concluída. Não há data marcada para o julgamento do mérito da ação.

Pelo que se sabe, o então Ministro Chefe da Casa Civil José Dirceu, solicitou a diretoria de tecnologia dos Correios de volta para o pT ano passado, e aí começa a história que estamos acompanhando agora. O negócio era eliminar o Deputado Federal e então Presidente do PTB, Roberto Jefferson, meu vizinho, da transação (não sei qual o motivo). Eles só não contavam com a experiência do homem em reverter situações

Veja os detalhes dos aumentos no edital: - Armazenamento de dados: de um edital para outro aumentou 4 mil e 300%. - o que se conhece por talonagem: 2 mil e 700% - fornecimento de envelopes: subiu 524% O software gerenciador do Correio Híbrido que era para custar em média de R$ 1.400,00 e R$ 3.800,00 passou a custar R$ 69.300,00 por ponto de implantação, 60 vezes mais do que outros softwares normalmente utilizados na estatal. No país que eu vivo temos um nome para isso, superfaturamento ou roubo se preferirem.

Um dos maiores defensores dos aumentos nos custos foi o então Diretor Comercial dos Correios, Carlos Eduardo Fioravante (acho que PMDB). Este Sr, olha só outra coincidência, é terceiro suplente do Senador Hélio Costa PMDB-MG, recém empossado Ministro das Comunicações do Governo Lula, ou seja, novo chefe dos Correios. Está ficando claro para você agora? Pois é, Fioravante é agora o 2º suplente do senador que assumirá o lugar de Hélio Costa na casa. Já está quase lá.

Existe gente séria, os auditores dos Correios, servidores de carreira, deram um parecer contrário em seu relatório final. Alertavam que era necessário fazer um novo estudo de viabilidade econômica do CH. Ou seja, que todo o projeto fosse reavaliado devido ao incrível aumento dos custos, evitando prejuízos futuros à instituição. O parecer final assinado pelo chefe de departamento de auditoria, o Sr. Pedro Célio Arantes, entregue em fevereiro de 2005, foi ignorado.

Tem gente muito graúda envolvida em toda essa lama e todos, todos os envolvidos no escândalo, fazem parte do mesmo pacote. Os bandidos, os ladrões, os heróis, os cavalos, os peões, até a grama do pasto. Lembro que isso é somente uma estatal do governo Lula e uma licitação. Como será que estão as outras?

A licitação de 1 bi passou para 4 bi e 300 mi de um governo para outro. Depois dizem que a inflação está controlada.

Que todos agradeçam ao bug que enviou, didaticamente, o passo a passo do problema. Um cidadão que, como nós, quer ver o país crescer com justiça e sem a malandragem generalizada que tomou de assalto o Brasil. Não o conheço pessoalmente mas ele já é amigo do Vizinho do Jefferson. Você sabe quem você é e aí está meu agradecimento e reconhecimento.
Obrigado pelas informações cidadão brasileiro.”


É isso aí, pessoal. Aí segue o link para o blog Vizinho do Jefferson:

http://vizinhodojefferson.blogger.com.br

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Outra carta para outra amiga também distante


Bom dia, boa semana.

Fácil de desejar mas meio difícil de conseguir no tempo presente.

Tenho andado preocupado com medo de uma possível, embora não provável, ruptura institucional. Às vezes dá medo tudo isso porquê a carga de esperanças e desejos criadas e depositadas na figura de Lula foi grande demais. Um velho defeito nosso, diga-se de passagem, o de estarmos sempre à espera do retorno de Dom Sebastião. Ainda não caiu a ficha que Alcácer-Quibir foi real e foi há muito tempo e dela não há retorno, temos de andar com nossas próprias pernas.

Estou verdadeiramente impressionado com a economia. Olho os indicadores que realmente contam – dólar paralelo, bolsa, índice de inflação – e fico admirado. Como é possível tamanha calmaria? Mesmo que seja aquela que antecede a tempestade, não importa. Em outros tempos, recentíssimos, por sinal, já estaríamos navegando em mar tormentoso, velas recolhidas, enxergando a cada vagalhão o risco do naufrágio. Sem dúvida há nisso a herança não-maldita dos 8 anos de FHC/Malan /Fraga, mas há também, e muito, a postura e as ações – ou inações, mas nesse caso positivas – de Lula/Palocci/Meirelles.

Embora preocupado, assustado, não nego que um vago sentimento de segurança proporcionado pelo sítio me conforta. Tolice, né? Tô quase dizendo que na hora do aperto o homem se volta mesmo é para o básico, e o básico é a terra e sua posse. Acho que isso demonstra com boa clareza minha origem, tanto em termos etários como sociais. Está fora de cogitação que tal sentimento passe pela cabeça da maioria dos profissionais urbanos de hoje.

Olhando tudo que está acontecendo, diferentemente (ao menos, é o que parece) do que ocorreu em outros governos, em todos os outros governos, é bom que se diga, não enxergo o enriquecimento pessoal como finalidade primeira e única das maracutaias & achaques. Não deixa de haver esse objetivo, é claro, mas a coisa toda tá dirigida, mesmo, é para o aparelhamento do estado, o fortalecimento do partido e a manutenção do poder. Os meios são irrelevantes, o que importa são os fins. Uma postura, uma visão messiânica bem ao gosto e de acordo com a crença em dogmas. Exagero quando digo não ver diferença entre um regime de esquerda e um regime religioso. Há diferenças, obviamente, mas estou mais propenso a crer que não exagero do que o contrário.

Os próximos tempos prometem nada de bom, apenas mais e mais revelações. Nossa perplexidade tende a aumentar. O que mais me irrita, me desgosta, me dá vontade de reagir com violência, até, é a desfaçatez com que políticos de ontem, hoje e sempre se dirigem a nós, explicando o inexplicável, negando o inegável. Revoltante, essa é a verdade.

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domingo, julho 10, 2005

Felicidade é...


Ainda há pouco minha mulher meio perguntava/meio afirmava, meio reclamava/meio constatava, que a gente nunca viaja. É verdade. Foram poucas nossas viagens, a mais distante e diferente para Cuba, há tanto tempo atrás que, embora Fidel já fosse velho, a União Soviética estava viva, ainda que na UTI. Uma coisa, porém, temos a nosso favor: nunca deixamos de comer e beber bem, seja nos dias úteis, seja nos dias santos, seja nos finais de semana e feriados. Apenas com algum controle sobre as bebidas, basicamente vinhos, nada mais que vinhos. Acho que gastamos nossas viagens nessas coisas.

Intróito feito, agora vou falar de felicidade.

Durante alguns anos comi um sorvete delicioso. Para o meu paladar, para o meu gosto, era uma obra-prima. É bom esclarecer que sou conservador. Em quase tudo, sobretudo em comida. (Tudo e sobretudo é uma assonância? Sendo, deveria evitá-la? Parece que sim, pelos cânones regulamentares, mas vou deixar do jeitinho que tá.) Sendo assim, entro na sorveteria com 132 sabores diferentes e peço flocos. Ou crocante. Ou mix de nozes com crocante e calda de chocolate quente. Num dia destrambelhado, sou capaz de pedir banana ou milho verde no meu mix. É, sou mesmo capaz. Perdi a conta do número de vezes que jantei no Jardim de Napoli. Apesar disso, lembro com exatidão o número de vezes que pedi outro prato que não fosse o polpetonne: nenhuma. Nem uma única vez que fosse, mesmo que só para constar, só por conta de uma aposta (não aposto coisas sérias como essa, ou como dinheiro e vestir uma camisa de outro time que não o São Paulo ou, vá lá, o Marília). Durante trocentos anos comi trocentas no velho Carlino, na Vieira de Carvalho. Em não poucas semanas cheguei a almoçar lá todo dia e ás vezes no domingo. Minha pedida, principalmente a partir do momento que passei a me conhecer melhor e a valorizar as coisas que gosto, era imutável: filetto a la parmeggiana. E era assim que os garçons me chamavam, ou melhor, referiam-se a mim: o freguês do filé à parmegiana. Um deles, muito tempo depois, contou-me essa história. Tenho a impressão que isso era muito positivo e o cozinheiro me tratava particularmente bem: meu filé era sempre um despropósito de grande e gostoso, muito gostoso. E onde escrevi grande, em relação ao filé, troquem, por favor, por generoso. Muito mais chique e elegante, sem a menor dúvida (e isso não é redundância; chique é uma coisa, elegante é outra, bem diferente; às vezes são a mesma coisa; muito raramente). Devo ter almoçado e jantado umas tantas viagens pras ilhas gregas e outros destinos atraentes nos folhetos turísticos.

Ainda não falei da tal felicidade. Descubro, a essa altura do texto, que tudo até agora não passa de introdução. Se eu não fosse tão modesto diria que Hemingway está a se revirar na tumba. E se Proust fosse meu professor, dar-me-ia um zero sonoro e por extenso por tamanha concisão. E aqui estão, portanto, algumas das minhas falhas: não saber escrever com concisão e elegância e ser desprovido de um pouco mais de modéstia. A que tenho é pouca. Agora, de verdade, vamos à felicidade, mais de três mil caracteres depois de começado o texto.

A felicidade que sinto hoje tem a ver com sorvete. Aquele mesmo que durante muitos anos procurei em vão. Liguei para o zero-oitocentos da empresa dinamarquesa que o produz e importa. Mais de uma vez. A cada vez, se não me falhou a memória e o ego permitiu, usei nomes diferentes. não por medo de ser descoberto, mas para dar a impressão que muita gente estava revoltada com o sumiço das geladeiras dos mercados e da Blockbuster do Vanilla Swiss Almond. Em vão. Devem ter gravado e comparado minha voz, descobrindo que somente eu reclamava a ausência de um sabor caro e de pouca saída. Bom mesmo era importar os sorvetes de chocolate, morango e “dulce de leche”. Arghhhhhhhhh... Uma atendente, seguindo um script burro, chegou a sugerir-me o chocolate com amêndoas. Francamente, que falta de tato.

Há já um bom tempo (é, estou velho, 3 em cada 2 frases têm menção ao tempo e não é sobre chuva, sol ou neve) venho querendo passar na nova loja Blockbuster aqui perto. Mas nunca tenho comigo um comprovante de endereço aceitável pelo “sistema”. Nesse final de manhã dominical, criei coragem, desliguei o monitor do micro, depois de já ter desligado a tv com uma corrida chata e previsível, peguei uma conta de luz, o celular, os documentos e o carro. Fui à loja, finalmente. Enquanto a guria completava minha ficha e providenciava os cartões, escolhi os filmes. E fui ver os sorvetes. E lá estava ele, em toda sua glória e beleza, o meu amado Vanilla Swiss Almond. Cúmulo dos cúmulos, em promoção: pague 2 e leve 3.

Agora estou esperando. Em poucos minutos “Sideway” estará no player e a primeira colher do meu sorvete predileto estará em minha boca. Acreditem: eu estarei feliz. E totalmente esquecido de lulas, polvos com tentáculos mil, camarões & assemelhados. Fui. Bom domingo pra todo mundo. E podem ler os jornais de hoje. Nada de novo no front.


P.s.: esse sorvete é um cremoso Haagen-Dazs de baunilha com amêndoas inteiras finamente recobertas de chocolate. Ultra calórico, mas nem tudo na vida é perfeito, como estamos descobrindo em nossa vida política. :o)

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Um homem simples de Aracati

Congonhas tem os detetores com raios X sempre funcionando, ao contrário de outros aeroportos tupiniquins onde a única coisa que funciona sempre é a obrigação ditatorial de um documento de identidade. E passando por um desses detetores, um sertanejo simples da cearense Aracati foi detido para averiguações. Sua maleta continha um montão de pacotes com jeito de ser dinheiro. Era. Aberta, revelou duzentos mil reais, o bastante para enquadrar o portador em dois artigos ligados a crimes contra o sistema financeiro. Isso, porquê o portador não tinha uma explicação ou documentação razoável e convincente para tal quantia.

Detido, o sertanejo simples – embora Aracati esteja à beira-mar plantada – revelou ter na cueca nada menos que cem mil dólares. Epa! Cadê a polícia federal que ainda não chegou?

Notícia no Brasil e talvez em parte do mundo dada a bizarrice de tantos dólares em local tão, digamos, inapropriado, nosso sertanejo de beira-mar tornou-se celebridade. Ontem vi pela tv cenas da simples cidade de Aracati, Ceará. Cenas da simples vida de seu simples povo. A tv gravou imagens, externas apenas, da simples casa do simples sertanejo. E gravou alguns simples depoimentos da simples gente do lugar.

Coitado... Pegaram esse sujeito e botaram numa fria, né?

Pois é, bota fria nisso.

Mas ele não é tão simples assim, é Secretário de Organização do PT do Ceará.

Ah, isso não quer dizer muita coisa, tá cheio de gente por aí com cargo de grande sonoridade mas que é gente simples, com uma história de vida simples.

É verdade, sim. Veja só o Delúbio, por exemplo. Cara simples, mais simples que ele...

Peraí, o Delúbio simples? Qual é? O cara vivia fumando charutos Cohiba! Sabe quanto custa um só Cohiba? Uma puta grana!

Ora, você como sempre exagerando. Porra, todo mundo só exagera quando fala de algum problema com o PT ou do PT. Isso é perseguição.

Ah, não, faça-me o favor, vai querer me dizer que você acha que “tudo isso que está aí” é perseguição, armação e má vontade para com o PT?

Não, não foi isso que eu disse, mas que todo mundo exagera, ah, isso exagera mesmo.

Aquela casa simples num bairro simples de uma cidade simples habitada por gente simples não me saiu da cabeça. Como tem gente que usa e abusa da simplicidade dos simples, fiquei cá a pensar redundantemente.

Até ler o jornal hoje cedo, bem cedinho. Como de hábito, primeiro o futebol, uma espécie de antídoto para o resto do jornal (ainda mais que o São Paulo ganhou do Flamengo ontem).

Leitura finda e café tomado, passei ao primeiro caderno. E com sua abertura e leitura caiu por terra a minha suposição de simplicidade para o portador dos dólares e reais. O cara pode ser tudo, pode até, quem sabe, ter vendido umas tantas mil toneladas de repolhos pra receber toda aquela grana. Digamos que isto não seja impossível. Improvave, com certeza, impossível nunca. O que é impossível e foi tornado bem claro pra mim, é o tal sujeito ser um simples alguma coisa. Não é. A prova é evidente: demonstrando frieza, inteligência, argúcia e um profundo conhecimento do mundo das coisas do mal, nosso nada simples sertanejo apagou as memórias de chamadas de seu celular.

O cara não é simples, tá mais que na cara, simples ou simplória é a polícia federal. Em filme americano esse tipo de coisa nunca acontece e os detetives, com toda a facilidade e tranqüilidade do mundo, acessam todo o histórico das conversas do individuo detido graças à memória de seu celular. É tiro e queda.

Mas que rapaz mais esperto esse nosso secretário de organização do PT cearense, hein?

Pra espanto do povo simples da simples Aracati.

A falsa simplicidade do PT e dos petistas começa a ruir. Temo pela hora em que o MST mostrar sua cara.


Até porquê esse "simples sertanejo" revelou-se um bem treinado agente. Só não sei ainda de que ou para que. Acho que vou pedir ajuda a Le Carré e Forsyth.

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sábado, julho 09, 2005

Pequena carta a uma amiga distante

Uma amiga me escreve comentando o que eu escrevi sobre estar assustado.

A dinâmica dos acontecimentos é muito intensa. A velocidade é rápida demais, adaptada aos dias que correm, adequada à internet.

Sigo assustado, sigo visualizando fantasmas no futuro próximo. Espero estar errado, espero estar delirante.

Resolvi transcrever o grosso de minha carta pra ela (carta = e-mail):

"... que bom ter notícias, embora o quadro não seja dos mais agradáveis.

Não estou conseguindo colocar no papel, digo, na tela, a multiplicidade de sentimentos e pensamentos que me dominam nesse momento. Acredite, não gosto do que está acontecendo e me preocupa o que está por vir.

Falando ao vivo e a cores me expresso mais e talvez melhor, pois falo e penso e penso e falo, o pensamento funciona melhor pra mim no calor de uma discussão. Aqui, quieto, pensativo, o sono querendo chegar, os olhos meio irritados, não é a mesma coisa.

A manchete do Globo de amanhã é sintomática: O Brasil está à deriva. Não é uma manchete de direita, embora vá ser tomada como tal. É uma frase pinçada de entrevista com Hélio Bicudo.

Os quartéis estão quietos, um benefício nítido e claro da globalização. Mas o populacho, a plebe dita ignara, começa a falar em voz baixa que só os militares pra dar um jeito nisso tudo. Não demora nada e as falas transformar-se-ão em brados.

O MST está quieto, mas não acredito que vá continuar assim por muito tempo, até porquê aqui, ali e acolá pipocam vozes dizendo ser tudo isto um golpe branco, uma armadilha da direita.

Não é. A dita direita ou o que quer que seja não teria tanta criatividade, ou melhor, não seria tão tacanha a ponto de escrever roteiro tão mambembe e inverossímil. Até pro esculacho criativo há limites. Que, no caso, foram atropelados pelos fatos, pela realidade.

Assinatura em documento sem ler partindo de quem partiu é algo impensável.

Cem mil dólares na cueca, idem.

E por aí vai.

Tudo isso só explica porquê é a América Latina a terra do realismo mágico.

Bom, deixa eu ir dormir."


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Assustador...


 Assustador... tudo muito assustador

 

Alguns dias atrás escrevi que  uma cpi que “pega” tem sua própria dinâmica, ela se auto-dirige, faz seus próprios caminhos ao invés de ficar presa a caminhos traçados por quem quer que seja.

 

Quando escrevi isso, pensei em escrever que uma cpi que “pega” funciona e ganha essa dinâmica por que ela gera um efeito dominó incontrolável, quer na velocidade, quer no alcance.

 

É o que vivemos hoje. CPIs e comissão de ética – acho bom sumir com essa palavra dos dicionários e logo mais explicarei porquê – abriram uma verdadeira Caixa de Pandora. Dela, por enquanto, ao invés de todas as calamidades e doenças e malefícios que Zeus destinou aos mortais, está saindo apenas esgoto. Esgoto de privada, não o esgotinho mixuruca de pias e tanques.  Esgoto fétido, doentio, do qual a simples proximidade basta para contaminar. Pelo jeito, um esgoto tão virulento que nem o Tietê dos muitos caminhões de um governo realizado muito tempo atrás viu igual.

 

Nessa noite de sexta-feira meu sono se foi. Estou inquieto, nervoso, preocupado.

 

Estou assustado, esse é o termo correto para definir meu estado.

 

Porquê o esgoto chegou ao gabinete presidencial. A blindagem construída em torno dele foi fraca ou falsa.   Uma blindagem paraguaia.

 

Se Paulo Maluf e seu partido estivessem no poder estaríamos achando tudo normal, tudo dentro da realidade com a qual aprendemos a conviver. Cito Maluf como poderia citar muitos outros ilustres nomes, todos eles alvos de ataques ferozes por parte de políticos que sempre foram os donos de todas as virtudes cívicas, morais, intelectuais, filosóficas, etc.

 

Não é, todavia, o que ocorre. O país é governado, ou surrupiado, por um presidente e um partido que sempre estiveram acima e além de quaisquer suspeitas.

 

Seria cômico se não fosse trágico: a negociata envolvendo a empresa recém-criada por um filho do presidente e dois filhos de um dirigente histórico do partido foi intermediada (intermediada, sem “r”entre me e di) pela empresa de consultoria cujo dono, pasmem, é membro de um denominado Conselho de Ética da Presidência da República.

 

É tarde, preciso dormir. É besteira escrever sobre tudo isso, já que os jornais e noticiários estão cheios de matérias a respeito. Antes, porém, uma coisa: comenta-se que havia divergências entre Toninho do PT e o pai, o tal dirigente histórico do partido, dos dois jovens empreendedores associados ao filho do presidente.                                                    Espantosamente, num curto período, os prefeitos de dois dos maiores e mais ricos municípios do estado de São Paulo, vale dizer, do Brasil, foram assassinados misteriosamente.  Ah, sim, pra quem não lembra Toninho do PT era o prefeito de Campinas. Celso Daniel era o prefeito de Santo André.

 

Apesar de tudo, tenho o desplante de desejar a todos um bom fim de semana.

 

sexta-feira, julho 08, 2005

Siamo tutti londinesi

O terrorismo é um crime sanguinário e bárbaro, um crime contra a civilização.

Não há porquê ou como condescender com assassinos.

Sophia...


Que vida boa, né?

Um frio de rachar lá fora, e madame instalada comodamente no sofá, com direito a almofada. Mas um tanto quanto a contragosto, pois foi tirada de seu dormitório preferido: o aconhego dos edredons na cama.

quarta-feira, julho 06, 2005

Importante 4a-feira

Política?

Não, nem pensar.

Hoje, 4a-feira, 6 de julho, é importante para mim por causa do primeiro jogo decisivo pela Libertadores de America.

São Paulo x Atlético Paranaense, às 21:45 no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.

Não há como evitar, estou meio aéreo, meio em transe. Trabalhar, obviamente, está difícil, mas aos trancos & barrancos vai saindo.

O coração palpita. Descargas de adrenalina são meio freqüentes. A ansiedade é forte e o tempo não passa, se arrasta.

É dia de decisão.

O São Paulo pode perder. Esse "pode" faz uma diferença danada. Não basta confiar no próprio taco, ou no próprio time, melhor dizendo. Ele tem que ser superior ao outro. Ou o outro tem de ser inferior ao nosso. Parece a mesma coisa, mas não é a mesma coisa, longe disso.

Há, também, o fator sorte.

E há, inevitavelmente, os deuses dos estádios. Os pobres de espírito desconhecem os deuses dos estádios, chamam a todos os eventos de sorte ou azar. Pobreza...

Esses deuses existem e são terríveis. Como os deuses gregos, sábios deuses gregos, são mais humanos que nós, humanos propriamente ditos. Isso porquê eles têm nossas paixões exacerbadas. O que é meramente humano em nós, neles transforma-se em divino. Paixões divinas. Com todos os poderes associados, é claro.

Não dá pra saber se os nossos deuses foram pra Porto Alegre junto com o time, de avião, ou se foram com torcedores, distribuídos por ônibus, cruzando o gelo sulista em plena madrugada. Todo deus é um gozador e um bon vivant. Sendo assim, quem garante que eles voltaram de Buenos Aires depois do nosso jogo e brilhante vitória contra o River?

Uma coisa sei com certeza: eles não foram pra Campinas, sábado, onde os meninos da reserva enfrentaram a Ponte Preta e foram derrotados por 1x0. Mas lá estavam os deuses chatésimos do Moises Lucarelli, aboletados em cima da trave do São Paulo, de onde manipularam a lambança entre nosso semi-deus Rogério e o jovem zagueiro Flavio. Do choque dos dois nasceu o gol da Macaca. E os mesmos deuses, com certeza, estavam em cima da trave do Lauro, goleiro da Ponte, quando o Rogério cobrou o pênalti que nos daria o empate ou, quem sabe, até a vitória. Rogério foi, cobrou e voltou, pois Lauro defendeu. E bem. Típico, típico produto da ação desses deuses.

Nessa altura espero que os bons vinhos de Buenos Aires tenham acabado. Assim como os melhores cortes de carne. Algo me diz que só assim pros nossos deuses voltarem. Mas pode ser que já tenham chegado em Porto Alegre. Afinal, como deuses, já sabiam desse desfecho e, por isso mesmo deixaram-se ficar em terras argentinas, esperando a hora de ir pro Rio Grande do Sul querido. O porquê disso não sei, já que não pagam passagem, não entram em filas, não apresentam documentos, nada disso, e podem ir e vir à vontade, sem problemas, sem aborrecimentos. Mas vá alguém querer entender os deuses... É capaz de virar história, mais um causo mitológico.

Já tentei escrever sobre os sentimentos em torno de uma partida de futebol. Não consegui, é muita areia pro meu caminhãozinho. E tivesse eu tamanha capacidade, estaria agora no Tahiti, gozando os merecidos lucros de alguma super-negociação com as forças do poder atual.

Não, que tolice escrevi. Magina... Estaria agora refestelado numa boa churrascaria porto-alegrense, comendo um churrasco, tomando duas taças de um bom tinto e mineral com gás Charrua. Voltaria pro hotel depois de passear pela Rua da Praia e ver as gaúchas elegantes, agasalhadas, bonitas. Um pouco de leitura, um pouco de tv, um muito de nervosismo, mais um pouco de leitura e tv. Colocaria a camisa do São Paulo sobre as camisetas, por cima uma blusa de zíper ou botão, pra ficar aberta e mostrar à gelada Porto Alegre que eu sou, sim, são-paulino, e por cima de tudo um bom casaco, já que o frio dessa noite é capaz de chegar aos 3 ou 4 graus. Impaciente, iria chegar ao Beira-Rio umas duas horas antes do jogo.

Depois, bom, depois não sei. Mas acho que iria tomar uma sopa quente naquela senhora que as servia de madrugada perto da óspa, ou OSPA – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Mas isso é coisa antiga, nem sei se existem ainda. Inclusive a OSPA. E depois, feliz, com certeza, de bem com a vida e com o mundo, iria pro hotel tentar dormir sem conseguir, já esperando pelos jornais de São Paulo, Rio, Porto Alegre. Todos saudando a brilhante vitória do Tricolor do Morumbi.

Ah, claro (pobre é fogo, né?)... Tudo que escrevi sobre ler e ver tv, misturem com navegando pela internet no meu poderoso notebook – sim, eu teria um poderoso notebook. Seria ainda mais feliz.

Como nunca conheci um ganhador de loteria, qualquer loteria, pra ter tanto dinheiro assim, ao ponto de trocar o Tahiti por uma gélida Porto Alegre, só mesmo tendo a capacidade e arte que têm certas pessoas para ganhar rios infindos de dinheiros diversos. Pena que eu não tenho, mas, pelo menos, continuo dormindo bem e acordando sem olho roxo e hemorrágico.

Dá-lhes, São Paulo!

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terça-feira, julho 05, 2005

Reflexões numa manhã de 2a-feira




É manhã de 2a-feira, o sol vai nascer em minutos, o oriente não é vermelho, mas alaranjado. Os galos ainda cantam. Todas as vacas estão deitadas, curtindo os últimos minutos de sossego antes da chegada de quem vai tirar-lhes o leite. E também dar comida. Algumas bezerras já estão de pé, comendo feno ou olhando pras mães, esperando a hora do leite. A passarinhada já está alvoroçada e começando a voar, conforme a luz vai ficando mais intensa. Essa manhã não tem névoa, o céu está limpo, escuro ainda e estrelado pro ocidente. Faz frio ainda, não tanto como na semana passada, mas o bastante pra exigir camiseta sob a camisa um blusão por cima de tudo.

Ontem, pleno domingão, meio cansado deixei para hoje a coleta de solo do pomar de laranja-lima para análise. Com preguiça de ir ao barracão buscar a “sete léguas” preta, saio com a minha botina de todo dia/toda hora mesmo.

É poético isso, sair de casa ao raiar do dia (que felizmente está raiando num horário civilizado, por volta de seis e meia) e ir pra roça. Balde com a sonda, saquinhos plásticos e um pedaço de caibro pra bater na sonda, até que penetre os vinte centímetros de praxe no solo. Se bater com marreta de ferro a sonda se parte, batendo com a madeira não tem risco. Tem que bater um monte de vezes, é verdade, mas a sonda não estoura.

O capim mais alto, apesar de pastado, as plantas daninhas que se multiplicam e surgem como moscas em churrasco, e as próprias laranjeiras, vão me encharcando. O orvalho acumulado escorre das folhas. Encosto sem querer num galho, agachado, e uma pequena chuva molha minha cabeça e pescoço. Gelada. No pomar, vou caminhando num ziguezague imaginário, parando aqui e ali pra coletar amostras. O ruído chato e agudo da madeira batendo na sonda metálica se espalha. Tivesse, ainda, alguma araponga por aqui, com certeza responderia às minhas batidas, imaginando ser o canto de uma companheira desafinada.

Sinto meus pés encharcados. O couro da botinha funcionou como uma esponja. A calça jeans pode ser torcida na horta. Tem água bastante pra irrigar uns pés de alface. Além dessa água do orvalho, tem minha própria água, pois já estou transpirando.

Alguém falou em poesia da manhã? Alguém falou em como é poético sair de casa ao raiar do sol para ir trabalhar na roça? Pois sim... Poesia mesmo, da boa, seria ficar na cozinha aquecido pelo fogão a lenha tomando café quentinho e vendo o nascer do sol, os passarinhos voando e cantando, etc e tal. O resto é trabalheira mesmo, nada poética.

Volto pra casa com as amostras de solo. Misturo-as e coloco em saquinhos plásticos. O laboratório vai dizer como está o solo do pomar de laranja-lima em termos de macro e micronutrientes. E vai determinar quanto e qual adubo deverei comprar. E comprar depressa, enquanto o dólar está baixo e o pessoal da soja não começou a fazer suas compras.

A cozinha está como eu sonhava no meio do pomar: quentinha, cheirosa e gostosa. Pego uma caneca de café e faço uma besteira: ligo a tv. Bem na hora do “Bom dia, Brasil”. Pior impossível. O imbróglio dessa manhã de 2a é sobre a matéria de capa da Veja que me espera em São Paulo desde sábado. O presidente do PT assinou um empréstimo bancário cujo avalista é o publicitário que manipula dezenas de milhões de reais pra comprar gado. Gado parlamentar, bem entendido. Penso em desligar a tv, mas... bobagem, desligar pra que? Enquanto como meu café da manhã, vou ouvindo. E pensando. Pego o carro e vou pra cidade, levar as amostras, devolver a sonda, comprar uma coisa e outra, usar o cheque do leite pra pagar a madeira usada na casa nova. E vou pensando, não na morte da bezerra – toc toc toc... ô citação besta! – mas em Genoíno e Delúbio (saco, o word não conhece Delúbio, tenho de voltar e acentuar; mais uma canseira que dá esse sujeito!). Penso em Willy Brandt. Nobel da Paz, um dos mais importantes e melhores políticos da segunda metade do século XX, Brandt, chanceler alemão, renunciou ao ser descoberto que seu assessor traía o país. Ele nada tinha a ver com isso, exceto pelo fato do sujeito ser seu assessor, mas foi o que lhe bastou. Renunciou. Genoíno, Lula, Zé Dirceu e outros muitos, dentro e fora do PT, em todos os partidos a bem da verdade, são pequenos, subdesenvolvidos moralmente. Não têm nenhuma grandeza.

Por um acaso, sábado li mais que a edição de esportes do jornal. Foi um descuido. E lá descobri que eu sou barato. Sou um produtor de vídeos barato e baratos. Eu sou barato. Meus produtos são baratos. Como cheguei a essa conclusão em pleno sábado no sítio? Simples: segundo investigações, uma produtora de vídeo do Mato Grosso do Sul fez um “áudio-visual institucional” de 3’ de duração e cobrou por ele a bagatela de R$ 252.000,00 através de uma nota fiscal bonitinha e certinha. Isso mesmo: duzentos e cinqüenta e dois mil reais. Ora, com esse dinheiro eu faria uns 20 desses “áudio-visuais” e daria risadas de março a dezembro, só cuidando do sítio. Leitura vai, leitura vem, muito instrutiva como se vê, descubro o pulo do gato: junto com outra nota no valor de quarenta e oito mil, totalizando, portanto, a bela quantia de trezentos mil reais, era a sexta parte de um pagamento total de um milhão e oitocentos mil reais a serem pagos por uma empresa do grupo Peralta para o PT de Mauá, na Grande São Paulo. O negociador da peraltice foi o tal de Garreta, ex-secretário de dona Marta Suplicy e já envolvido em outras denúncias aqui na megalópole. Oficialmente (pode-se dizer isso de algo feito por baixo dos panos?), o dinheiro destinar-se-ia à eleição de Marta e à reeleição do prefeito de Mauá. Em troca de tão agradável mimo, a administração petista da pujante Mauá facilitaria a vida dos peraltas Peralta, num projeto de grande porte na cidade. Além, é claro, de alguns benefícios e isenções fiscais. Bom, isso explica a nota, é claro, pois um “áudio-visual de 3’ de duração” por toda essa grana... só de brincadeira ou corrupção pura.

E assim fui pra cidade, pensando nessas coisas. Paguei a conta da madeira com o cheque do leite e a ajuda de algumas cédulas, pois o leite não bastou. Peguei mais farelo, pra aproveitar o preço só meio alto, conversei com o veterinário sobre um dos “peitos” da Alba, cujo colostro tá meio avermelhado (coisa simples, basta uma injeção de vitamina K e pronto), namorei uma pickup pequenininha mas ajeitada, que cairia como uma luva pros meus vai-e-vem megalópole/sítio, mas que tá fora do alcance do meu bolso, mesmo usada, e fui embora, pensando em como seria bom trabalhar pra esse povo que paga bem sem reclamar que tá caro, sem pedir pra reduzir os custos. Ah, esses meus clientes muquiranas! Bom mesmo é trabalhar pra bom pagador como o Marcos Valério.

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